— Eu me perdi de você e Hefesto gentilmente me trouxe de volta — minto sem hesitar.
Ares fica calado por um momento, a raiva exala dele de tal forma que eu quero arrumar uma briga agora mesmo. Tento me concentrar no que eu realmente quero e não me deixar ser afetada pela aura do deus.
— Canalha — quase rosna como um animal — sempre ele... Sempre...
— Sempre ele o quê? — pergunto, curiosa com a fofoca, já que é o que me resta agora. Me sento novamente.
— Roubando quem eu quero — conta o deus da guerra. Não sei, mas... Algo em sua forma de falar dá a entender que aconteceu mais de uma vez. Então me arrisco.
— Já aconteceu outras vezes?
— Sim — se joga ao meu lado, tirando os óculos escuros e colocando de lado. Esfrega os olhos, parecendo cansado. Tiro os saltos e me sento de frente para ele, fazendo meu vestido cobrir tudo.
— Afrodite, claro.
Ele assente e encara o chão, suspirando.
— Mas não começou com ela — suponho, continuando o assunto.
— Não, houve... — seu olhar fica vago e ele parece se perder em lembranças, até que foca novamente e me olha, sem dizer nada.
— Está tudo bem — quebro o silêncio — memórias podem ser difíceis, eu sei.
— Sim — é tudo que ele diz.
Me dou conta então que seus olhos não estão mais em chamas. Um par de olhos castanhos sem um pingo de fúria combinam muito mais com ele.
— Você tem olhos bonitos, deus da guerra — elogio.
Ele parece sem graça, o que me faz sorrir, achando fofo. Ares envergonhado! Quando eu pensei que veria isso?
— Não recebe muitos elogios? — pergunto.
— Não sobre meus olhos — sorri sarcástico — eles geralmente metem medo em todo mundo. Vermelho não é exatamente popular como azul ou verde.
— Eles estão castanhos agora — observo.
Isso parece deixá-lo um pouco surpreso.
— Eu não sou só deus da guerra — explica — mas do companheirismo também.
OK, agora ele tem minha total atenção.
— O quê? — é impossível disfarçar minha surpresa — eu nunca ouvi falar disso.
— Claro que não, ninguém quer saber de um deus da guerra que não seja um completo babaca — revira os olhos — mas na guerra também surgem coisas boas e companheirismo é uma delas. E minha mãe é deusa da família, então... — dá de ombros.
— Faz sentido — comento — mas por que seus olhos mudaram de cor agora?
— Porque houve companherismo entre nós — sorri e é sincero e puro — geralmente fico no modo deus da guerra vinte e quatro horas. Entretanto, às vezes, posso relaxar e ser... — pensa um pouco — eu.
Me sensibilizo com ele. Porém só um pouco. Ele ainda é Ares e ainda é um deus.
— Então você é um bom garoto no final das contas? — brinco, tentando descontrair a conversa.
— Ah, raio de sol — Ares se aproxima, seu sorriso malicioso — nem um pouco.
Meu coração acelera, mas mantenho a expressão leve. Ele não diz mas nada, apenas me encara.
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Deu a louca no Cupido | PJO
FanfictionEros sempre foi um bom Cupido, empenhado em orgulhar sua mãe, Afrodite. Seguir a lista que ela lhe dá todos os dias é fácil. Fazer umas pessoas se apaixonarem aqui, se amarem ali, um ciuminho nela ou uma invejinha nele. No geral, ele sempre acerta o...