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Praticamente corro até o templo de Apolo, querendo aproveitar que ele ainda está entretido com os outros deuses. Como não lembro bem onde estive, vou andando pelo lugar luxuoso e agradeço aos céus por Apolo colocar placas com setas do tipo "Enfermaria". Reconheço a música Rendezvous do Little Mix aumentar de acordo com que eu me aproximo de uma sala de estar. É uma daquelas de ricos, com sofás e tapetes caríssimos enfeitando o ambiente. Daquelas que ficam em um cruzamento de corredores, como um lugar para ter uma pausa depois de andar muito pela mansão.

— Mas que porra é essa? — Grito em português, indignada com a visão que tenho ao entrar completamente na sala.

Apolo e a ninfa que me serviu mais cedo estão no tapete em uma posição que deve estar nas páginas do Kama Sutra como nível avançado. Eles paralisam com meu grito, enquanto Little Mix continua tocando tranquilamente, um pano de fundo agradável para a situação catastrófica em que me encontro.

— Se importa de esperar enquanto eu termino, filha? — Apolo me pede, sem ao menos me olhar, concentrado.

— Oi — a ninfa acena para mim, mas logo para, já que precisa das duas mãos.

— Finjam que eu não estou aqui — digo, me recuperando do susto e procurando desesperadamente por mais placas — e eu faço o mesmo.

Sigo uma placa até a enfermaria, sentindo meus nervos a flor da pele. Se eu pudesse apagar minha memória agora, eu apagaria. Sem pensar duas vezes.

Foi tão nojento. Tão estranho.

— Ei, Solari! — A voz de Apolo atrás de mim me faz tropeçar de susto.

— Não fala comigo! — Mando, transtornada. Imediatamente a imagem do seu corpo perfeitamente esculpido, naquela posição, me vem à mente. Eu nunca deveria ter visto aquilo. Nunca. Estou traumatizada pela eternidade.

— O quê? Não me diga que ficou nervosa com aquilo. Foi só sexo — dá de ombros, me alcançando.

— Eu não sei se você se lembra, mas apesar dos pesares, é meu pai. Eu vi você fazendo sexo! — A frase quase não sai, de tanta vergonha.

— Édipo curtia essas coisas — faz piada — e você é prima dele em algum grau, então fica esperta para desejos diferentes que talvez eu tenha despertado...

Como alguém pode ser tão sem noção?

— Que nojo, cara! — Reclamo — seu humor está quebrado. Seco. Podre!

— O quê? Meu humor é incrível. Eu sou o rei das festas — se ofende, frágil como é — seu humor está quebrado, seco e podre.

— Meu humor é incrível — imito ele, zombando.

— Viu? — Aponta para mim como uma criança mimada — nada divertida.

Algo em mim estoura, cansada de Apolo. Eu mal conheci ele há algumas horas atrás e preferiria quando nunca tinha o visto. Nunca pensei que ele pudesse me decepcionar mais, porém Apolo tem esse dom. Ele sempre pode me decepcionar mais.

— Eu sou divertida! — Fico mais agressiva, apontando o dedo para sua cara com raiva — o problema, Apolo, é que eu vivo soterrada de responsabilidades, o que me impede de ser descontraída o tempo todo. Já se preocupou em alimentar alguém além de si mesmo? Tomar decisões difíceis e lidar com as consequências delas? Colocar outras pessoas em primeiro lugar sempre? Se o dinheiro ia dar até o final do mês? Se ia conseguir colocar todos que ama para dormir em uma cama em vez do chão? Lidar com crianças machucadas tanto emocionalmente quanto fisicamente? Explicar para elas que seus pais não as amam e nunca vão se importar com elas?! Que talvez você seja o único elo paterno que elas terão na vida e você nem ao menos sabe como vai fazer para amá-las certo, porque você nunca teve esse amor!

Deu a louca no Cupido | PJOOnde histórias criam vida. Descubra agora