04

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— Perdão?

Encaro Ares com confusão e uma pitada de pânico. Por que o deus da guerra está me tratando assim?

— Como está se sentindo? — ele repete, calmamente. O deus da guerra está calmo.

— Bem — minha resposta sai quase como uma pergunta. Eu estou estática.

— Ela precisa de espaço, Ares — Apolo revira os olhos — cai fora.

Me surpreendo um pouco por ele agir quase como... Uma pessoa normal.

— Ela precisa de mim — retruca Ares.

— Eu nem ao menos conheço você — rebato, indignada — e não gosto que ninguém diga o que eu devo ou não fazer.

Em vez de parecer ofendido, ele sorri.

— Gosto disso — faço uma careta com essa frase.

Antes que eu possa dizer algo, um homem entra no quarto. Ele veste roupa de carteiro e isso já entrega quem é. Hermes, suponho.

— Hera quer vê-la — avisa, olhando curioso para mim. O deus parece me avaliar de cima a baixo, então ergo mais o queixo.

— Por quê?

— Porque ela é fofoqueira — dá de ombros — Demeter já está lá e pediu para chamar Atena, que com certeza vai chamar Artemis, que por sua vez vai arrastar Hestia com ela.

— Isso vai se tornar um espetáculo — geme Apolo, colocando as mãos na cabeça — um de péssima qualidade, com atraso na abertura e o pior lugar na plateia.

— Eu vou levá-la para o meu templo, ela precisa descansar — Ares se levanta e eu me afasto um pouco. Seu tamanho é intimidante.

— Eu não vou a lugar nenhum com você, — rebato, acrescentando depois — senhor.

Antes que Ares possa retrucar, Apolo toca em seu ombro.

— Ela precisa se arrumar para encontrar Hera. Depois vocês se resolvem — diz, com uma pontada de impaciência.

— Você sabe que a rainha das rainhas não gosta de esperar — Hermes apoia Apolo, com uma pitada de deboche.

Ares então assente e me olha uma última vez antes de sair. Hermes e Apolo vão atrás dele. Me levanto em um pulo, minha mente tentando achar uma saída, mas a porta é aberta novamente.

— Senhorita Souza — a ninfa de antes entra saltitante, parecendo alegre — fui incumbida de ajuda-lá a se trocar para se encontrar com a soberana. Creio que o tempo não está ao nosso favor, mas podemos lidar com isso.

Decido não resistir enquanto ela pega um frasco e pinga apenas uma gota em cima da minha cabeça. Automaticamente, é como se eu tivesse tomado um banho. Estou limpa e fresca, meu cabelo está úmido. A ninfa então pega um vestido no enorme guarda-roupa e um par de salto. Até mesmo das minhas roupas íntimas tenho que abrir mão por novas. Não crio caso, me vestindo e sentando obediente em frente a penteadeira, onde meu reflexo faz meu coração acelerar.

Como pode eu não parecer comigo mesma?

Quer dizer, o essencial ainda está aqui. Mas tudo parece... perfeito. Meu cabelo está mais brilhoso do que nunca, minha pele não parece ter nenhum defeito, minhas cicatrizes parecem ter desaparecido. Meus olhos... Me inclino mais para o espelho — recebendo resmungos da ninfa, que faz um elaborado penteado em meu cabelo — fitando com curiosidade meus olhos. Antes, eles eram castanhos com pequenos pontos dourados e já me disseram que às vezes em luta, eles se tornam completamente dourados. Mas agora... Eles continuam castanhos, porém mais claros. Os pontos dourados ainda estão aqui, só que agora eles dividem espaço com pontos... rosados? Me inclino mais ainda, sem acreditar. Pequenos pontos rosados...

Deu a louca no Cupido | PJOOnde histórias criam vida. Descubra agora