Capítulo 03

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EDA

Sorri comigo mesma contente por ter escolhido um par de tênis ao invés de uma sandália rasteira visto que os ladrilhos que me guiavam até ao meu próximo destino não eram antiderrapantes.

"Casa di Giulietta" ou Casa de Julieta em Verona é um lugar especial que virou atração turística, trazendo à tona uma verdadeira lenda urbana. Paguei os seis euros para a entrada e admirei a minha volta, a casa remontava uma das cenas mais famosas do livro Romeu e Julieta, na qual Julieta está na sacada declamando seu amor por Romeu.

Segui caminho até o pátio da casa, observando a multidão ao meu redor, fascinada com a diversidade dos visitantes que vinham de alguma parte do mundo, assim como eu.

No canto do pátio, residia uma belíssima estátua reluzente da Julieta, onde os visitantes tocavam em um de seus seios, na esperança de dar vida a lenda: aqueles que tocarem no seio direito da Julieta Capuleto teriam boa sorte na vida e no amor.

Me aproximei da estátua quando a multidão finalmente se dispersou e também toquei o seu busto, convicta de que Julieta certamente dará sua benção para o meu amor e o de Deniz.

Ouvindo alguns sussurros e grunhidos os quais mais pareciam lamentos, minha atenção foi desviada para um amontado de pessoas em frente a uma parede antiga de tijolos, onde papéis coloridos de diferentes tamanhos e formatos pendiam sobre a superfície. Cheguei perto o bastante para reconhecer os papéis como cartas, alguns protegidos por envelopes.

Nos bancos do pátio, dezenas de mulheres escreviam assiduamente em papéis usando suas coxas como apoio, as emoções variavam conforme cada face que eu encarava: reconheci palavras de baixa calão vindas de algumas, outras sorriam , mas muitas... Choravam.

Uma garota perambulava em direção a saída, seu rosto angelical estava vermelho enquanto lágrimas marcavam suas bochechas proeminentes e o meu coração se apertou com a visão.

— Você está bem? — Usei meu inglês do cursinho.

— O Paolo! — Ela gritou, fazendo-me dá um pulinho de susto.— Estou com tanto medo! Como viverei sem ele?— A garota saiu cambaleando, me deixando em choque para trás e pus minha mão no coração, impotente e me compadecendo com a sua dor.

— Por que? Alguém me diz o por quê! — Ela gritava enquanto se afastava.

A emoção daquela garota atrelada ao lugar, trouxeram sentimentos estranhos ao meu íntimo. Era algo desconhecido, mas ao mesmo tempo... Comovente.

Sentei-me no banco como as outras pessoas e retirei meu caderno e caneta da bolsa, começando a escrever e a fazer observações sobre tudo aquilo ao meu redor. De repente, um encantamento tomando conta de mim.

A medida que as horas foram passando, me perdi na escrita como há muito tempo não fazia. A movimentação das pessoas esmaecendo aos poucos, até eu me encontrar completamente sozinha no ambiente.

Pouco tempo depois, uma mulher segurando uma cesta de piquenique apareceu e começou a retirar os papéis que ali estavam.

Estranho. Pensei. Ela não estaria roubando-os, estaria?

Quando a parede ficou vazia e a mulher começou a se afastar, não pude conter o meu instinto de curiosidade, eu estava ávida para saber o que aconteceria com todos aqueles sentimentos registrados em tantos pedaços de papel. Em minha defesa, eu ainda era uma checadora de fatos barra detetive, afinal.

E a antes que eu me desse conta, eu a estava seguindo.

Apertei o passo e passei por um beco estreito que dava para uma enorme praça residencial, a mulher da cesta caminhava em direção a um restaurante, onde outras três mulheres pareciam estar a sua espera em uma das mesas. As desconhecidas a cumprimentaram rapidamente e não tardaram a adentrar o  casarão.

Cartas para Julieta| EdSerOnde histórias criam vida. Descubra agora