Capítulo 09

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EDA

— Essa viagem não seria a mesma sem você. Estamos tão felizes que se juntou a nós, Eda querida! — Aydan ergueu a sua taça de vinho para mim em um brinde, ao passo que Serkan soltava um muxoxo no assento ao seu lado.— Não é, Serkan?

— Sim, mamãe. Muito felizes.— Ele resmungou.

— Eu posso ver.— Sorri debochada, enquanto desfrutava de um gole da minha bebida.

Havíamos progredido bastante em nossas interações, se considerarmos a falta de xingamentos e maldições que lançávamos um para outro. Mas ainda assim, era impossível segurar algumas implicâncias.

Por Deus, Serkan Bolat era extremamente presunçoso e irritante. Ele refutava cada frase minha, me questionava sobre tudo e parecia em deleite ao me ver com tanta raiva acumulada em sua direção. Ainda que tenha magicamente se mostrado um pouco mais civilizado nos últimos dias.

— Boa noite, signora e signore.— O garçom com um bigode engraçado se aproximou de nós.— Já sabem o que vão pedir?

Noites como essa durante cada dia da semana, tornaram-se um momento sagrado em nossa rotina caótica na estrada. Nós — o trio de ouro, apelido carinhosamente dado por Aydan — saíamos para jantar juntos e ríamos ao relembrar os acontecimentos inusitados do dia ou da semana.

Todo dia era uma história nova, momentos novos que ficariam marcados para sempre em nossas mentes e corações. E no meu caso, também na escrita. Eu fazia questão de registrar cada detalhe, cada pequeno momento e, as vezes, me pegava relendo cada linha e sentia meu peito aquecer com o ato, uma sensação prazerosa.

O sentimento de pertencimento que me inundava ao lado dessas duas pessoas que conhecia há tão pouco tempo, era o sentimento mais certo que poderia haver.

— Um risoto de pera e gorgonzola, per favore. — Aydan sorriu, passando o cardápio para mim e pedindo licença rapidamente para ir ao banheiro.

— Uma salada caprese para mim. — Serkan respondeu simplesmente, enquanto eu ainda analisava as opções com atenção.

Minha vontade mesmo era de pedir a tradicional lasanha à bolonhesa, porém, eu havia feito o mesmo pedido na noite anterior e a outra anterior a esta. Como eu experimentaria todas as delícias culinárias dos pratos italianos se continuasse a pedir mais do mesmo?

Senti algo suave tocar o espaço entre as minhas sobrancelhas e me deparei com Serkan fazendo um pequeno movimento na região com seus dedos: indicador e médio, desfazendo o pequeno vinco em minha testa.

Seus olhos verdes brilhavam e estavam vidrados em cada pedacinho do meu rosto, com um sorriso ladino despontando em seus lábios.

— Peça a lasanha à bolonhesa que tanto quer, Eda.— Ele soltou e eu me perguntei bobamente se ele havia desenvolvido a habilidade de ler mentes e logo decidi não chama-lo mais de idiota, todavia só o fato de pensar sobre, o faria saber mesmo assim. Me bati mentalmente com o rumo dos meus pensamentos estúpidos.

— Você falou disso o dia todo. De como provavelmente esse havia se tornado o seu prato favorito do mundo inteiro.— Ele deu um sorriso com todos os dentes percebendo a minha confusão.— E de como não podia esperar para provar de novo.

Pisquei surpresa.

— E-eu...— Pigarrei, tentando encontrar minha voz.— Eu não sabia que você tinha prestado atenção.

— Eu presto atenção em tudo o que você diz.— Ele disse genuinamente satisfeito.— Não se preocupe, temos tempo o suficiente para desfrutar de todos os pratos possíveis que você desejar.

Cartas para Julieta| EdSerOnde histórias criam vida. Descubra agora