Capítulo 08

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Eda
Quarta semana

De volta a estrada, meus olhos passeavam pelas frases soltas do meu diário que eu outrora escrevera, na esperança que desenvolvesse uma maior conexão entre elas futuramente.

"Não era o nosso Kemal."

"Aydan está esperançosa com a ideia de procurá-lo por toda a região de Volterra e, confesso que eu também. Ela é tão positiva."

"Quanto á Serkan... Bem, ele provavelmente envelhecerá mais cedo se não parar de soltar maldições a cada quilômetro rodado."

No momento, ele e eu observamos Aydan jogar uma partida de poker em um bar, rodeada de admiradores que lhe pagavam bebidas toda vez que o seu copo se encontrava vazio.

Ela ria radiante, uma luz em meio a atmosfera carregada de álcool e testosterona, ainda que por vezes eu capturasse um pequeno vislumbre de decepção em suas íris esmeraldas.

— Não era ele. — Ela contou com um sorriso o que eu já sabia, quando se aproximou.— Mas ainda assim, recebi muitos convites para voltar.

— Esses italianos são muito assanhadinhos, não acham? — Serkan bufou.— Aonde já se viu, fazer convites cheios de segundas intenções para a senhora.

— E por que eles não o fariam? — Aydan cerrou os olhos para ele.— Como pode ver, eu não estou morta!

— Adoraria saber o que o verdadeiro Kemal acharia disso, mamãe.

— Oh, então agora você se importa com o Kemal? — O provoquei e ele fechou a cara.— Fico feliz que esteja planejando uma conversa com o homem da vida de sua mãe.

— Eu sou o homem da vida dela.

— Claro, claro.— Zombei e meu olhos se arregalaram quando avistei o que Aydan tinha em mãos.— Mas o quê?!

— Oh, isso.— Ela riu, levantando a mão para que nós pudéssemos ter uma melhor visão do rolo de dinheiro que segurava.— Eu só jogo para ganhar. — Ela levantou o queixo, orgulhosa.— Sabe, apesar de eu ser bem resistente para bebida, acho que um café seria ótimo para me ajudar com os efeitos de tanto álcool em minha corrente sanguínea. Que tal?

— Oh, não! — Fui a primeira a dizer.— Quer dizer, podemos encontrar algo para você. Mas depois de experimentar tantos cafés ao lado do meu noivo, acho que meu paladar não consegue mais sentir o gosto de cafeína sem querer vomitar.

Senti o olhar de Serkan em mim. A sua boca era uma linha fina. E então, ele apenas se virou e começou a andar. Em completo silêncio.

— Serkan só está com inveja que você recebeu bebidas grátis, enquanto ele tinha que aguentar a minha ilustre companhia.— Cochichei para ela, vendo seu filho entrar no carro.

— Oh, querida.— Ela meu deu um olhar conhecedor.— Eu duvido muito que seja isso.

...

Aguardávamos em pé no cais, esperando a lancha atracar em segurança no porto. Ao meu lado, Aydan mordia o lábio inferior ansiosa.

— Uh! — Serkan riu alto.— Aquele ali que é o seu Kemal? — Seus olhos lacrimejavam.— Com certeza você não se apaixonou por seu físico atlético, mamãe.

Inclinei a cabeça para o lado, estudando a figura magra usando apenas uma pequena sunga e uma camisa de botões da cor de um amarelo vivo, completamente aberta, de óculos escuros e um sorriso sacana para as passageiras que ele ajudava a descer da embarcação, demorando bastante o seu olhar em certas partes dos corpos das turistas.

Cartas para Julieta| EdSerOnde histórias criam vida. Descubra agora