Capítulo 12

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EDA

— Ok, já chega.— Tentei puxar mais uma vez, sem sucesso, meu caderno que residia todas as minhas ideias, conceitos e desenvolvimentos da viagem das mãos enormes de Serkan.

Seu olhar era concentrado, como se não pudesse deixar passar uma só palavra sequer, querendo absorver tudo por completo. E o vinco entre as sua sobrancelhas o deixava malditamente adorável.

Ele me ignorou outra vez e deu uma grande mordida no seu sorvete de cereja.

— Aí! — Serkan colocou o caderno sobre a mesa e fui rápida em pega-lo de volta.— Isso é gelado!

— Oh, jura?

Ele fez um biquinho ofendido ao passo que levava sua mão livre para massagear a têmpora esquerda.

— Meu cérebro congelou.

— Isso é para você aprender a não chantagear as pessoas.— Dei uma lambida despreocupada em meu sorvete de limão.

— Mas olha...— Serkan levantou a tela agora desbloqueada do seu celular, em que dezenas de fotos minhas se espalhavam por sua galeria.— Você conseguiu o que queria, não é?

— É, as fotos ficaram boas. Mas de qualquer forma,— estalei a língua no céu da boca.— são minhas por direito.

— Não se esqueça que estão em minha posse.— Ele revirou os olhos, divertido.

— Por enquanto.

Serkan sorriu por um momento, me analisando de uma forma que eu não pude dar nome ao que se refletia em suas feições.

— O quê? — Arqueei a sobrancelha em questionamento.

— Você escreve muito bem.

Sorri, sentindo algo quentinho começar a se espalhar pelo meu peito e atingir todas as terminações do meu corpo. Como era bom ouvir outro alguém elogiar algo que você faz com tanto carinho e esforço, e ser reconhecida por isso.

— Obrigada.

— Não! Eu quis dizer que você escreve realmente bem.— Serkan fez um gesto esquisito com as mãos para frisar o que dizia.

— Por quê está tão surpreso com isso? — Juntei as sobrancelhas encabulada com o seu tom de voz enquanto ele arfava.

Serkan me respondeu com outra pergunta.

— Por quê nunca mostrou seu trabalho para ninguém?

— É complicado.— Suspirei, desviando os olhos de sua figura e relembrando das minhas tentativas fracassadas do passado.— Nunca acho que terminei.

Serkan parecia genuinamente confuso.

— Por quê?

— Hm... Sou um pouco perfeccionista.

— Isso é um jeito diferente de dizer que está com medo.— Ele me lançou um maldito olhar de sabichão.— Escuta, você não precisa ter medo. Você é talentosa! Não é uma checadora de fatos, é uma escritora!

Serkan sorriu, curvando seu corpo sobre a mesa em minha direção, me analisando de uma forma tão fervorosa que eu prendi a respiração, com medo que ele percebesse o quanto ela ficava descompassada quando ele estava por perto.

Eu não era capaz de suportar o peso de olhares tão intensos e, a fim de escapar dessas sensações tão estranhas, olhei para o sorvete em minha mão e em seguida para o rosto de Serkan e, fiz a primeira coisa que passou por minha mente.

Cartas para Julieta| EdSerOnde histórias criam vida. Descubra agora