Capítulo 13

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EDA

As gotas de chuva batiam violentamente contra a minha janela. A tempestade controlada ao lado de fora transformava o cenário que eu me encontrava ainda mais deprimente.

Sozinha na cama em meu quarto de hotel, minhas lágrimas embaçavam a tela do computador outrora nítida no meu campo de visão.

Os traços do homem trajando roupas luxuosas, rindo com terceiros e brindando xícaras de cafés fumegantes eram inconfundíveis. Mas a razão da meu choro nada tinha a ver com isso. Tinha a ver com o fato desse mesmo homem estar com uma mulher em seu abraço. Uma mulher que não era eu.

Fechei a janela do site de leilões regionais italianos onde a foto de Deniz e sua traição brilhavam em cores vivas como uma piada de mau gosto, e olhei para o horário no canto do monitor. Já se passavam das duas da manhã.

Me vi tentada a pegar o meu celular e telefonar para ele, para afronta-lo, para pedir explicações, para entender o porquê.

Porém, além de eu estar mentalmente arrasada, bem lá no fundo, eu esperava dormir e acordar percebendo que tudo isso não havia passado de um maldito pesadelo. Quais seriam as chances disso acontecer, afinal?

Entretanto, como disse Ted Mosby em How I Met Your Mother: "depois das 2 da manhã, apenas vá dormir. As decisões tomadas depois desse horário são decisões erradas."

Como eu me recusava a perturbar o sono se Leyla sendo tão tarde, o mundo dos sonhos se tornou a válvula de escape que me restava.

Fechei a tela do computador em um baque surdo e o coloquei de lado. Sem forças para me levantar e colocá-lo para longe de mim, ainda que isso fosse da minha vontade.

Deitada em posição fetal, deixei que o som da carga d'água projetada pela natureza me embalasse em meu sonho como uma cantiga de ninar.

Funguei mais uma vez, passando as costas da minha mão para limpar o corrimento do nariz e acabando por tocar a umidade presente em minha face, esta última me irritou tanto ao ponto de eu esfregar o meu rosto com força, passando a roupa de cama por ele com raiva a fim de enxugar a exteriorização dos meus sentimentos que se refletiam no líquido salgado.

Eu me recusava a dormir chorando por ele.

...

Na manhã seguinte, observei minha imagem cansada pelo reflexo do espelho do banheiro.

Olheiras profundas evidenciavam a minha má noite de sono, meus olhos vermelhos e inchados mostravam os resultados das lágrimas, apesar da minha tentativa de controle.

Suspirei fundo antes de sair do quarto, mas não antes de conferir a minha maquiagem que camuflaria toda a minha bagunça externa pelo restante do dia e abrir o meu melhor sorriso.

Nem Serkan, nem Aydan faziam ideia do motivo que fizera trancar-me no quarto e não aparecer para o jantar na anterior.

Eu não queira deixar que meu estado atrapalhasse a viagem e todas as colheitas frutíferas que poderíamos conquistar com isso.

Aydan provavelmente iria pedir para que eu ficasse no hotel, ou até mesmo desistiria de ir em sua busca para me consolar todo o tempo, dando-me colo e o seu calor, como uma mãe faria.

Enquanto a Serkan... O ruivo era uma incógnita. Nunca sabia o que ele faria ou falaria. Na maior parte do tempo, ele parece testar-me, tem o poder de tirar o pior para fora de mim, mas também tem o poder de me fazer sorrir com qualquer aleatoriedade que diz, transformando o assunto mais desinteressante á uma preciosidade encantadora ou o melhor alívio cômico possível.

Cartas para Julieta| EdSerOnde histórias criam vida. Descubra agora