Capítulo 14

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SERKAN

Observei a figura de Eda partir, cabisbaixa, para longe de mim e contive a vontade de correr para puxa-la de encontro aos meus braços.

Mas eu não podia. Nenhum de nós podíamos.

Em toda minha vida, sempre agi metodicamente em prol dos meus interesses. Era assim no trabalho, em casa e nos meus antigos relacionamentos.

Porém, desde que conheci Eda com seu jeito impetuoso e assustadoramente sexy, me vi perdendo a sanidade e agindo de uma maneira desconhecida para mim, até então.

Ela tirava o melhor e o pior de mim, sem nem ao menos tentar. Eda olhava-me com aqueles olhos cor de chocolate de uma maneira tão intensa que eu sentia meu coração palpitar como se estivesse prestes a pular para fora do meu corpo, sentia-me completamente despido, não no sentindo literal, mas sim como se minha alma estivesse exposta.

Quando Eda olhava para mim... Era como se ela realmente me conhecesse.

Nunca experimentei nada assim. Como se meus pensamentos estivessem concentrados em uma única pessoa na maior parte do tempo, como se uma sensação incômoda no peito apenas desse trégua se eu tivesse esta pessoa ao meu lado.

Eu desconfiava do que estes sintomas poderiam ser. Mas recusava-me a acreditar. Eu não podia alimentar tal coisa.

Porque eu não podia ter Eda.

Toda essa viagem foi completamente não planejada, nem ao menos soube que viria até eu mesmo comprar a minha própria passagem e ir atrás de mamãe no avião.

Ela havia comentado sobre Kemal para mim nos últimos dias antes da viagem, mas foi de forma tão vaga que eu realmente achei que ela só estivesse visitando uma velha lembrança, assim como nos lembramos do nosso primeiro dia de aula ou algo do tipo.

Mas não. Ela havia recebido uma carta que aflorou todos os seus sentimentos sobre o passado e que lhe entregou esperanças para o futuro. Todavia, ainda sim, o presente poderia ser absurdamente doloroso caso as esperanças fossem arrancadas de seu peito.

E assim que eu vi a expressão de dor de mamãe enquanto ela encarava a lápide do, até então, nosso suposto Kemal... Suas feições contorcidas pareciam mostrar como se ela o estivesse perdendo novamente. 

Eu já tinha visto essa expressão uma vez.

Meses depois da morte do meu pai e do meu irmão, quando fomos ao cemitério trocar as flores murcham que eles recebiam por novas. Foi a primeira vez que mamãe saiu de casa depois do ocorrido.

Por isso, eu estava tão contra a tudo. Reviver tantas perdas só tornam mais difíceis as tentativas de supera-las. Eu não podia deixar que mamãe passasse por tudo aquilo novamente, toda a sua reclusão para o mundo e sua consequente solidão. Entre remédios para dormir e sua falta de luz, eu tinha visto o seu pior durante aqueles tempos... E fiquei com medo de perdê-la também.

Mamãe era teimosa, mas sabia que ela tinha consciência que eu só queria protegê-la. Mas Eda não sabia disso. De nada disso.

Um vento forte me fez estremecer e senti meu estômago embrulhar ao me dar conta do que acabara de fazer. Suspirei, sentindo-me esgotado. Remoendo  suas íris castanhas magoadas olhando-me com tanta... Resignação. Parecia que ela aceitava a situação, tal como se merecesse ou... Como se entendesse.

Ela devia me achar o homem mais repulsivo que já habitou este planeta. E sinceramente? Eu concordaria com ela.

Levantei o olhar e encontrei os olhos verdes de mamãe encarando-me, assustadoramente irritados, mas ainda sim, preocupados. E este último termo característico enviou-me um calafrio de nervoso.

Cartas para Julieta| EdSerOnde histórias criam vida. Descubra agora