Capítulo 10

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EDA

As paisagens ao meu redor eram apenas um borrão seguindo a velocidade do carro.

Meus olhos se voltaram para frente e foquei na figura de Aydan encolhida no assento. Inclinei meu corpo para frente do banco do carro e apertei o ombro de Aydan suavemente, na tentativa de lhe transmitir um pouco mais de força e apoio. Ela, por sua vez, agarrou minha mão em uma carícia lenta, como se fosse uma âncora lhe mantendo segura das correntezas do mar.

Depois de mais algumas visitas, os números de possibilidades de Kemal's estavam decaindo, e por mais que doesse dizer, nossas expectativas também.

Serkan me olhou de soslaio enquanto dirigia, parecendo analisar a situação, mas nada disse. Era como se ele estivesse se segurando para falar algo, o que se confirmava ao observar suas mãos grandes apertarem com uma força além do normal o volante do automóvel.

— Ainda não acabou.— Falei, dando o que eu esperava ser um sorriso encorajador para Aydan.

Isso pareceu surtir algum efeito, visto que ela abriu um de seus mais brilhantes sorrisos e apertou minha mão ainda sobre seu ombro com um pouco mais de determinação.

— É claro que ainda não acabou.

...

Já era noite quando o serviço de quarto bateu na minha porta e eu permitir a sua entrada.

Acompanhei com o olhar o garçom uniformizado de branco e azul, enquanto ele organizava o carrinho de comida e colocava os aperitivos em ordem numa bandeja prateada. Assinei a conta que ele me estendeu, sorrindo agradecida e saquei uma cédula de 20 euros para lhe dar como gorjeta.

— Como eu amo esses turistas.

— O que disse? — Respondi incerta do que o ouvi sussurrar.

— Aproveite as comidas.— Ele deu um sorriso sem graça, guardando a nota do bolso e saindo rapidamente.

— Hm, grazie.— Dei de ombros, em meio ao silêncio para ninguém em específico.

Dividi meu olhar entre a tela do computador e o meu caderno de viagem, relendo as minhas anotações manuais e digitando, de forma mais completa, o desenvolvimento de toda essa aventura.

Suspirei, sentindo a dor nas costas voltar em outra onda, só que dessa vez bem mais forte. A posição que eu estava, sentada em frente a uma mesa de madeira por longas horas a fio, enfim estava cobrando o seu preço. Eu não poderia deitar e escrever na cama, certamente eu dormiria sem ao menos perceber.

Em compensação, era como se existisse mil agulhas me espetando, seguidas de um doloroso formigamento, para logo depois o ciclo se repetir. Balancei a cabeça de um lado para outro, determinada a suportar a dor da posição desconfortável e terminar de escrever, pelo menos, mais uma página.

— Olá!

Escutei a voz de Serkan se aproximando e inclinei meu corpo para o lado, a fim de me enquadrar no seu campo de visão enquanto ele me alcançava.

— Oi! — Me levantei.

— Desculpe, mas acho que alguém deixou a porta aberta.— Ele continuou e eu amaldiçoei mentalmente o garçom. Poxa, tinha lhe dado uma gorjeta bem bacana e ele nem ao menos fechou a porta? Serkan arqueou as sobrancelhas em minha direção e deu um sorriso convencido pela minha reação, para enfim prosseguir.— Um perigo, a propósito. Ainda bem que eu estou aqui para salvar o seu dia, ou melhor, a sua noite.— Serkan piscou, apontando para si mesmo com os dois dedos indicadores.

Cartas para Julieta| EdSerOnde histórias criam vida. Descubra agora