Capítulo 11

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EDA

— Sabe, eu realmente odeio elogiar você, mas... O que você está fazendo pela Aydan é... Muito gentil.— Pausei, dando uma respiração profunda e encarando os ladrilhos coloridos sob meus pés em movimento.— E imagino que você gostaria de estar passando suas férias em qualquer outro lugar. — Voltei meus olhos para o seu perfil lateral.— Você realmente se ofereceu para isso?

Serkan ficou quieto por um instante e eu desconfiei que ele estivesse me ignorando, visto que nossa proximidade tornava a minha pergunta perfeitamente audível.

— Quando o meu irmão mais velho morreu, eu vi uma parte dela ir também... — Ele suspirou, olhando sempre para frente e desviando dos corpos da multidão em nossa volta.— Ela disfarçava, óbvio, desconversava sempre que eu perguntava se estava tomando os seus remédios para dormir, se alimentando direito... — Serkan engoliu em seco, suas mãos agora dentro dos bolsos da bermuda.— Mas... Quando o meu pai também se foi, tudo ficou ainda pior. Minha mãe simplesmente deixou de ser ela, entende? Ela nem ao menos saia de casa.— A voz dele era falha e, então, tomou uma respiração profunda.— Se existisse algo nesse mundo que a deixasse feliz, a deixasse com a vontade de viver novamente... Eu faria de tudo para ajudá-la a conseguir.— Ele sorriu por fim.— E aqui estou eu, apesar dos pesares.

Serkan voltou seus olhos para mim e o misto de sentimentos que eu vi refletidos em suas íris esmeraldas me deixaram momentaneamente sem ar.

Era uma ferida profunda e dolorosa, que ainda sangrava e nunca sarava. Algo com que ele tinha que conviver todos os dias, carregando no peito, tentando sobreviver dia após dia. Assim, como... Eu.

— Sinto muito.— Eu sussurrei, nosso olhares ainda conectados quando eu apenas queria abraçá-lo bem apertado e dizer que o entendia, que sentia a sua dor, porque eu também convivia com a minha. Porém, eu nada fiz.— Eu lamento tanto.

— Obrigado, Eda. Eu agradeço.— Ele sorriu para mim, enquanto cruzávamos a praça que era interseccional às vielas.— Foram tempos difíceis, de fato. Minha mãe perdeu o marido e o filho, eu perdi o meu pai e o meu irmão. Então, é válido dizer que eu não sou de acreditar em finais felizes. Ela cuidou de mim, um menino revoltado com o destino, confuso por não entender o porquê de aquilo estar acontecendo com ele e me transformou em quem sou hoje. Como foi mesmo que você disse?— Serkan sorriu provocativo.— Ah sim, um benfeitor presunçoso.

Dei uma risada sem graça, de repente aquilo não era mais engraçado. Serkan tinha suas batalhas internas assim como eu.

— O seu noivo não está começando a se sentir sozinho? — Serkan me olhou de soslaio e eu não me contrapus. O clima não era mais ameno e ele procurava por um escape, adotando qualquer que fosse o assunto.

— Não... — Suspirei ao sentir um arrepio na espinha pelo tópico sensível e me abracei na tentativa de cessar a sensação incomum.— Deniz está fazendo a melhor viagem da vida dele.

— Como é possível?

— O quê? — Franzi o cenho.

— Como é possível ele estar fazendo a melhor viagem da vida dele sem você? — Parei petrificada ao passo que Serkan retomou a palavra diante da minha reação.— Digo, vocês são noivos...

— Ele não parece ligar para a minha ausência.— Voltei a andar ao seu lado.— E você... Não tem namorada? — Sorri, querendo descobrir outras facetas dele.

Serkan Bolat era uma caixinha de surpresas.

— Essa é uma longa história...

— Você jura? — Falei para irritá-lo.— Não me surpreende.

Cartas para Julieta| EdSerOnde histórias criam vida. Descubra agora