Capítulo 06

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EDA

Os acordes de Maps ecoavam pelo rádio do carro de Serkan, as batidas da melodia pop nos acompanhando nesta manhã quente de verão.

Observava embasbacada as belezas escondidas das paisagens pelo interior da Itália, campos e grandes vegetações arbóreas de um verde vivo marcavam presença por todos os lados, com pequenas construções por perto.

Plantações de trigo e milho eram algumas das quais eu conseguia distinguir pelos borrões, através do vidro do carro.

Peguei meu celular mais uma vez, na esperança de encontrar algum sinal de vida de Deniz, mas até agora nada. Desde ontem, em nossa última conversa, ele apenas havia dito que estaria mais atarefado do que nunca por esses dias, não havia falado o motivo e nem me perguntado o que eu achava sobre.

Mas está tudo bem, eu acho. Talvez ele não tenha mesmo tempo para me escrever. Ao que parece, eu tinha ficado boa em interpretar o seu silêncio, mesmo que não gostasse.

Sorri e comecei a digitar.

Estou com a Aydan!
A mulher para quem respondi a carta como secretária da Julieta.
Estou tão animada!
Estou louca para te contar tudo!
Até mais tarde...
Muitos beijos.
— Eda.

Levantei o olhar com um suspiro, encontrando as íris esverdeadas de Serkan fixas em mim através do espelho do motorista, nossos rostos viraram-se rapidamente em direções opostas quando pegos em flagrante.

Senti meu celular vibrar em minhas mãos e desbloqueei a tela, afoita.

Estou adorando Nápoles!
O leilão de cafés é incrível, me sinto como no paraíso.
Divirta-se, querida.
Ligo para você depois.
Você sabe que eu te amo, não é?
Beijos.
— Deniz.

Franzi o cenho, estranhamente desgostosa com a resposta. Pus o aparelho de lado com uma sensação incomoda no peito, talvez ficar encarando a tela do eletrônico por tanto tempo tenha cobrado o seu preço através de um pequeno mal estar.

— Eda, querida, você está bem? — A voz de Aydan arrancou-me de meus pensamentos.— Você me parece tão pálida.

— O que está sentindo, Eda? Quer que eu pare o carro? — Ouvi a voz de Serkan, dessa vez macia, ressoar em meus ouvidos.

— Não é nada, não se preocupem. São esses eletrônicos, vocês sabem como é, junto com esse calor então... É apenas um pequeno enjoo.— Ri tentando aliviar a tensão que se instalara, principalmente ao ver aos mãos enormes de Serkan apertarem o volante com tamanha força que o nó de seus dedos ficaram ainda mais brancos.

— Você não está bem, sua boca está branca, Eda! — Ele balançou a cabeça em negação, parecia bravo pela minha tentativa de riso anterior.— Vou parar o carro.

— Não, você não vai.— Rebati.

— Ah, mas eu vou.

— Não vai.

— Ele vai.— Aydan falou um pouco mais alto, pondo fim a nossa pequena discussão. Encarei-a com a testa franzida, sentido-me traída.– Não me olhe assim, meu bem. Sou mãe e você agora também está sob os meus cuidados. Nunca que deixaria filha minha passar mal dentro de um carro e seguir viagem como se nada estivesse acontecendo.

Suspirei, encostando-me no banco e dando-me por vencida. A determinação de Aydan era explícita.

Pelo espelho do motorista, Serkan me encarava, desta vez com um pequeno sorriso nos lábios, parecia se divertir com a minha derrota. Revirei os olhos e voltei meu olhar para a janela, o veículo agora fazendo um pequeno desvio.

Cartas para Julieta| EdSerOnde histórias criam vida. Descubra agora