Estou sozinha. Sentada a beber um chocolate quente. Sinto-me crescida. Não estou habituada a isto. Cidade grande. Tanto para explorar Tantas pessoas para conhecer. E eu tão pequenina. Chega a ser assustador, o facto de ninguém me conhecer aqui. Olho em volta e vejo caras mas sei que amanhã não se lembrarão de mim nem eu delas. É difícil me habituar a esta despersonalização tão característica das grandes cidades. Mas ao mesmo tempo é reconfortante e diferente. Aqui tenho a oportunidade de ser quem eu quiser. Ninguém sabe as minhas experiências passadas nem a minha história. Muito menos o meu nome. Para eles sou apenas uma rapariga que se senta ao lado da janela a beber um chocolate quente. Estarei a aquecer um coração partido? Estarei à espera de alguém que nunca mais chega? Nunca saberão. E então rio-me pois apercebo-me que é muito fácil fugirmos do nosso "eu" numa cidade que não nos conhece. Posso mostrar as minhas melhores virtudes e esconder os meus piores defeitos. Posso até inventar um passado totalmente novo e ninguém duvidaria. Não lhes faria diferença pois afinal não sou nada mais que uma estranha neste café. Nesta cidade. Neste país. Neste mundo
VOCÊ ESTÁ LENDO
A rapariga que falava com os lobos
PoesiaUma coletânea de textos sobre os meus anos adolescentes e as desilusões de uma rapariga apaixonada