Muitas águas não conseguem extinguir certas sedes. Nem dilúvios conseguem afogar certos pensamentos. E quando confrontada com a pergunta "O que mata o amor?" sou capaz de oferecer uma única uma resposta: a negligência. E tu sabes, sabes bem que ele já não te vê mesmo quando te encontras diante dele. Que ele já não se lembra de ti com as pequenas coisas do dia a dia, como costumava fazer antes. E um dia irás notar que te escolhe por uma questão de hábito, conveniência e não por desejo talvez até mesmo só pelo compromisso. Quando passa pelo vendedor de flores já não és tu que lhe cruzas o pensamento. Ele deixou de pôr a mesa e de fazer a vossa cama e no fundo, tu sabes que ele te ignora todas as manhãs só para fazer uso do teu corpo nas madrugadas. Que ele deseja outra quando te beija a bochecha, porque já nem consegue formular o que seria tocar nos teus lábios. Até ele mesmo sabe que diz o teu nome sem o ouvir, porque já assume que é dele para chamar. Este é o perigo de uma vida rotineira. E quando escrevo que ele agora só tem olhos para mim, não o faço com orgulho, mas sim com pena. Eu sei que te custa a acreditar, mas os homens são assim. Sentem-se inconscientemente atraídos pela fertilidade e ambas sabemos que nada mais fértil do que uma flor acabada de desabrochar.
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A rapariga que falava com os lobos
PoesíaUma coletânea de textos sobre os meus anos adolescentes e as desilusões de uma rapariga apaixonada