Os lobos. Toda a minha vida foi perseguida por eles. Alguns abandonaram-me e deixaram a tarefa da caça a meio. Deixando-me sozinha no frio, no meio da floresta escura. Alguns continuam à minha procura, e juro que às vezes ainda vejo os seus olhos brilhantes no meio da noite e tenho medo. Sobe-me um arrepio pela espinha sempre que penso no seu uivo e na forma como me chama. Quase hipnotizante. Quase ensurdecedor. Sempre tive a sensação que a minha vida seria uma tragédia. Mas deparo-me a viver numa readaptação mais sombria de um conto para crianças. E o meu protetor, alienado da sua condição, desapareceu e não sei onde o procurar. Oh meu doce caçador! Onde fostes vós vos esconder? Encontro-me eu agora débil e sem a vossa proteção. Pergunto-me o que irá ser de mim sem o seu olhar cuidadoso... Todos eles se aproximam cautelosamente de mim e eu não sei o que fazer para os impedir. Se ao menos possuísse a sua autoridade e veemência talvez assim pudesse afastá-los apenas com o som da minha voz. Mas eu não sou ninguém, nem tampouco entendo os motivos pelos quais sou eu objeto de pensamentos tão devassos e de obsessões tão sombrias. Apenas tenho em mim um enorme desejo de ser criança de novo. E de estar alheia a todos este perigos e tempestades temperamentais que me atacam de vez em quando o coração. Mas prometo que tentei serenar até os soluços mais fortes esta noite. Porque hoje, eu e a lua merecemos paz.
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A rapariga que falava com os lobos
PoesíaUma coletânea de textos sobre os meus anos adolescentes e as desilusões de uma rapariga apaixonada