Ravenmaster

Lua de Neve

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O ar frio do lado de fora da biblioteca trouxe uma sensação, quase um sentido de estar sendo observado. Não foi como na vez que meus pais foram atacados, foi bem mais brando e sereno do que aquela vez, mas foi o bastante para me fazer apurar a audição e concentração. Passos, conversas, risos, só consegui ouvir sons de uma rotina comum.

Não ouvi nada suspeito naquele lugar, mas comecei a me preparar mesmo assim. O mais fácil seria me afastar das pessoas, então enfiei as mãos nos bolsos para caminhar normalmente. Foi quando eu cheguei na rua da minha casa que tive certeza que eu estava sendo seguido. Meus passos tinham um eco que não era natural, vindo alguns metros atrás de mim.

Consegui notar que era um homem pela pisada forte, nenhum passo vacilante ou apressado demais. Pensei um pouco no que fazer e decidi ir para casa, se esse homem me atacasse, eu estaria perto da ajuda. Os passos não diminuíram, inspirei fundo e decidi usar a vantagem da  próxima esquina para surpreender essa pessoa, mas assim que me virei, dei de cara com uma figura conhecida.

Antes de processar sua imagem, eu já tinha agarrado o seu pulso direito e o prendido do lado esquerdo do seu corpo, e minha mão livre já estava fechada e pronta para acertar o seu rosto. Seus olhos cinzas como o céu em tempestade estavam abertos comicamente e, se possível, sua pele mais pálida que a neve ao nosso redor.

-Na-Naruto, sou eu! Kakashi!

Soltei sua mão e relaxei meu corpo para me acalmar.

-Eu não quis te assustar!

-Me desculpe. Eu tenho andado muito estressado.

Kakashi relaxou ao soltar um longo suspiro. Notei que ele estava bem mais agasalhado do que eu, usando até mesmo uma luva e um sobretudo tão comprido que a barra estava um pouco úmida por estar em contato com a neve. Ele esfregou o pulso que eu segurei e só então eu notei que ele trazia consigo uma mochila nas suas costas.

-Depois de um acidente é normal, alguns dizem que até seus sentidos se tornam mais aguçados após um grande choque.

Eu só acenei para não delongar muito na mentira e apontei para a sua mochila - Estava indo dar aulas?

-Não, as aulas ainda estão suspensas. Eu fui à biblioteca em busca de alguns livros para usar numa palestra e coincidiu de te ver sair de lá.

-Então decidiu me seguir? - Tentei falar de maneira cortês essas palavras acusadoras.

-No começo não - Kakashi coçou a nuca e pareceu constrangido - Eu... senti um ímpeto de te seguir.

-Por que não me chamou?

-Eu ainda estava decidindo o que dizer. Eu pensei em vir à sua casa depois de pegar os livros mas acabei desistindo, se eu não tivesse te visto, acredito que teria voltado para minha casa.

Kakashi estava claramente nervoso, porém inofensivo.

-Eu precisava te agradecer por ter me ajudado tanto nesses dias.

-Ah, não foi nada - Pensei em dizer que era o mínimo a fazer depois de ter aberto um buraco no seu peito, mas me contive no último minuto e mudei de assunto - Como têm passado esses dias?

-Muito bem, se levar em conta tudo o que aconteceu. Ontem, fui na neurologista que você indicou. Estou com uma pilha de exames para fazer, mas pelo menos ela diz que eu estou bem. Ela só está preocupada com a minha memória, fora isso tudo bem.

Fiquei um pouco alarmado com o que ele disse, apesar de Itachi ter me garantido que ele não se lembraria de nada, nós não podíamos apenas contar com a sorte, não sem antes saber quem estava o usando.