Na noite de São Paulo, uso um nome fictício, sou o Alejandro. Inclusive, até a idade eu costumo mentir. Por alguma razão, os clientes preferem os mais novinhos. Tenho 25 anos, mas consigo passar tranquilamente por alguém de 20. A mentira faz parte da rotina de GP, afinal, até os sentimentos que projeto nos meus clientes são ilusões.
Frio do caralho! O corpo treme devido aos 10 graus que marcam nos termômetros. Sopro ar quente em minhas mãos para espantar o maldito frio. Todo ano, penso em folgar nos meses de inverno, porém, não é uma opção viável, uma vez que as contas não param de chegar no fim do mês.
A Izzy me pede para usar aplicativos, mas, dessa forma, posso pegar um cliente estranho. E não preciso de mais confusão na minha vida. Na rua, tenho o tempo necessário para analisar a pessoa, então, posso fugir ou barganhar um preço melhor.
Uma buzina chama a minha atenção. Respiro fundo e sigo na direção do SUV 4x4 preto. O vidro do lado do passageiro baixa e tenho o primeiro vislumbre do cliente. Um homem na faixa dos 40, cabelos pretos, um cavanhaque e vestido de maneira formal, talvez, trabalhe em algum escritório da região.
— Faz de tudo? — ele perguntou, com as mãos sob o volante, enquanto coçava o cavanhaque.
— Sou ativo. São R$ 120, a hora. — falei, encostado na janela e aproveitando o vento quente que saia do sistema de ar-condicionado do veículo.
— Entra.
No caminho para o motel, o homem elogia a minha beleza e afirma que eu não tinha cara de Garoto de Programa. Porra, desde quando existe um perfil para ser GP? Em um sinal, ele aproveita para tirar a gravata azul-turquesa e a lança para o banco de trás. Depois, acho que menos nervoso, o cliente pega na minha coxa e faz uma massagem.
— Você já deve estar acostumado com isso, né? — ele perguntou, sem tirar os olhos do trânsito.
— Um pouco. É o meu trabalho. — expliquei com as mãos abertas na frente da entrada de ar quente.
— Eu sei, mas eu digo, esse silêncio antes de entrar no motel.
— Se quiser conversar. Como se chama? — perguntei, no intuito de iniciar uma conversa interessante, e agradecendo aos deuses pelo ar quente.
— Klaus. E você?
— Alejandro. — menti, assumindo a minha persona profissional.— Você é novo. Deve ter uns 20 anos, acertei?
— Sim. — menti, de novo. — Miserável. — pensei, agora agradecendo pela minha genética, alguma coisa boa aquele filho da puta tinha que ter me dado. — Obrigado, pai. — falei baixinho.
— Ah, vamos em um motel em Santo André, viu. — avisou Klaus.
— Cacete! — exclamei. — Vai dar uns 40 minutos para chegar. Não tem como ir mais perto? — barganhei, afinal, o serviço tinha mal começado.
— Eu pago o dobro. Realmente, preciso de uma companhia hoje. Por favor.
Caralho. Sou um coração fraco mesmo. Se fosse outro GP, com certeza, teria pulado do carro no primeiro sinal vermelho, mas como já expliquei, eu sigo o fluxo.
Liberdade, Mooca, Vila Prudente e São Caetano do Sul. O GPS indica o direcionamento e dispara os nomes dos locais por onde passamos. Nessa trajetória, percebo que a cidade de SP não dorme nunca. Bares, baladas, lanchonetes e milhares de pessoas curtindo a madrugada.
Por sorte, o trânsito flui com tranquilidade e, em alguns momentos, Klaus não obedece os comandos do GPS, acaba optando por outro caminho, talvez, um mais curto, porque chegamos antes do tempo estipulado.
— Bom dia, senhor. — deseja uma voz mecanizada saindo de uma caixa de som.
— Bom dia. Eu queria a suíte Cancun, por favor. — pediu Klaus com o cotovelo encostado na porta.
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Apenas uma regra
RomanceA madrugada de São Paulo é viva. Pessoas vêm e vão, algumas em busca de diversão, outras de prazer ou em busca de uma nova perspectiva de vida. E é justamente quando a cidade dorme que o jovem Stefano Arcanjo se transforma em Alejandro, o Garoto de...