Capítulo 6: Destino

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 — Tem certeza? — perguntaram o Miguel e a Izzy juntos, quase que um coral em desespero.

— Sim. — respondi, mostrando a foto de Klaus, que consegui no aplicativo de mensagens.

— Puta que pariu! — soltou Izzy pegando o celular das minhas mãos e analisando o tio de Miguel. — Amigo, ele é gatinho.

— Gostou? Traz para morar aqui. — Miguel soltou de forma irônica, sentando na cadeira e cruzando as pernas. — Que raiva. Ele sempre me julgou. Como se fosse melhor do que eu. Esse tempo todo, o desgraçado sai com garotos de programa em motéis caros. Sem ofensa. — olhando para mim.

Filho de uma puta. Fico pasmo com a probabilidade de ter comido o tio de Miguel. A transa foi ótima. Não vou mentir, gozei horrores naquele cú rosinha, porém, o coroa é um verdadeiro Sr. Leproso!

Apesar de estar com o rosto inchado e cheio de hematomas azulados, a expressão de Miguel é de pavor. O tio ainda lhe trazia traumas, principalmente, devido a surra que ele levou dos capangas. Gentilmente, a Izzy pega nas mãos dele e segura.

— Ei, garoto zumbi. O teu tio não pode te fazer mal. Ele não sabe que você está aqui. — ela garantiu fazendo carinho nas mãos dele.

— Verdade. Não fica com essa cara de cú. Você precisa se recompor e acabar com o filho da puta. — aconselhei pegando no ombro de Miguel.

— A delicadeza de um elefante. — balbuciou Izzy balançando a cabeça negativamente.

— Valeu, pessoal. Vocês estão sendo mais de 10. — Miguel comentou se sentindo acolhido por nós. — Fora que o William está vindo. Ele vai ser uma grande ajuda no plano contra o Klaus.

— Quem diria, um gay e uma trans, os famosos renegados pela porra da sociedade, ajudando um herdeiro. Meus caros, estamos fodidos. — afirmei, tentando mudar a última frase que soltei, sem sucesso, óbvio.

Quando mais jovem, os pesadelos faziam parte da minha vida. Só que os experimentava até quando acordado. Afinal, um pai alcoólatra e pervertido não era um bom guardião. Nas lembranças, a única que ficava ao meu lado era a vovó, só que, infelizmente, ela morreu atropelada em um dos verões de Salinas.

A partir daquele momento, os pesadelos viraram uma constante. Toda noite. Dia após dia. Mês após mês. Dois anos. Dois anos servindo de saco de pancadas e brinquedo sexual para aquele desgraçado. Por sorte, os vizinhos denunciaram e ele foi preso.

A última lembrança que eu tive dele? O filho da puta algemado e sendo jogado no camburão de uma viatura. "Estou livre", pensei. Ledo engano. No abrigo, as coisas não eram melhores, mas, pelo menos, consegui me impor naquela espelunca.

Depois de um dia cansativo e a janta deliciosa fornecida pelo Miguel, finalmente, o descanso. Tomo uma ducha demorada e vou direto para a cama. Ao fechar os olhos, volto para o meu antigo quarto em Salinas. As paredes brancas eram descascadas pelo efeito do tempo. Não tinha uma cama, eu dormia em uma rede.

Olhei para o antigo espelho, que estava todo oxidado, e não era mais um adulto, mas sim aquela criança sofrida e magricela. De repente, o meu pai entra no quarto. A minha respiração fica ofegante e meu coração parece sair pela boca.

Ele está usando um chapéu de palha, então, não conseguia ter uma visão perfeita de seu rosto. O infeliz sentou na rede e chamou pelo meu nome. A sua voz me deu um arrepio. Eu não quero ir, só que os meus pés não obedecem. Eu quero fugir. Eu não quero! Eu sou o teu filho, porra!!! Eu sou o teu filho!!!!

— Eu não quero!! — gritei me debatendo na cama. — Por favor, me deixe ir. Eu imploro. — pedi, chorando, ainda perdido entre o mundo do sonho e realidade.

— Stef. — disse Miguel, que acordou assustado por causa do meu escândalo. — Ei. — sentando ao meu lado e tocando no meu rosto. — Acabou.

Abro os olhos. O Miguel me olha de forma diferente. Não é um olhar julgador ou de pena. Ele limpa às lágrimas que escorrem no meu rosto. Eu não gosto de contato, nem com a própria Izzy, só que o toque dele é diferente.

Apenas uma regraOnde histórias criam vida. Descubra agora