Capítulo 20: Sentimentos

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 — Um incêndio criminoso parou a Avenida Paulista. Na tarde desta quinta-feira, o empresário Klaus Arnault, dono das Joalherias Arnoult, foi feito refém por um de seus funcionários. Até o momento, a nossa equipe de reportagem não conseguiu contato com a assessoria da Joalherias Arnoult. Mais informações no Jornal das 20h. — informou uma repórter.

— Gente, que horrível. Eu sabia que havia algo de errado com esse William. — afirmou Nicky. — Só que essa confusão da Izzy. Meu Deus. — desligando a TV e pegando no meu ombro. — Ainda bem que você evitou uma tragédia maior.

A notícia se espalhou como o fogo em gasolina (desculpa, William). Infelizmente, os atos do William não vão ser julgados, esse não era o final que ele merecia. Aquele escroto covarde! Eu tive que voltar para casa, pois a Izzy teve outro surto e tentou rasgar suas roupas femininas.

Quando esse medo vai passar? A Izzy é a pessoa mais forte que eu conheço, porém, o medo conseguia cegá-la. Ela queria jogar suas roupas fora. Como explicar que ela não tinha culpa do ataque? Os transfóbicos que precisam pagar. A insegurança para a comunidade trans é uma constante neste país de merda.

Já mandei 149 mensagens para o Miguel. Ele visualizou todas, mas não respondeu nenhuma. Eu devo ficar preocupado? Os problemas de família devem ser difíceis de resolver. Graças a Deus, que consegui provas contra o William e, assim, desvendar a morte da família do Miguel. Fora que a investigação policial é muito criteriosa. Imagino todas as perguntas que eles estão tendo que responder.

— Stefano. Eu preciso dar um "help" para o Miguel. Ele pediu os documentos que o William nos entregou. — avisou Nicky toda arrumada. Ela usava um terno verde, os cabelos presos em um coque e seus famosos óculos de gatinho.

— Você falou com o Miguel? — perguntei, levantando do sofá com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança.

— Sim. Ele está bem, mas fazendo milhares de coisas para salvar a reputação da família. Não se preocupe, Stef. Ele é forte. Eu não demoro muito. — saindo do apartamento.

Sério que o Miguel está me evitando? Logo eu. Puta que pariu. O que será que rolou? Eu disse alguma coisa errada? Droga. Não tenho muito tempo para lamentar, pois a Izzy aparece com vários saltos nas mãos e joga no lixo. Caralho. Estou estressado. Cheguei ao meu limite.

Ando até a Izzy e nossos olhos se encontram. Estou um caco. Meu emocional está quebrado. A Izzy e o Miguel não estão ajudando. Pode não parecer, mas o que aconteceu com o William mexeu comigo. Eu o vi queimar. Gritar de dor. Eu precisava dos meus amigos. Será que estou sendo egoísta demais?

— Chega, Izzy. Você não pode desistir assim. Olha essas roupas. O seu cabelo. Qual vai ser o próximo passo, retirar o silicone?

— Você não entende, Stefano. Eles me espancaram. Eles gritaram que travesti precisa morrer. Eu não quero passar por isso de novo. — lágrimas escorreram pelos olhos dela.

— Infelizmente, vivemos em um país de bosta. Esses filhos das putas sempre vão existir, mas você não pode baixar a cabeça. Não pode se entregar. Cadê a Izzy que me ensinou a ser forte e guerreiro? A Izzy que me acalentava quando eu tinha os sonhos com o meu pai? Eu quero essa Izzy, porque essa que está na minha frente não chega nem aos pés da original. — a abracei.

Eu precisava de um abraço. Comecei a chorar copiosamente. Sou fraco. Meu pai falava que chorar era sinal de fraqueza, logo, eu sou fraco. Eu não consegui proteger a Izzy. Eu não consegui ajudar o Miguel. Eu não sirvo para nada. Eu nasci para sofrer. Eu nasci para perder. Agora que o Miguel ganhou a vida dele de volta, provavelmente, nem vai querer saber de mim.

— Eu não posso te perder. Por favor, não desista. Se não for por mim, faça por você mesma. Eu imploro.

— Eu os vejo nos meus sonhos, Stef. Ouço suas vozes. Lembro de cada chute e soco. Eles arrancaram minhas roupas, zombaram das minhas partes íntimas. — contou Izzy, entre soluços.

Apenas uma regraOnde histórias criam vida. Descubra agora