Capítulo 10: Doces lábios

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Caralho! Ganhei dois mil reais. A família do Miguel é demais. Ok. Não deveria comemorar, afinal, o Klaus é inimigo. Ele merece pagar, principalmente, por quase assassinar o próprio sobrinho. Depois de uma noite, digamos, no mínimo interessante, o Klaus dorme profundamente na cama. O celular dele começa a apitar, uso toda a minha elasticidade e pego o aparelho.

***

MATIAS:

Nada do Miguel. Ele evaporou da face da terra. Acho que deveríamos continuar o plano. Deixa ele quieto. Nossa prioridade é transferir o dinheiro. A empresa não pode falir.

***

Porra. Que prova maravilhosa. Faço uma foto da tela do celular de Klaus. O Miguel vai adorar essa novidade. Deixo o telefone de Klaus no mesmo lugar e durmo por alguns minutos, afinal, um ótimo detetive merece um descanso extra.

Desperto com um beijo de Klaus. Ele está com uma expressão serena, nem parece um assassino filho da puta. Acho que nunca vou entender essas pessoas que fazem mal para a própria família. O meu pai conseguiu acabar comigo de todas as maneiras. O desgraçado me quebrou. Assim como o Klaus está fodendo o psicológico do Miguel. Fico perdido em meus pensamentos e dou uma mordida no lábio inferior dele.

— Ai! — exclamou Klaus se afastando.

— Desculpa, bebê. Estou faminto. — menti, algo dentro da minha zona de conforto. — Foi sem querer.

— Tudo bem. — Klaus levantou e colocou a cueca. — Ei, você está liberado neste fim de semana?

— Hum. — soltei, pensando em uma desculpa, mas, ao mesmo tempo, querendo saber dos planos dele. — Tenho um casamento, mas se a oferta foi tentadora. — joguei verde.

— Vou para Santos. Aparentemente, o frio vai suavizar, então, quero pegar uma praia. Tenho uma casa de praia e um iate. — explicou Klaus, vestindo a calça e uma blusa social branca.

— Puxa, gato. Infelizmente, a oferta é tentadora, porém, podemos marcar em outra época.

— Bem, eu tentei.

Chego em casa e conto para todos os planos de Klaus. O Miguel fica revoltado, porque a casa e a embarcação pertenciam aos seus pais. Puta que pariu. A cada dia a revolta contra o Klaus aumenta. Imagina, tudo o que você tem é tirado por alguém que deveria te proteger? Eu matava.

Decido tomar um banho, enquanto o Miguel conversa com os seus contatos nos Estados Unidos. Em seguida, vou até a cozinha preparar um lanche para enganar a fome. A Izzy e a Nicky estão comentando sobre um caso de assassinato de uma colega trans. Ser LGBTQIA+ no Brasil é um cú.

Preparo um sanduíche de queijo com presunto. Como de costume, alguém tomou o meu iogurte, então, recorro ao suco de laranja. Ao voltar para a sala, o Miguel continua ao telefone e cheio de sorrisos. Ele parece um adolescente conversando com o crush. Será que esse tal de Will é um antigo amor dele?

O Miguel está muito diferente. Não digo fisicamente, quer dizer, as meninas acertaram no novo visual, mas a convivência trouxe uma dinâmica diferente entre nós. Ainda não esqueci o fato de dormirmos abraçados naquela semana. Toda vez que penso no corpo dele contra o meu, sinto um choque passando dentro de mim.

Busco uma maneira de ouvir a conversa do Miguel. Só que ele é o tipo de pessoa que cochicha ao telefone. Consigo captar as palavras "foco", "agradecido", "salvador" e o nome William, o tal amigo que descobriu segredos de Klaus. Ok. Coloco a minha atenção no sanduíche, entretanto, engole tudo em menos de um minuto.

— Calma, Stefano. — Miguel me repreendeu, depois que desliga o celular.

— Tá prestando atenção em mim? — solto, mais chateado do que deveria.

Apenas uma regraOnde histórias criam vida. Descubra agora