Capítulo 12: Se o quarto falasse

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Vamos pa' la playa, pa' curarte el alma
Cierra la pantalla, abre la Medalla
Todo el mar Caribe viendo tu cintura
Tú le coqueteas, tú eres buscabullas y me gusta

***

A voz de Pedro Capó estremece as caixas de som do carro que alugamos. Seguimos em direção ao município de Santos, no litoral de São Paulo. É tão bom o vento quente que nos atinge. O trajeto não é tão longo, mas o suficiente para renovar as energias. O Miguel é o motorista da vez, afinal, ele é o único com carteira de habilitação.

São 70 quilômetros de histórias e risadas. De alguma forma bem irônica, cada um naquele automóvel viveu um período complicado, mas nunca desistiu de continuar.

— Eu adoro vocês! — gritou Nicky, colocando a cabeça para fora da janela e assustando Miguel. — Sabe de uma coisa? Coloca o Rei. — ela pediu.

— Rei? — questionei, porque o meu celular estava conectado ao sistema de som do carro, ou seja, eu era o DJ.

— Sim, vadia. O Rei Roberto Carlos. A estrada de Santos. — explicou Nicky com sua delicadeza ímpar e fazendo uma careta engraçada.

— Ah, tá. — respondi sorrindo e escolhendo a música.

Que sensação foda. O Miguel dirige com confiança, enquanto atravessamos a Avenida Anchieta. As coisas passam em uma velocidade ímpar. Pessoas, carros, casas e natureza. A voz de Roberto Carlos coroa este momento tão especial, pelo menos, para mim.

***

Se você pretende saber quem eu sou
Eu posso lhe dizer
Entre no meu carro, na estrada de Santos
E você vai me conhecer

***

Cantamos o refrão como loucos. Eu não sabia a letra, mas conhecia o ritmo da música. Apoio o braço no banco do motorista. E a minha mão encosta na orelha do Miguel. Os seus cabelos rosas estão voando de um lado para o outro. De uma maneira carinhosa, ele olha para mim e sorri. Caralho, que boca perfeita.

Finalmente chegamos em Santos. A cidade é conhecida por ser o lar de Pelé e Neymar e, claro, pelas suas belas praias. Antes da viagem pesquisei para não perder tempo. Escolhi um hotel barato (desculpa, Miguel), mas confortável. Afinal, não podemos nos encontrar com o Klaus.

O hotel se chama "Horizonte". Está localizado próximo ao calçadão da orla de Santos, um dos lugares mais movimentados da cidade. De longe, já é possível ver as pessoas se divertindo na praia. Eu não quero perder tempo. Preciso tirar a roupa e mergulhar no mar.

— Meninas ficam em um quarto. Meninos em outro. — anuncia Izzy me entregando a chave do quarto. — Aproveita.

— Cala boca, quenga. — digo, olhando para Miguel que conversa com Nicky.

— Você é muito teimoso. Eu não vou mais perder a minha energia praiana com você. — esbravejou Izzy pegando a mala e seguindo para o elevador. — Vamos, Nicky.

Puta que pariu. Puta que pariu. Seguimos para o elevador. O espaço é pequeno, então, esbarro em Miguel. Ficamos no quarto 13. Será que é o meu número da sorte? Fico impressionado com o quarto. É um lixo. Trouxe o Miguel para um quarto lixo. Perfeito, Stefano. Perfeito.

Curioso, o Miguel observa cada parte do quarto. Ele senta na cama e dá alguns pulinhos. Os olhos deles continuam observando. Acho que ele está com vergonha. Mas, em São Paulo, nós dividimos o quarto e dormimos na mesma cama, qual seria a diferença? Depois de um tempo, o Miguel quebra o silêncio.

— O quarto é...

— Horrível. Um lixo. — eu digo me precipitando.

— Um charme. — Miguel levanta e se aproxima. — É um charme.

A voz do Miguel me embriaga. Eu não acredito que ele gosta de mim. Ele deveria ter repulsa de um garoto de programa. Talvez, eu seja apenas um brinquedo nas mãos dele. Eu nem sei qual a sexualidade dele. Nós nos beijamos. O Miguel é bi? Eu já tentei namorar mulheres, mas não rolou.

Apenas uma regraOnde histórias criam vida. Descubra agora