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DULCE MARÍA

A data de entregar o trabalho que o Christopher passou na última aula já estava se aproximando e Anahí continua me ignorando só Deus sabe o porquê. Pouco me importo com o trabalho, mas decido usá-lo como desculpa para fazê-la falar comigo. Seu silêncio já está começando a me deixar chateada e eu também sinto falta dela.

— Vamos, Tinkerbell, precisamos fazer o trabalho de artes — ela continua deitada na cama fingindo que as pontas do seu cabelo são mais interessantes do que eu estou falando — Anahí? — ela levanta os olhos para me encarar, mas permanece calada — A rebelde aqui sou eu. Mexe essa bunda, vamos fazer o trabalho.

— Desde quando você se importa com os trabalhos?

— Não me importo, mas temos que fazê-lo. Anda!

Ela volta a dar atenção para as pontas do seu cabelo e eu bufo irritada.

— Tudo bem — deixo os braços caírem na lateral do meu corpo — Como quiser.

Vou até minha cama e pego um maço de cigarros embaixo do colchão. Deito ali e acendo um deles torcendo para que ela reclame do cheiro ou do detector de fumaças no quarto que poderia soar a qualquer momento. Não demora muito e ela aparece no meu campo de visão.

— Ficou louca? Você sabe que não pode fumar aqui dentro. Apaga isso — sorrio de lado ao ver que meu plano funcionou.

— O que é que tem? No máximo, o que pode acontecer é o detector soar o alarme, o reverendo descobrir e eu ser expulsa — ela abre a boca para falar algo, mas a fecha em seguida. Percebo sua preocupação com a ideia da minha expulsão, mas ela não quer deixar transparecer — Ok. Eu vou apagar, mas só se me disser o que aconteceu com você na última semana.

Anahí vira as costas para voltar até sua cama e eu tiro outro cigarro da carteira.

— Tá bom. Vou acender mais um para o detector soar mais rápido.

Coloco o cigarro na boca, mas antes que possa acendê-lo, ela tira os dois da minha boca e apaga o que estava aceso. Fico um pouco surpresa com a sua atitude, mas no fundo até gosto de vê-la agindo com mais determinação.

— Quer saber o que aconteceu? Eu estou chateada com você! É isso o que aconteceu — ela fala irritada.

— Jura? Nem deu para perceber — debocho e ela revira os olhos — Dá pra ser mais direta?

Anahí fica em silêncio, como se estivesse escolhendo as próximas palavras cuidadosamente, então respira fundo e senta na ponta da minha cama.

— Lembra do garoto que te falei na torre da igreja? — assenti — É o Alfonso. Eu gosto dele.

Arregalo os olhos e abro a boca, prendendo a respiração. Mas é claro que ela gosta do Alfonso! Como eu não tinha reparado isso antes?

— E por que você não me falou logo? — bato levemente no seu ombro.

— Porque vocês parecem bem íntimos e, se você também gosta dele, não sou eu que vou interferir — ela diz triste e abaixa a cabeça enquanto mexe nos dedos.

Jogo a cabeça para trás e solto uma gargalhada. Ela me olha mais séria e um pouco espantada, como se eu tivesse enlouquecido, mas logo volta a ficar irritada.

— Se é para ficar debochando assim de mim, é melhor que você vá expulsa mesmo.

— Au! — paro de rir imediatamente, suas palavras foram o mesmo que um tapa — Calma, aí, Tinkerbell! Eu não gosto do Alfonso.

— Não gosta? — ela arregala os olhos, mal conseguindo conter a felicidade pela minha afirmação.

— Não. Ele é bonito e tudo o mais, mas não faz o meu tipo — ela está com um enorme sorriso no rosto agora — Estou usando-o apenas para fazer um pouquinho de ciúmes no Christopher.

— Dulce! — ela me repreende.

— Mas... — faço uma pausa dramática — Agora que sei dos seus sentimentos por ele, como prova da nossa amizade e de que não sou uma completa vadia sem coração, vou parar de dar falsas esperanças ao pobre Alfonso. Isso se nós formos amigas outra vez?

Anahí se joga no meu pescoço e me abraça soltando um gritinho. Entendo isso como um sim e retribuo enquanto escondo um sorriso. Não vou admitir, mas senti bastante a sua falta nos últimos dias.

— Agora vou te ajudar a conquistar o Alfonso — digo depois que nos afastamos e vejo seu sorriso entristecer.

— Acho que isso vai ser difícil. Ele tá muito caído por você e sequer me nota. Nunca nem notou em dois anos.

— Ah, mas com toda certeza ele vai começar a notar a partir de agora — vou até seu lado do guarda-roupa, o abro e começo a atirar umas roupas sobre os ombros sem reparar onde elas estão caindo.

— O que você está fazendo, doida?

— Remodelando seu guarda-roupa — falo como se fosse óbvio.

— Hello! Nós temos um trabalho de artes para fazer, lembra?

— Depois fazemos. Isso aqui é mais importante agora.

Ela hesita, mas logo se aproxima animada para me ajudar.

RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora