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DULCE MARÍA

Não vi mais o Christopher depois dos amassos que trocamos no meu quarto e estou louca para sentir seus lábios cobrindo minha pele outra vez. Não quero esperar até sua aula de amanhã para vê-lo, então decido passar no dormitório para trocar a farda e ir procurá-lo no horário livre depois das aulas. Mas, chegando ao quarto, eu encontro uma surpresa.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto ao meu pai enquanto franzo o cenho.

— Oi, minha filha! — ele tenta se aproximar, mas dou um passo para trás, então ele para onde está e solta um suspiro frustrado — Você não atende minhas ligações, por isso vim te ver.

— Já viu. Agora pode ir embora. — aponto para a porta.

— Dulce... — ele fala com calma — Eu disse que vim te ver porque quero passar um tempo com você.

— Mas eu não quero te ver! Pensei que isso tivesse ficado claro quando não atendi as ligações. Você me abandonou aqui, então pode ir.

— Por que não vem passar o próximo final de semana com a gente? Sua mãe e eu estamos com saudades de você. A Ana também está.

Lembrar da Ana faz meu coração apertar. Ela é o mais próximo que conheço de uma mãe e também sinto muita saudade dela, mas não vou ceder. Prometi a mim mesma que não voltaria para casa apenas por um final de semana e não vou.

— Se estão com tanta saudade de mim, assim, por que não me levam de vez para casa e não me tiram desse inferno? Já fui castigada o suficiente.

— Você sabe que não podemos, querida. E ficar aqui está te fazendo bem. O reverendo me contou que suas notas estão ótimas e você está fazendo até trabalho voluntário. Eu fico muito feliz por isso e sua mãe também. Estamos orgulhosos de você — sorrio sem humor, revirando os olhos.

— Se não vai me tirar daqui, pode ir embora. Não quero ver ou falar com você e com a Blanca tão cedo.

— A sua mãe quer muito te ver, Dulce. Ela sente sua falta. Já tem meses que vocês não se falam.

— Blanca é sempre ocupada demais para sentir qualquer coisa e eu não quero falar com ela.

— Não trata sua mãe assim, minha querida. Sabe que ela te ama.

— Não vou ficar aqui ouvindo você defender aquela mulher. Se você não vai embora do meu quarto, então eu vou — aumento o meu tom de voz.

— Dulce! — ele me repreende.

Abro a porta e saio sem olhar para trás. Escuto meu pai chamar meu nome mais uma vez e começo a correr para garantir que ele não venha atrás de mim e não me alcance. A Blanca sente tanto a minha falta que nem se deu o trabalho de vir junto com ele. Não que a sua presença aqui fosse fazer alguma diferença... Lembro de todas as vezes que busquei um pouco de atenção dela quando criança e nunca recebi o carinho que precisava. Ela nunca tinha tempo e agora não seria diferente.

Meus olhos se enchem de lágrimas e minha visão fica embaçada, mas me recuso a chorar. Sigo correndo de cabeça baixa pelo corredor que vai dar para o refeitório até esbarrar em alguém. Cambaleio para trás com o impacto, mas um par de mãos grandes seguram meus ombros e me mantém no lugar.

— Dulce? — reconheço a voz familiar de Christopher e evito encará-lo, não quero que ele me veja tão vulnerável assim — O que aconteceu com você? — ele segura meu queixo e me força a olhá-lo.

Não consigo formular uma resposta, nem eu sei ao certo o que está acontecendo, só sei que estou cansada de fingir que está tudo bem e que posso lidar com esse turbilhão de sentimentos sozinha. A única coisa que quero neste momento é sentir o conforto da sua presença, então o abraço, enfiando meu rosto no seu peito e deixando que algumas lágrimas molhem sua camisa. Ele retribui sem hesitar e me aperta em seus braços, enquanto faz um afago nos meus cabelos.

RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora