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DULCE MARÍA

Estou com os braços cruzados e olhando pela janela do carro desde o momento que me sentei no banco do carona. Meus pais não deixaram que eu me despedisse de Diego e se mantiveram firme na decisão de me mandarem para o tal colégio interno quando eu recebesse alta. Infelizmente, o momento coincidia quase perfeitamente com o começo do ano letivo e eu estaria apenas algumas semanas atrasadas.

— Filha, estamos fazendo isso para o seu bem — meu pai diz, mas o respondo. Ele está tentando puxar assunto comigo desde que saímos do hospital.

Quando o médico assinou minha alta, pensei que ia para minha casa e que teria alguns dias para conseguir escapar dessa sentença, nem que eu precisasse sumir por um ano ou fazer greve de alguma coisa, mas meu pai foi me buscar e as malas já estavam no carro. Ele está me levando direto para o colégio, que fica a algumas horas da cidade.

— Porque não é o Mathias que está me levando? — pergunto emburrada.

— Porque eu sou seu pai e gostaria de passar algum tempo com você...

— Não parece, já que está me mandando para a porra de um colégio interno — o interrompo irritada.

— Além disso — ele diz, me ignorando completamente — Sei que você poderia tentar fugir do Mathias, algo que não vai fazer comigo.

— Isso é tão injusto, eu já me livrei do colégio e você estão me mandando para outro, tem que existir uma lei que impeça isso.

— Você é menor de idade e somos seus pais, estamos totalmente dentro da lei, minha filha. Por que não vê isso como uma oportunidade? — rio sarcasticamente e o encaro.

— Que tipo de oportunidade eu vou achar dentro um colégio interno e, para deixar toda a situação muito pior, católico, papai? Ler a bíblia, eu garanto que não vai ser... — o vejo revirar os olhos enquanto troca a marcha do carro.

— Você é uma garota extremamente inteligente, mas no último ano suas notas caíram bastante porque você estava ocupada demais aprontando com o Diego, então veja isso como uma oportunidade para melhorar suas notas e entrar em uma boa faculdade.

— Eu não preciso entrar em uma boa faculdade, não preciso me preocupar com dinheiro, temos dinheiro para sustentar até meus netos, se algum eu decidir ter filhos...

— Mas você não quer ter suas próprias conquistas, querida? Quer mesmo ser apenas uma herdeira que vai sair gastando a fortuna adoidada? Não sabemos o dia de amanhã... Você ainda é muito jovem, vai acabar se arrependo de tomar as decisões erradas...

— Minhas notas podem ter sido baixas, mas eu me formei e o que estão fazendo comigo, não é justo — rebato — Ela só está fazendo isso para me manter longe, nunca gostou ou cuidou de mim, e vai conseguir o que mais quer, me manter longe de você e da Ana!

— Sua mãe só quer o seu bem, filha... Você exagera muito quando diz essas coisas, tudo o que fizemos foi pensando em você, em seu futuro... Se não estivermos presente em sua infância, foi porque estávamos trabalhando em prol disso — reviro meus olhos, porque ele sempre a tenta defender.

— Não a defenda, não fale como se tivesse acontecido com ambos. Você esteve lá por mim muitas vezes, quem nunca esteve foi ela — suspiro, irritada.

— Bom, não é hora de conversarmos sobre isso, acabamos de chegar...

Meu pai diminui a velocidade do carro e encaro com raiva o enorme muro de pedra cinzas. A Blanca conseguiu o que sempre quis, me mandar para longe e para um inferno bem caro. Ouço meu pai dizer algo no interfone e os enormes portões de ferro se abrem, então entramos e ele estaciona o carro.

RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora