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CHRISTOPHER UCKERMANN

Dulce não faltou mais a nenhuma aula da pós e está interagindo na sala como qualquer outro aluno. Nossas aulas particulares vão bem, ela também parou de me evitar no Instituto e, juntos, elaboramos várias atividades para as crianças, que ficaram muito felizes e empolgadas com a nossa colaboração.

Aquela tensão das primeiras semanas desapareceu depois que fomos sinceros e admitimos um para o outro que não esquecemos tudo o que vivemos, que os sentimentos permanecem os mesmos. No entanto, depois que nos beijamos, um outro tipo de tensão apareceu e essa está me enlouquecendo.

É muito mais difícil resistir aos encantos da Dulce quando eu já provei deles uma vez, sei que ela me quer tanto quanto eu a quero e não vejo mais esse desejo como um pecado ou coisa do tipo. Nossa circunstância de professor-aluna tornaria o ato antiético, mas não imoral. Isso significa que meu autocontrole está por um fio.

Minha vontade é de trancá-la na primeira sala vazia depois do expediente quando ela se aproxima demais de mim e posso sentir o cheiro adocicado do seu perfume ou quando enxergo um brilho de desejo nos seus olhos enquanto ela sorri de lado e me encara com uma certa malícia.

Nossa conversa ficou em aberto e eu prometi que esperaria um momento mais propício para tê-la, onde Dulce estivesse mais confortável para se abrir comigo e a situação fosse mais favorável para nós, mas às vezes flertamos quando estamos só nós dois. Ela também não se esquiva dos meus abraços mais longos, dos breves beijos ou carinho que faço em seu rosto, e demonstra muita gratidão a todo presente que lhe dou – seja um chocolate, uma flor, entradas para alguma peça de teatro, um livro e etc.

Eu não tenho a menor intenção em esconder meu desejo de tê-la de novo, embora esteja na dúvida se estou agindo da melhor maneira. É inegável que estar perto da Dulce me faz muito bem, mas nem tudo é como a gente quer, infelizmente, e eu me pergunto se entre nós dois sempre será assim: uma espécie de amor inalcançável.

Escuto alguém chamar meu nome e pisco os olhos algumas vezes para focar na figura que está na minha frente. É o Christian e ele parece um pouco confuso.

— Ei, Christian! O que aconteceu?

— Te cumprimentei e você não me respondeu. Está tudo bem? — percebo que estamos parados no corredor que vai dar na sala da Dulce e lembro de que estava caminhando em direção ao estacionamento para ir pra casa.

— Está. Só estava um pouco distraído. Desculpe.

— É, eu percebi que você estava no mundo da lua — ele sorri divertido e eu não evito de rir também, mas por outro motivo. Lembrei do desenho que a Dulce fez da lua — E aí, como estão as aulas por aqui? Já se adaptou?

— Perfeitamente. Eu sempre sonhei com este lugar — falei literalmente, mas o Christian deve ter entendido de um jeito hiperbólico — Sem falar que eu sou o professor favorito das crianças... — ele solta uma gargalhada.

— Não deixa a candy te ouvir dizendo isso.

— Por falar na Dulce, você a viu hoje?

— Está na sala dela. Pensei que você estivesse indo até lá. Hoje ela teve várias reuniões com novos possíveis patrocinadores do projeto.

— Entendi. Então eu não vou interrompê-la.

Um homem vestindo um blazer, que parece muito caro, passa por nós e encerramos a conversa para observá-lo. Não sou de julgar as pessoas, mas a primeira impressão que ele passou é de ser um grande mauricinho. Ele caminhou até a porta da sala da Dulce, bateu e aguardou. Não demorou para que ela aparecesse com um enorme sorriso no rosto. Escuto quando ela fala "Diego" e, de repente, o cara a pega pela cintura e a suspende do chão enquanto a abraça.

RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora