DULCE MARIA
Olho para o relógio na parede, atrás do professor de história, pela milésima vez em quinze minutos. Bufo irritada ao perceber que o tempo está se arrastando e balanço a perna impacientemente. Não tenho notícias de Christopher há dias, desde sábado, e hoje já é quarta!
Meu coração aperta de um jeito estranho e uma sensação ruim me invade. Fico apreensiva e começo a roer as unhas, ignorando o olhar repreensivo de Anahí. Aos poucos tento me tranquilizar, pois sei que a aula dele é a próxima e, quando todo mundo sair da sala para o intervalo, eu posso fingir que tenho uma dúvida para mantê-lo aqui por mais alguns minutos. Assim, conversamos. Ou não.
Mordo o lábio maliciosamente, imaginando se teremos tempo para uma rapidinha na sua mesa — sempre fantasiei com isso — ou para eu fazê-lo um boquete. Estou morrendo de vontade de sentir seu pau pulsando na minha boca outra vez. Nunca senti vontade de transar tantas vezes com uma única pessoa antes. Nem mesmo com os caras que já "namorei". Tínhamos alguns momentos ótimos de sexo, mas sempre terminava comigo procurando outra pessoa. Com o Christopher não é assim. Quanto mais tenho dele, mais quero ter. Ele é viciante.
Finalmente, o sinal toca e ajeito minha postura na cadeira. Estava quase dormindo, então passo as mãos levemente no rosto para despertar e arrumo os cabelos. Olho para a porta, mas ninguém entra por ela. A mesma sensação ruim de antes me invade outra vez. Por que caralhos isso fica voltando? O que está acontecendo comigo?
Vejo um homem desconhecido, que aparenta ter a mesma idade de Christopher, entrar na sala carregando alguns livros embaixo do braço e vestido com uma batina. Provavelmente, é outro seminarista. O homem é seguido pela figura do diretor e todos na sala fazem absoluto silêncio. Sigo olhando para a porta na esperança de ver uma terceira pessoa entrar, mas Christopher não passa por ela.
— Bom dia, classe! Este é o seminarista Rafael, o novo professor de artes de vocês.
O que? Não posso acreditar no que acabei de ouvir. Arregalo os olhos ao sentir uma pontada no estômago e respiro fundo em busca de ar. Acho que toda pressão do meu corpo caiu. Começo a suar frio e busco a mão de Anahí por cima da mesa para me segurar. O reverendo parece me julgar com o olhar, como se soubesse de alguma coisa.
— Infelizmente, o professor Christopher pediu desligamento da escola e do seminário por questões pessoais.
Ele segue falando, mas eu não escuto nada. Acho que aperto a mão de Anahí com um pouco mais de força, porque percebo ela virando na cadeira para me olhar e escuto sua voz sussurrando algumas palavras, mas elas soam distantes e eu não consigo entender. Fico completamente atônita pensando em como Christopher pôde sair da escola sem sequer se despedir de mim. Nunca passou pela minha cabeça que ele poderia partir assim.
Estou com um turbilhão de dúvidas rondando minha mente. Quando ele tomou essa decisão? Por que não me falou nada? O que ele pretendia fazer depois? Será que iríamos continuar nos encontrando? Foi por mim que ele se afastou? Isso significa que ele quer ficar comigo ou quer distância de mim? Por que me importo se ele quer ficar comigo ou não? Eu nunca liguei pra isso mesmo! Mas, depois do dia em que passamos juntos, por um instante eu cheguei a desejar que... Pensei ter sentido algo diferente estando com ele. Agora vejo que estava redondamente enganada. Christopher não é lá muito diferente de todos os outros caras.
Sorrio irônica enquanto sinto meus olhos encherem de lágrimas, mas me recuso a chorar. Cruzo os braços e sinalizo para Anahí que estou bem. Logo ela começa a prestar atenção na aula e eu volto a me perder nos meus pensamentos até o sinal tocar para o intervalo.
— Não vai almoçar com a gente? — Anahí pergunta, se referindo a ela e Alfonso.
— Depois eu encontro vocês no refeitório — minto — Vou só no quarto pegar o livro da próxima aula que eu esqueci.
Sei que Anahí percebe a mentira, mas mesmo assim ela assente e sai de mãos dadas com o Alfonso. Ela sabe que não adiantaria insistir. Preciso ficar sozinha agora. Solto um grito raivoso ao entrar no quarto e bato a porta com um pouco mais de força. Que droga, Christopher! Mais que droga! Vejo um pequeno embrulho sobre minha cama, que não estava ali mais cedo, e corro para pegar. Pelo tamanho, parece um caderno. Quem me daria um caderno? Pego um envelope que estava embaixo do pacote e reconheço a letra de Christopher no escrito "Para Dulce María". Meu coração dispara acelerado e respiro fundo antes de abrir a carta.
"Dulce,
Gostaria de ter dado esta notícia de uma forma diferente, mas confesso que me faltou coragem. A essa altura você já deve saber que eu saí da escola e do seminário. Bem, eu não poderia permanecer na mesma vida depois de tudo o que aconteceu entre nós.
Eu sabia desde o princípio que era arriscado, que estava brincando com fogo, mas eu não pude evitar nem me proibir de sonhar contigo e te desejar. Mesmo quando não quero, eu acabo pensando em você. E eu não sei se posso ou se devo fazer isso, mas não sei dizer que te amo sem dizer "te amo".
Eu amo você, Dulce! Preciso que saiba disso. Não posso te amar em segredo, seria um sacrilégio.
Apesar de ter saído queimado dessa brincadeira, não me arrependo do que aconteceu. Você me fez ver o céu na terra e, talvez, este seja o mais belo erro que já cometi. É por isso que estou partindo, não somente da escola, mas também da sua vida. Sei que você não sente o mesmo por mim, então optei por escrever esta carta. Seria difícil demais olhar nos seus olhos sem imaginar todos os momentos que passamos juntos, seus beijos, seus toques, o seu cheiro, a sensação de te ter em meus braços, o som da sua risada...
Enfim, eu não quero, em hipótese alguma, que você se sinta culpada por algo. Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Graças a você agora eu tenho uma certa força e determinação. Você abriu meus horizontes e serei eternamente grato a você por isso. Como uma forma de recompensar o que fez por mim, deixo este caderno para que você possa fazê-lo de diário. Sei que tem muitos sentimentos guardados em seu peito e é importante que você os coloque para fora. Escrever, talvez, te ajude a compreendê-los e a lidar melhor com eles.
Christopher"
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Redenção
Fanfic+18| FINALIZADA | Dulce María é uma jovem de dezessete anos que acabou de se formar no ensino médio e se aproveita da fortuna dos pais para aprontar todas pela cidade. Por causa disso, seus pais a enviam para um colégio interno religioso, onde a ob...