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DULCE MARIA

— Você precisa ir agora ou vai se atrasar — minha mãe diz da porta, mas não me mexo — Dulce María! Será que vou ser obrigada a te dar uma ordem depois de todos esses anos? — rio pelo nariz e a olho por cima do ombro.

— E quando foi que eu obedeci, hein? — ela revira os olhos e sorri divertida — Eu não quero deixar a Milena sozinha, mãe... — respiro fundo e volto a encarar a menina deitada na maca da enfermaria. Ela está dormindo agora, depois que a enfermeira conseguiu fazê-la tomar um remédio.

— Ela não está sozinha, Dulce. Tem dezenas de pessoas aqui que vão cuidar dela, você não precisa se preocupar — minha mãe se aproxima de mim e aperta meu ombro delicadamente — Ela só tem um resfriado, filha. A febre já cedeu...

— Eu prometi que ficaria aqui com ela...

— E você já ficou! Na verdade, já ficou tanto com essas crianças que atrasou seus estudos, você prometeu que iria para a pós, não vou deixar você faltar na primeira aula, vim até aqui para isso.

Suspiro longamente sabendo que ela tem razão, mas uma parte de mim quer apenas ficar aqui e cuidar para que Milena se recupere logo. Odeio quando um deles fica doente, me sinto completamente impotente. Cedo aos pedidos de minha mãe e me obrigo a levantar da cadeira plástica ao lado da cama, me certifico de que Milena está coberta e beijo sua testa antes de me afastar da maca, acenando para a enfermeira que está trabalhando, e minha mãe me acompanha para fora da enfermaria.

— Quando a mãe dela chegar para buscá-la, pode tentar descobrir se estão precisando de algo? — pergunto ao entrar em minha sala e começar a organizar minhas coisas.

O diário que Christopher me deu está aberto em cima da mesa e o fecho rapidamente, enfiando-o dentro da bolsa, e pego as chaves do meu carro.

— Não precisa se preocupar, meu amor, vou conversar com a mãe da Milena. Se elas estiverem precisando de algo em casa, iremos ajudar.

— Obrigado, mamãe! — sorrio largamente e dou a volta na mesa para beijar sua bochecha — Agora eu vou ou vou me atrasar ainda mais.

— Boa aula, filha!

Começo a apressar os passos quando saio da minha sala, mas basta eu pisar no pátio para as crianças começarem a correr em minha direção, e é impossível eu simplesmente ir embora sem dar atenção a elas. Falo rapidamente com todas e corro em direção ao meu carro. Merda! Já são cinco e meia, a aula vai começar em meia hora e sei que o trânsito da cidade não vai me deixar chegar no horário certinho, vou precisar pisar fundo no acelerador.

Felizmente, Deus parece estar ao meu lado e deixou um trânsito bem livre para que conseguisse entrar na sala de aula antes do professor, mas a sala já está um pouco cheia, as pessoas estão conversando entre si e, automaticamente, já me sinto meio deslocada aqui. Eu não sou mais a garota de antes, se tem algo que eu prefiro fazer hoje em dia, é ficar na minha.

Por isso me acomodo em uma cadeira livre no fundo da sala, eu teria sentado na frente, mas não tem mais nenhum lugar livre, vou tentar chegar cedo na próxima aula. Aproveito que o professor ainda não chegou para pegar minha agenda e começar a verificar os compromissos de amanhã.

Tenho reunião com um possível patrocinador, e seria muito bom conseguir alguma ajuda que não venha dos meu pais. Recebemos algumas doações mensalmente, mas a maior verba ainda vem deles. Também tenho reunião com os professores do centro e...

— Boa tarde!

Um arrepio sobe por minha coluna e travo completamente. Essa voz... Pode passar mil anos, mas eu sempre serei capaz de reconhecer essa voz... Não é possível!

RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora