Capítulo 02: Tu Não Falas Muito, Pois Não?

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Quase no final da minha aula fui chamada ao gabinete do conselho. Não sei porquê mas senti como se estivesse em apuros. Não me lembro de ter feito algo particularmente mau, mas é como aquele sentimento que tens quando caminhas por uma loja e o alarme está a tocar como um louco, e mesmo que não tenhas roubado nada acabas por te sentir tão culpado como se o tivesses feito. Eu não devia ficar assustada. Eu não fiz nada de mal, afinal de contas. A menos que não falar e assistir netflix todo o fim de semana fosse contra o código do estudante, aí, sim, ia estar num grande problema. Caminhei até ao gabinete e mostrei o meu passe.

"Deves ser a Elizabeth Reese" disse um dos alunos do conselho, Mr. Perez. Assenti com a cabeça e sentei-me numa cadeira em frente à secretária.

"Porque é que estou aqui?" Perguntei timidamente. Ele inclinou-se na secretária usando os cotovelos como suporte e apoiou o queixo nas suas mãos.

"Não te preocupes. Não estás em apuros. Isto é apenas relacionado com os créditos que precisas para te graduares." Ele disse, reagindo à expressão na minha face. Expirei de alívio. "Na escola secundária do Omaha precisas dum crédito de arte para te graduares".

Recuo até a todas as aulas que tive quando estava em Seattle e não me consigo lembrar de nenhuma aula de artes. Tinha principalmente aulas de academia, e evitava arte ao máximo. O que era irónico, visto que Seattle é conhecida como uma das cidades mais criativas. Lá, estava dispensada de artes, mas não me parece que aqui funciasse assim.

"O que devo fazer?" Questionei preocupada. Espero que eles não me façam repetir um ano inteiro por causa duma disciplina. Já detesto que chegue o secundário, não quero ficar aqui mais um ano.

"Bem, tu podias ter aulas de artes online mas eu reparei que tens um período livre no teu horário. As únicas aulas, no sexto tempo, que oferecem um crédito de artes são as aulas de coro. Está tudo bem para ti?"

"Claro" Concordei. Ele escreveu qualquer coisa no computador e imprimiu o meu novo horário. Estendeu-mo e eu levantei-me do meu lugar, agradecendo. O último período do dia ia começar em 5 minutos quando caminhei para o corredor de arte e senti algo familiar. Já estive aqui antes? Espera um segundo...

O Jack não tem coro?

Estava apenas a alguns passos da entrada da sala mas conseguia ouvi-los a aquecerem as suas vozes. Eles iam dos mais baixos para os mais altos ritmos. Como é que isso ajuda as vozes? E agora, o que devo fazer? Não sou uma cantora. Caminhei até à sala e assim que a porta bateu pareceu-me que tinha interrompido o aquecimento. O coro parou imediatamente enquanto eu estendi o papel à professora. Senti milhares de olhares que me observavam e muitos sussurros silenciosos dizendo "Quem é ela?"

"Elizabeth Reese" Mrs. Erickson, a professora do coro, lê em voz alta enquanto olha para o recado. A sua cabeça virou na minha direção e eu assenti timidamente. Olhou para o grupo de estudantes que se encontravam nos degraus mais altos e chamou-a apenas com um dedo.

"Mary Ann, vem cá por favor." Disse enquanto olhava para a turma. Recusei-me a olhar para cima com medo que sentisse algum tipo de ansiedade do palco, ou com medo de encontrar os olhos de Jack.

A rapariga chamada Mary Ann desceu dos degraus quando a professora a chamou.

"Por favor tenta descobrir qual é o tipo de voz da Elizabeth, e explica-lhe como funcionam as aulas" Ela instruiu.

"Muito bem" Mary Ann sorriu. Encaixou o braço com o meu e levou-me para uma sala pegada àquela. Ela parecia muito amigável. A sala tinha um piano e um quadro branco. Devia ser uma sala à prova de som, porque assim que a porta se encontrou fechada, não conseguia ouvir mais as vozes do coro.

Secret Valentine. Jack Gilinsky. Tradução PT-PTOnde histórias criam vida. Descubra agora