Capítulo 03: Ninguém Gosta De Estar Sozinho

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Passou uma semana desde o incidente no carro, mas as coisas têm corrido bem. Nada de sério tem acontecido. Não é como se ele dedicasse a sua vida a arruinar a minha apenas porque recusei boleia para casa. Tenho continuado a apanhar o autocarro para a escola e de volta para casa todos os dias. Costumo ouvir música durante o caminho para tentar bloquear o resto do mundo. Não há muita gente no autocarro e também não há muito barulho, por isso é completamente silencioso de manhã. Uau. O álbum dos 5 Seconds Of Summer é espetacular. Enquanto abano a cabeça ao som da música olho para a janela.

A paragem seguinte não tem muita gente, mas vejo uma pessoa claramente. O que é que ele está a fazer aqui? Tenho a certeza que ele conduz até à escola. Tento evitar contacto visual e continuo a olhar pela janela esperando que ele não olhe de volta para mim. Tenho um mau pressentimento quanto a isto.

"Hey Beth, importas-te se me sentar aqui?" Ele pergunta, referindo-se ao lugar vazio ao meu lado. Antes que possa responder ele tira a minha mochila e senta-se mesmo naquele lugar.

"Porque é que estás a ir de autocarro?" Pergunto - um pouco fria demais. "Não tens carro?"

"O meu pai está a usá-lo hoje" responde com uma pequena gargalhada. "Porquê? Não posso apanhar o autocarro?"

Olha para mim com o seu incrível sorriso, mas eu viro-me para o evitar. Tenta algumas vezes falar comigo mas eu respondo com encolher de ombros ou sorrisos.

"Porque é que não queres ter amigos?" Pergunta seriamente. O meu coração pára, porque não consigo encontrar uma resposta para isso, sem soar patética.

"Gosto de estar sozinha" Respondi baixinho, evitando o seu olhar.

"Isso não é verdade. Ninguém gosta de estar sozinho." Afirma.

"Não preciso de amigos." Respondi.

"Toda a gente precisa de um amigo, no mínimo" Ele diz. Isso não é verdade. Tenho estado sem amigos toda a minha vida e tenho estado bem. Soa depressivo mas não preciso de contar com as pessoas. O mundo é um lugar difícil onde a única pessoa em quem posso confiar sou eu própria.

Quando finalmente chegamos à escola saí irritadamente do autocarro. Podia sentir o olhar de Jack nas minhas costas enquanto caminhava até ao meu cacifo. Ele estava errado. Eu não preciso de amigos.

Caminhei para a minha primeira aula e sentei-me no lugar que me estava destinado. O professor anunciou um grande trabalho que devia estar pronto até ao final do mês. Disse que podia ser feito com colegas ou individualmente. Deixou o resto da aula livre para que as outras pessoas pudessem juntar-se em grupos. No momento em que o professor disse "grupos" alguns alunos viraram-se na direção dos amigos e fizeram um acordo mental para ficarem juntos apenas através de contacto visual. Nada foi dito em voz alta mas era como se conseguisse ouvi-los. Vi toda a gente juntar-se com seus os amigos.

Houve apenas algumas vezes na minha vida em que me senti sozinha. Uma foi no segundo ano, quando ia participar numa peça da escola como flor. Disse à minha mãe e ela disse que iria mas não apareceu. Toda a gente tinha a família presente. Levaram irmãos e irmãs e alguns levaram até tios e tias, mas a minha única mãe não apareceu. A segunda vez foi durante o Natal do sexto ano. Normalmente, a minha mãe iria levar-me com ela para o trabalho, mas a partir desse ano deixou de o fazer e comecei a passar os Natais sozinha. Estive sozinha a maior parte dos anos que se seguiram mas sentia-me mais solitária durante as férias. Foi provavelmente a terceira vez na minha vida em que me senti sozinha. Quando fui para a escola em Seattle houve muitas vezes em que coisas como estas aconteceram, mas naquele dia em particular, senti-me sozinha. Nunca tinha prestado muita atenção mas toda a gente parecia extremamente feliz, escolhendo os seus companheiros e trabalhando com os amigos.

Durante o almoço daquele dia decidi comer em vez de ir para a biblioteca. Depois de tirar o meu tabuleiro de comida procurei uma mesa vazia. Avistei imediatamente Jack e o seu grupo de amigos que pareciam estar a apreciar a companhia uns dos outros. Todos sorriam e gargalhavam. Quase parecia um anúncio de roupa. Tentei ao máximo evitá-lo e sentei-me no canto da cantina perto dos caixotes do lixo. Olhei em volta para a minha mesa vazia e comecei a sentir pena de mim mesma. Jack estava certo? As pessoas precisam mesmo de amigos? Nunca ninguém mo tinha dito portanto nunca tinha pensado muito nisso.

No meio dos meus pensamentos senti a minha mesa tremer um pouco, e vi Jack sentar-se em frente a mim.

"Tu pareces precisar de alguém? Talvez um amigo?" Ele disse provocatoriamente.

"Não preciso de amigos. Estava muito bem sozinha." Afirmei, colocando batatas fritas na minha boca. Levantei-me para arrumar o meu tabuleiro mas Jack seguiu-me para fora da cantina.

"Porque é que é tão difícil para ti aceitar que eu quero ser teu amigo?" Ele pergunta enquanto vou embora.

"Eu continuo a dizer-te que não preciso de amigos! Porque é que queres ser meu amigo de qualquer das maneiras?" Parei e virei-me para o encarar.

"Eu não sei. Tu és interessante e eu quero conhecer-te." Encolheu os ombros. Fui salva pelo toque da campainha e deixo Jack no meio do corredor enquanto faço o meu caminho para a última aula.

Temo ir para o autocarro depois das aulas porque sei que o Jack vai estar lá e vai continuar o seu argumento. Encolho-me no meu sítio esperando que ele não me veja, mas tenho pouca sorte, porque ele encontra-me e eu pareço uma completa estúpida tentando esconder-me no assento.

"Tu sabes, não te podes esconder de mim para sempre" Brincou. Sento-me direito no meu banco e tiro a minha mochila do local onde ele se senta. Assim que se senta tira o telemóvel do bolso de trás. "Qual é o teu número?"

"Não precisas dele" a minha voz eleva-se. O caminho é silencioso até estarmos quase na minha paragem. Quando olho para ele, o seu rosto ilumina-se como se tivesse tido uma ideia. Estava certa.

"Não vou sair daqui até me dares o teu número." Ele ameaça.

"Não farias isso." Encarei-o.

"Isso é um desafio?" Ripostou. Tentei tirá-lo do caminho e ficar em pé mas, ao mesmo tempo, estava completamente consciente que ele tinha que tocar no meu rabo para me voltar a sentar no meu lugar. Meu deus, ele enerva-me! Porque é que faz isto comigo? Tinha a minha mão contra o seu ombro enquanto continuava a tentar tirá-lo dali mas a minha mão escorregou e comecei a puxar uma área à qual não sou completamente bem-vinda.

Os seus olhos começam a ficar enevoados e ele encolhe-se completamente de dores.

"Oh meu deus Jack. Peço imensa desculpa!" Desculpo-me uma e outra vez até pararmos na minha paragem. "Bem, é a minha paragem. Adeus!"

Deslizei sobre ele e corri para fora do autocarro, deixando-o a contorcer-se de dores.

Ainda não consigo acreditar que aquilo aconteceu.

Secret Valentine. Jack Gilinsky. Tradução PT-PTOnde histórias criam vida. Descubra agora