Herdeiros

24. Visita

ALRY:

Eu precisava de ar, de um tempo, precisava sair das paredes daquele castelo, de um tempo, por pouco que fosse, eu necessitava disso. Afundei meus pés descalços na areia, eu saí do castelo, deixei minhas botas, ainda estava com a roupa molhada, bom, tinha secado um pouco com o tempo, mesmo assim ainda estava bem úmida. Vim para o único lugar aonde me acalmaria, aonde poderia deixar meus pensamentos soltos e surtar avontade, ninguém escutaria. Estava na costa leste, perto do reino da sereias, no litoral, andando sobre a área morna em quando o barulho do quebrar das ondas acalmava a minha mente agitada, a brisa com o cheiro oceânico limpava o meu olfato do cheiro de sangue podre dos demônios que matei hoje.

Eu tenho que adimitir, eu precisava mais de um momento, eu precisava mais do que segundos, mais que minutos, cheguei a achar que horas iriam bastar, mas não bastou nem dias. Tá pesado demais, pesado pra carregar, tem muita coisa a se pensar e eu consegui falhar em um primeiro instante, não, não é esse tipo de pensamento que tem que ocupar minha mente agora, nenhum desses, tá na hora de crescer Alry, seus pais não vão mais está te esperando para o café da manhã.

Eu entendi perfeitamente isso, por isso programei cada centímetro da minha mente para corresponder a ocasião, sem sentimentos, apenas a razão e o foco. Temos um inimigo, os supremos, mas não posso manter minha mente focada em apenas uma coisa, preciso prestas atenção ao redor e as peças estavam sobre a mesa, eu precisava montar aquele quebra cabeça, descobrir o que faltava, aonde iria parar, como eu iria vencer. Você Alry, apenas você Alry, não é opção não conseguir é obrigação conseguir.

- Alry vansal -a voz familiar me chamou, virei o rosto encontrando Ancara, a rainha das sereias caminhando com calma até mim.- o que a trás aqui novamente?

- pensamentos- respondi sendo breve quando meu olhar se voltou para a magnífica paisagem a minha frente.

- Acho que sei qual a origem desses pensamentos, dessas preocupações, aflições- Ancara falou com suavidade, aquela postura firme e centrada que desejaria muito ter.

- aonde quer chegar?- perguntei já sabendo que tinha muito mais do que simplesmente aquelas palavras falavam.

- Eu sei até onde a Ayra estava disposta a ir pela sua família, pelos seus- a Rainha falou calmamente e com suavidade- mas até onde você estaria disposta a ir pelos seus?

- Até o fim- falei com toda a franqueza- Até o fim de Tudo- mas isso não pareceu a convencer.

- O quanto está disposta a sacrificar pela sua família? Pelo seu reino- ela perguntou.

- tudo o que sou e tudo o que tenho- falei e cada palavra era verdade, um juramento feito pelo meu coração e minha vida.

- Mesmo que o peço para a salvação deles seja a sua condenação?- ela perguntou em desafio.

- Mesmo assim- rebati, com toda a minha determinação- estarei disposta a pagar esse preço se preciso. Aceito minha destruição, se for o custo da salvação deles.

Os olhos de Ancara permaneceram em mim por um longo momento, a leve brisa do mar agitou os meus cabelos soltos do rabo de cavalos. Eu sabia o que ela procurava, qualquer rachadura em minhas palavras, mas não tinha, não tinha nenhuma, por que eu não estava apenas falando com coragem, estava falando como uma promessa, a minha promessa, pelo meu amor, pela minha família e quem eu amo, esse tipo de promessa pela qual corro até o fim e lutaria com unhas e dentes para que aconteça, mesmo que eu não esteja entre eles para ver ela se concluir.

Senti meu sangue fluir mais rápido em minhas veias e as batidas do meu coração martelando em meu peito com a promessa, meu corpo, cada centímetros estava quente e a determinação queimava em meus olhos e as chamas pareciam cravar a promessa em meus ossos pela eternidade e eu não recuei ou recusei um segundo, eu faria e vou fazer de tudo para protege-los custe o que custar, mesmo que eu morra e a minha alma seja condenada, mesmo que eu passe a eternidade sofrendo, por eles sofreria de bom grado e aceitaria essa condenação eterna. Um sorriso, um sorriso leve de compaixão e misturado com algo que não sei explicar, foi o que me deu em resposta.