O Leilão pt 2

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As vezes nos encontramos em um estado de negação que não permite que vejamos aquilo que está bem embaixo dos nossos narizes, e hoje em dia eu penso que isso se tornou uma coisa tão enraizada em mim que eu nem mesmo percebo que está tudo errado, tudo fora do lugar, sem orbita, sem sentido...

Tudo que as vezes precisamos para nos encontrar é nossa casa, nosso lar, mas quando estamos perdidos nem sempre isso se torna nosso porto seguro, nosso Norte. As vezes a menção da palavra casa se torna tão insuportavelmente aprisionador que sufoca até mesmo nossa alma, apenas o pensamento de que quando eu retornasse para casa estaria tão sozinha aprisionada em paredes de agonia e solidão era motivo para eu gritar e gritar e gritar e gritar e continuar gritando, mas nunca sou capaz de deixar qualquer som sair dos meus lábios sempre curvados em um sorriso tão bem desenhado que Mona Lisa de DaVinci ficaria com inveja da representação.

Neste exato momento eu estava ao lado de Narcissa Malfoy naquele palco tão perdida que nem uma bussola e um mapa me faria encontrar meu caminho de volta, meu sorriso era excepcionalmente brilhante, mas tão falso que apenas um olhar de lado da Senhora Malfoy era perceptível seu receio, a cautela que ela falava comigo como se tivesse medo de que apenas uma palavra me fizesse desmoronar. O que ninguém entende é que não havia nada a desmoronar, no meu interior apenas escombros e cinzas se encontrava do que um dia já foi, apenas a sombra, uma sombra que gritava e pedia socorro, uma sombra que estava se afogando em sua própria escuridão.

Flashes e mais flashes me puxavam de volta a realidade porem por apenas segundos em que meu interior tentava se rebelar e vir à tona, mostrando a todos o meu interior com rachaduras, fissuras e furos. Minhas mãos tremiam enquanto os lances eram feitos, sorrisos e brincadeiras a minha volta não me faziam dispersar dos meus demônios me deixando a cada segundo que se passava uma dor permanente mais forte no fundo da minha garganta fazendo com que meus sentimentos se liquidificassem em algo pesado e dolorido, algo tão claro e salgado, algo que carregava cada passo, cada sentimento...

A medida que um novo almoço era leiloado eu me sentia mais e mais desesperada pela vontade de sair do meio de todos, eu não olhava diretamente para ninguém, não mais. Quando o almoço com Harry foi leiloado com o maior lance até agora meus olhos pousaram por alguns segundos na Gina e de longe um erro incorrigível, ela sabia, ou pelo menos tinha uma ideia do furacão que se encontrava em meu interior, seus lábios estavam fortemente pressionados um contra o outro os olhos levemente arregalados, assustados. Entregando a plaquinha do almoço arrecadado para Rita Skeeter enquanto Harry me olhava em desespero pedindo minha ajuda, para que eu o livrasse de mais aquela enrascada eu senti um sentimento que estava sobrepondo tudo que eu vinha escondendo dia após dia, meses após meses, anos após anos... raiva, vingança e mais raiva. Eu queria que esse almoço com a repórter mais fofoqueira da geração o fizesse sofrer, o fizesse sentir tudo que anos após anos eu venho sentindo com palavras de duplo sentido e especulações infundadas. Eu não livrá-lo-ia daquele almoço como faria até hoje mesmo antes do leilão começar tentando barganhar algo que aquela enxerida quisesse chegando até mesmo a ir em seu lugar.

Não, daquela vez eu queria que a minha dor fosse sentida. Eu queria que o meu desespero fosse acolhido e essa era a minha pequena vingança.

Gina ainda permanecia me olhando fixamente, Luna ao seu lado estava sorridente, mas mesmo assim aquele pequeno vinco em sua testa mostrava que ela sabia que algo não estava onde deveria estar. Nada estava no lugar.

Enquanto Blaise Zabini subia no palco com seu sorriso enigmático para começar o leilão de seu almoço seu olhar cheio descansou em meu rosto, beijando os nós dos dedos da garota que foi contratada para apresentar o leilão seguindo para a Senhora Malfoy a agarrando e beijando sua testa fazendo com que todos soltassem uma exclamação cômica para o ato de carinho e mesmo assim seus olhos pesados estavam em mim, ao vir me cumprimentar ele me puxou pela mão me fazendo dar um giro em sua frente como se quisesse mostrar ao público algo a se orgulhar me puxando em sua direção abaixando o rosto como se fosse me dar em beijo sussurrando em meu ouvido:

Ocean Eyes - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora