Liberation and Decisions...

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Quarta-Feira, 17 de setembro

Abrir os olhos...

Era uma tarefa quase impossível nesse momento, eu estava sentindo meus olhos pesados e mesmo com a dor insistente na minha cabeça eu a sentia alta, como se eu tivesse tomado meu segundo porre de champanhe e Merlin sabe que eu não pretendo fazer isso novamente por mais divertido que tinha sido.

Foi um dia legal, bem... tinha começado estranho, mas depois ficou divertido.

Estávamos no sexto ano e todos estava sentindo a ponta da varinha em seus pescoços, sentindo-se angustiada e triste por seu romance com Ron ter terminado tão abruptamente, por mais que eu estivesse quase tendo um ataque de ansiedade por tudo que estava por vir eu ainda arrumei tempo para me sentir egoísta e fazer alguma coisa além de tentar manter Harry e Ron vivos, Parvati apenas queria um motivo para beber, então eu e Lavender colocamos nossas diferenças de lado e praticamente nadamos em champanhe élfica que Parvati tinha roubado da adega da sua família antes de do ano letivo começar.

Começamos a beber rigidamente, eu nunca fui particularmente próxima delas, menos ainda depois que Ron e Lavender começaram a enfiar a língua na garganta um do outro em cada esquina, eu as considerava fúteis e fofoqueiras, sempre em busca da última fofoca quente para espalhar. Mas a cada gole da garrafa compartilhada eu ver elas por uma nova perspectiva. Parvati era muito inteligente e tinha uma dedução logica impecável, o que veio a calhar para sua atual profissão, quando soube que ela estava trabalhando para o profeta diário, não foi surpresa, quando ela foi escalada para cobrir as notícias politicas meu primeiro pensamento foi que talvez essa divisão não seria muito generosa com ela, um engano, realmente um engano, Parvati era como uma luva para o as reportagens políticas, ou a divisão era como uma luva para ela, não sei bem, mas quando eu li sua primeira reportagem com seus comentários ácidos e ao mesmo tempo sutil percebi que ela tinha nascido para aquilo. Lavender por outro lado era empática e sensível, quando ela parou de me lançar olhares matadores eu pude ver que ela realmente poderia ter um futuro em adivinhação, mesmo eu achando que aquilo era um lixo completo. Ela era uma pessoa carismática e prestativa, embora as vezes exagerasse, ela era bastante comunicativa e entusiasmada, ela falou que tinha certeza que a professora Trelawney estava enganada sobre minha leitura, e literalmente puxou minha mão para si e começou a traçar linhas imaginarias em minha palma com o dedo mindinho, ela focou por tanto tempo em minha palma que eu pensei por alguns segundos que ela estava dormindo, mas então ela virou um longo gole do champanhe e falou que Sibila Trelawney estava certa, mas também estava errada, havia algo de velho e antigo em minha alma, porem o jovem e o renovado estava junto. Ficamos em silencio por um momento até Parvati cortar o silencio aos berros perguntando o que caralhos ela quis dizer com aquilo, respondendo que não fazia ideia todas nós caímos na gargalhada. Foi realmente uma distração divertida para tudo que estava acontecendo naquele ano. Pelo menos até eu amanhecer com tanta dor de cabeça que parecia ter sido espancada por um Trasgo e o estômago girando como se eu tivesse comido uma das vomitilhas e Fred e George.

Era mais ou menos assim que minha cabeça estava, estava no momento, com a diferença que a dor era mais forte, muito mais forte. Era como receber um cruciatus direto no crânio.

Tentei abrir os olhos mais uma vez, mas eles continuavam pesados, desisti por mais alguns segundos.

Estava tudo tão silencioso, uma tranquilidade tão envolvente. Quase uma paz, mas abaixo da superfície eu sabia que havia o caos, eu só não me lembrava porque, sabia e conhecia, mas não lembrava, será que é importante? Eu não lembrava...
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Ouvi alguns passos ao meu lado, me fazendo despertar da minha inércia. Devo ter cochilado um pouco, estava tudo tão silencioso que a paz me envolveu.

Tentei abrir meus olhos novamente e dessa vez eu tive algum sucesso, abrindo minimamente notei que o ambiente estava a meia luz, fechei os olhos com força tentando aliviar a pressão glóbulos Oculares, quando os abri novamente eu percebi uma presença ao meu lado tentei focar na pessoa que estava examinando atentamente o que parecia seria uma prancheta, fiquei alguns segundos olhando para a moça que parecia ter entre 25 a 30 anos, ela estava claramente cansada, mas ainda assim olhava atentamente para o papel em sua mão como se tudo aquilo fosse muito importante, quando ela tirou os olhos suas anotações percebeu eu a olhando, eu tentei transmitir qualquer som, mas nada saía, minha boca estava seca, fechei os olhos novamente tentando me concentrar nas palavras que eu queria usar, quando voltei a abri-los seu olhar era de espanto como se estivesse vendo pela primeira vez um fantasma, tentei falar novamente, mas ela me cortou rapidamente:

-- Não se esforce senhorita Granger! – Apressadamente ela colocou sua prancheta em um acrílico ao lado da cama e saiu falando.- Chamarei a doutora para examiná-la em um segundo.

Franzi o cenho quando a vi correndo pelo quarto, certamente eu não estava no St. Mungos, eu sabia por experiência própria que os medibruxos são chamados via patrono e correr pelo quarto não era muito típico dos trouxas também. A maioria utilizava um paige para comunicação interna. Então onde eu estava?
Antes que eu começasse a navegar em paranoias, uma mulher alta com passos decididos entrou no quarto e cabelos acobreados rigidamente preso em um coque, acendendo a luz, fechei os olhos imediatamente me sentindo momentaneamente cega devido a claridade.

-- Senhorita Granger, é um prazer vê-la acordada. – A voz da mulher desconhecida.- Meu nome é Isabell Firth e serei sua médica durando o período de estadia no Queen Mary.

Quando voltei a abrir os olhos ela estava olhando a mesma prancheta que a moça, que olhando sob uma nova luz parecia ser nova demais com os cabelos cacheados roxo presos em um rabo de cavalo frouxo, ao seu lado estava olhando antes. Entortando o lábio minimamente para baixo ela passou para a folha seguinte e depois voltou para a folha anterior, tentei falar alguma coisa, mas falar estava sendo um sacrifício tão pesado quanto manter os olhos abertos.

-- Eu sei que você tem muitas perguntas, mas o melhor é que você não se esforce muito. – Puxando um banquinho de rodinhas ela se sentou ao meu lado abaixando a grade para conversar comigo, no momento que ela abriu a boca para começar a falar alguém irrompeu quarto...

-- Ohhh Merlin, no momento que eu saio por cinco minutos apenas para pegar um café e tomar um banho ela acorda.... – Pansy estava parada no meio do quarto com os olhos verdes cheios de lagrimas. – Hermione... eu... Hermione... – Com um soluço alto ela estava ao lado da minha cama pronta para cair em cima de mim, mas a enfermeira ao lado da médica a impediu.

-- Senhorita Parkinson, entendo que esteja emocionada por sua amiga ter acordado, mas por favor mantenha a calma, não queremos causar mais dores... certo? – A medica olhou séria para Pansy que mordia o lábio inferior constrangida por ter sido repreendida, mas ainda continuava fungando me olhando com atenção.

-- Certo! – A doutora afirmou novamente, conferindo o soro em meu acesso ela voltou a falar comigo. – Bem... Senhorita Granger, você teve o crânio fraturado e agora está com um edema cerebral devido as fortes pancadas que recebeu em sua cabeça, você compreende isso? – Balancei minha cabeça afirmando lentamente pensando que agora fazia total sentido o nível de dor que estava sentindo. – Bom! Nos próximos dias você irá sentir muita dor de cabeça, náuseas e sonolência, talvez aja alguns casos de convulsão, mas não queremos isso, por isso já estamos lhe ministrando anti-inflamatórios e corticoides. Alguma pergunta? – Eu realmente não tinha nenhuma pergunta, eu já havia assistido as temporadas de A Anatomia de Grey e agora tinha certeza que alguns procedimentos representados eram reais, eu não estava muito interessada em qual tratamento seguiriam comigo, minha dúvida estava toda naquilo que eu estava com medo de saber.

-- Eu tenho... – Pansy se manifestou recebendo toda a atenção da médica. – Essas poções trouxas não vão afetar a inteligência dela certo? – Quando ela recebeu um olhar confuso da doutora sentada ao meu lado ela se encolheu levemente. – Olha, Hermione é a mente mais brilhante da nossa época, ela é inteligente, muito inteligente, ela tem um vasto conhecimento e perder isso seria...

-- Senhorita Parkinson, eu não sei exatamente o que você pensa sobre os remédios trouxas, mas te garanto que eles não irão causar nenhum dano a senhorita Granger, nós nos certificamos que ela não tinha alergia a nenhum deles. – Se virando para mim ela seu olhar se tornou cauteloso, o que me alertou para o que estava por vir. – Senhorita Granger, esse é um momento delicado, mas temos um protocolo a seguir... – meus olhos instantaneamente se encheram de lagrimas. – Você se lembra do que aconteceu?

Deixando as lagrimas rolarem por meu rosto o choro que se desprendeu de mim ao rever os flashs do acontecido foi compulsivo e desesperado, eu tinha obrigado minha mente a ignorar as últimas lembranças antes de cair na escuridão acolhedora. Mas ao receber aquele olhar cuidadoso eu sabia que não poderia permanecer em eterna ignorância. Então eu deixei a dor me dominar e chorei, apenas chorei por ter sido enganada, por ter sido ingênua, por ter levado anos para entender que aquilo não era amizade, por ter acordado tarde demais, por ter dado ouvidos a tudo que saiu daquela boca, por ter sido maltratada, por ter sido subjugada, por me permitir me sentir inferior, por ser levada a acreditar que aquilo nada mais era do que o que eu devia a ele, por ter escolhido não falar, por não reconhecer que eu precisava de ajuda, por ter deixado ele acreditar que poderia fazer isso comigo, por ter sido violada psicologicamente, verbalmente, fisicamente e sexualmente, e principalmente por ter acreditado que isso nunca aconteceria novamente.

Eu passei anos afirmando que algumas pessoas eram ruins, que todos tinham uma escolha, eu olhei torto muitas e muitas vezes para algumas pessoas julgando suas decisões, eu os considerei indignos de confiança e atenção, eu os diminui em meus conceitos quando eu caminhava ao lado do verdadeiro demônio.

Foram anos de amizade, passamos por desventuras e aventuras, estávamos lado a lado na linha de frente de uma guerra, eu entreguei minha confiança, meus sentimentos e meu coração. E o que eu havia recebido em troca?

Chorando ainda mais sentindo meu corpo dando leves sacudidas senti, braços delicados e firmes me puxarem para si. Tudo doía, até mesmo cada lagrima derramada continham sua carga de dor, meus braços estavam doloridos e cansados, mas a dor em meu peito era muito maior, então como um gesto defensivo puxei meu braço direito que não estava com o acesso pressionando-o em meu peito, cada soluço alto e dolorido que eu dava a pressão em minha cabeça aumentava ainda mais me fazendo desejar novamente estar morta.

-- Hermione querida, se acalme... Shiiii... Calma... – Era Narcissa, ela estava com o braço em volta dos meus ombros passando a mão carinhosamente por meus braços.

-- Ele... Ele.... – Minha voz ainda estava quebrada.

Foi uma tentativa vã de engolir o choro, eu não conseguia parar e ficar prendendo dentro de mim apenas me causaria mais dor, então apenas acenei afirmativamente de que eu me lembrava de tudo que havia acontecido.

-- Iremos precisar realizar os exames íntimos e...

No momento que ela começou a falar o desespero tomou conta de mim, eu estava realmente cansada e passar pelo o desconforto e humilhação que passei pela primeira vez. Negando com a cabeça chorando e chorando copiosamente fechei os olhos e me apoiando em Narcissa que continuava a me amparar.

-- Isso é mesmo necessário? – Sua voz foi ouvida em meio a minha agonia.

-- Eu não posso obriga-la a nada, mas esse é um exame muito importante.- Suspiro. – A informação que recebemos é que o seu agressor não chegou a concluir o... ato, porem quando a senhorita deu entrada no hospital anterior, estava sangrando e isso é um forte indicio de lacerações e a falta de cuidado pode acarretar terríveis consequências. – Ela pegou em minha mão confortando-me como se sentisse qual era foco do meu receio. – Querida, sabemos que é muito para absorver, mas será rápido e teremos o máximo de cuidado possível para que seja quase indolor, precisaremos ministrar os coquetéis pós estupro para possíveis doenças venéreas...

-- Céus... – Pansy guinchou ao lado de Narcissa.

-- Não...

-- Hermione, querida... – Narcissa começou com sua voz doce. – Isso que a doutora trouxa está dizendo parece muito importante, não queremos que você passe o resto da vida carregando as consequências desse dia... – Ela pressionou levemente meu braço. – Além disso eu e Pansy estaremos com você ou se você preferir iremos buscar Luna...

Apenas balancei minha cabeça negativamente, fechei os olhos me lembrando de tudo que eu tive que passar sozinha na primeira vez. Eu tinha chego no Queen Mary desesperada por ajuda, com dor e assustada.

Uma balconista gentil foi sensível o bastante para me levar a uma sala afastada para perguntar o que estava acontecendo, eu não conseguia controlar minhas lagrimas segurando um saco de nuggets congelado em meu olho e as vestes de Hogwarts por cima do que havia sido um belo vestido de verão florido, ele estava rasgado e ensanguentando assim como meu lábio inferior, eu mancava e sentia dores em lugares jamais pensei que poderia sentir, e eu havia acabado de sair de uma guerra violenta.

Horrorizada a balconista queria chamar a polícia, “abra um boletim de ocorrência, cuidaremos de você” foi o que ela disse. Prontamente eu neguei, eu sabia que não adiantaria nada, Ron não tinha registros trouxa, seria como procurar um fantasma. E ele era meu namorado, certo?

Não estava, mas eu me convenci do contrário.

Após fazer toda a minha ficha me apoiando literalmente, ela me encaminhou a uma sala de atendimento vazia, em poucos minutos um médico e uma psicóloga entraram na sala, me fazendo perguntas e a todo momento verificando o meu bem-estar, mas no momento que eu soltei que o meu agressor era meu namorado, foi como se todo o pesadelo que eu tinha passado naquela noite quente de verão não tivesse passado de uma briguinha besta entre namorados. Tudo então se tornou descaso e quando o momento de tomar os remédios para evitar doenças venéreas e uma possível gravidez eles me perguntaram pelos menos umas cinco vezes se eu realmente iria querer evita-la. Deus, tinha sido tão humilhante o jeito que eles me olharam como se estivesse sendo incomplacente ou teimosa com algo inevitável, então de mal gosto me medicaram e me enviaram as enfermeiras que fariam os exames. Elas já estavam sabendo e tomando suas próprias conclusões.

Elas me torturaram. Não tinha uma palavra para definir melhor o que elas haviam feito comigo. Me espetaram, me limparam e por fim me costuraram da pior forma possível, elas foram desleixadas de proposito e cada gemido que eu dava elas faziam novamente com mais força e sem piedade. A dor física era demais, mas ouvir seus comentários maldosos e pouco solidários, me lançaram a outro tipo de humilhação, um que me rasgou ao meio e foram preciso anos de autorreflexão para saber que aquilo não era o que eu era. Fiquei por três dias ouvindo suas piadas e sentindo na pele o que era ser desrespeitada indefesamente por uma sociedade machista que achavam que um abuso não era abuso apenas por ter sido seu parceiro a ter cometido o ato.

Foi frustrante e imensuravelmente doloroso, no dia em que eu sai do Queen Mary eu pensei em ir direto a uma delegacia e fazer denunciar todo o hospital, mas no momento incapacitante que eu estava eu não teria a menor força de enfrentar essa batalha. Então eu apenas deixei e voltei para o mundo bruxo me sentindo sufocada pedindo a toda e qualquer divindade que existente que não deixasse que outra garota passasse por toda aquela merda e se tivesse que passar que tivesse alguém ao seu lado, para não se sentir tão sozinha no mundo como eu me senti naquele momento.

Então quando Pansy segurou minha mão esquerda e Narcissa minha mão direita, mesmo que fosse uma situação deplorável eu estava grata por pelo menos não estar me sentindo sozinha.

Quando apoiei as pernas nas perneiras da mesa ginecológica e aquela enfermeira de cabelos roxos se sentou entre elas no banco baixo, eu apenas fechei os olhos com força e procurei não pensar na última vez que me encontrei naquela situação.

Não poderia dizer com certeza o que ela estava fazendo, mas tinha uma grande diferença de agora e da primeira vez. Ela era delicada e calma, eu não estava ouvindo o que ela estava falando e tentava a todo custo não prestar atenção, eu só esperava que aquilo terminasse o mais rápido possível. Então quando sua voz um pouco aguda chamou a doutora Firth, eu enrijeci na mesa e apertei as mãos de Pansy e Narcissa.

Se aproximando de onde a enfermeira estava ela olhou cautelosamente e franziu o cenho confirmando lentamente enquanto a garota ditou meio catatônica algo que foi anotado prontamente pela doutora.

Após toda a coleta do exame, ela me limpou gentilmente causando pouco impacto no órgão sensível informando fim tão ansiado.

Ao ser movida novamente para a cama, Narcissa continuou segurando minha mão direita entre as suas enquanto Pansy informou que estava indo informar Luna que o exame tinha terminado e conseguir travesseiros que não tivessem sido soterrados por uma manada de centauros em fúria. Eu desconfiava que ela apenas queria um minuto para se recuperar do choque de presenciar um dos exames mais intrusivos existentes, quando ela passou pela moldura da porta seu rosto despencou em algo muito atípico de Pansy, angustia.

-- Oh! Minha querida... eu... sinto tanto... eu... – Narcissa começou a falar e depois de gaguejar deselegantemente ela deixou sua voz morrer.

O seu belo rosto estava carregado de dor e sofrimento, assim como tenho certeza que minha mãe estaria se ela estivesse aqui. Apertando mais uma vez a minha mão quando meus olhos aguaram ao pensar na minha mãe que estava segura feliz em outro pais, porém sem o menor conhecimento de que tem uma filha que a ama, eu senti que o amor materno ainda me alcançava, Narcissa Malfoy me acolheu em seus braços, coração, família e casa sem olhar para o passado e a enorme diferença de cultura que nos separava.

Ficamos alguns minutos em silencio e então Pansy voltou rodeada por Luna e Daphne.

Pansy entrou altivamente fazendo barulho ao bater seus saltos no vinílico do piso segurando em cada  braço enormes travesseiros com fronhas de seda branca, Luna estava ao seu lado direito com um sorriso tenso nos lábios e um vinco entre suas sobrancelhas que se instala lá quando está preocupada, ela estava agarrada a outro travesseiro com fronha branca, Daphne estava um pouco mais atrás, ela era uma coisinha trêmula e chorosa, seu narizinho estava vermelho assim como seus olhos, em seus braços havia uma pelúcia de unicórnio quase do tamanho dos travesseiros e uma caixa de bombons explosivos. Quando seus olhos pousaram mim ela simplesmente empurrou o que pareciam ser presentes para Pansy e correu quase se jogando em cima de mim, eu fechei os olhos esperando a dor que sentiria ao receber o impacto, mas antes que ela chegasse em mim Narcissa a deteve:

-- Daphne Não! – Abri os olhos vendo-a parada a poucos sentimentos de mim olhando-me assustada.- Querida, a cabeça de Hermione muito machucada, seu corpo também está cheios de hematomas, não é prudente se aproximar tão bruscamente dela nesse momento.

-- Ohhhh! – Ela levou a sua mão de unhas bem cuidadas cobrindo a boca.

-- Sua destrambelhada! – Pansy se aproximou colocando a pelúcia alada aos pés da minha cama e começou a trocar os travesseiros um por um, sendo excessivamente cautelosa. – Você poderia tê-la matado.

Não pude deixar de revirar os olhos para veia dramática de Pansy, enquanto Narcissa tentava esconder um sorriso divertido pelas discussões das duas sonserinas.

-- Cissa, ela fala a verdade? – Daphne  perguntou claramente perturbada por pensar que quase me matou.

A resposta veio de Luna que sem cerimônia puxou o unicórnio para seu colo e se acomodou aos pés da cama esticando suas pernas ao lado das minhas.

-- Não acho que seu carinho teria matado Hermione Daph, mas vamos esperar até que Hermione possa retribuir sem sentir dor. – Era reconfortante ouvir a voz tranquila e sonhadora de Luna sendo sensata.

Luna pegou em meu pé por cima do edredom amarelo claro que agora percebo ser meu, alguém deve ter ido fazer uma mala com alguns pertences meu. A loira ao meus pés fazia movimentos circulares e repetitivos, me fazendo relaxar e começar a sentir meus olhos cada vez mais pesados enquanto ouvia Daphne e Pansy discutirem para decidir quem passaria essa noite comigo, aparentemente elas estavam se revezando para não me deixarem sozinha mesmo enquanto eu estava desacordada.

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Devo ter adormecido novamente, já que olhando em volta do quarto agora Narcissa estava sentada confortavelmente na poltrona ao meu lado lendo uma espécie de agenda ou diário, ela parecia estar totalmente concentrada.

Quando ela foi virar a página ela olhou para cima me encontrando olhando-a.

-- Bom dia Querida! – Seu sorriso iluminou aquele lugar estéril.

-- Bom dia....? – Respondi meio confusa com o horário que poderia ser agora.

-- Ontem após os exames enquanto as meninas estavam aqui você caiu no sono novamente, Daphne quem passou essa noite com você. – Ela fechou a agenda e se levantou. – Cheguei a um pouco mais de uma hora, logo após a troca de turno dos seguranças e...

-- Seguranças? – Minha voz estava tão áspera por causa do tempo sem uso, eu precisava de água.

-- Sim, ficam dois na porta, um em cada corredor desse andar e mais dois no elevador. – Rindo da minha careta ela continuou. – Demais? Talvez sim, talvez não, Kingsley, Draco e Potter entraram nesse acordo, Kingsley queria colocar metade do quartel general dos aurores nesse andar, Potter queria montar um acampamento no seu quarto, Draco sugeriu que fosse colocado seguranças em todo o prédio, não sei exatamente como chegaram nesse acordo, mas foi quase divertido vê-los exasperados entre si.

Kingsley como sempre exagerando com o seu jeito paternalista, sem medir as consequências de todas as ações e o que acarretaria no ministério, deixar o quartel general sem a metade da sua força é inconcebível.

Malfoy tinha essa mania de segurança para todos os lados, eles eram praticamente invisíveis, mas ainda sim estavam lá o tempo todo onde quer que Narcissa e Scorpius fossem. Era uma medida protetiva, Narcissa estava sempre na mira dos Comensais fugitivos que a consideravam traidora de sangue, Scorpius corria perigo apenas por ser o único Herdeiro da casa e filho de Draco Malfoy, mas era estranho tê-lo discutindo a segurança para minha segurança.

Harry era diferente, sempre foi meu amigo, mesmo que tenhamos tropeçado em uma certa barreira a certo ponto, então tê-lo acampado em meu quando enquanto me espera acordar é a cara dele. Era até mesmo estranho que ele e Ginny não tenham aparecido aqui assim que acordei. Me lembro de borrões que pensei ter visto Harry e Ron rolando pelo chão enquanto Ginny me chamava muito assustada.

-- Ginny... Eu pensei ter visto ela e Harry... Quando... bem... – eu não sabia como perguntar sobre eles.

-- Sim, Ginny e o senhor Potter a encontraram. – Narcissa estava enrolando para falar o que estava acontecendo. – Bem, enquanto Potter tentava matar aquele... Aquele... Enfim, Ginny tentava te socorrer, mas no estado avançado de sua gravidez ela não conseguia muita coisa além de gritar por ajuda, foi um golpe de sorte Pansy e Blasio estar passando por Diagon na hora, eles levaram vocês duas para o St Mungos as pressas enquanto Potter chamava pelos aurores.

-- Ela está bem? – Perguntei preocupada e completamente envergonhada por Blasio me ver naquele estado.- Como vim parar no Queen Mary?

-- Ohh! Ginevra Potter está ótima, um tanto preocupada com você como já é esperado. Mesmo precisando estar de repouso absoluto pelos próximos dias ela conseguiu colocar todo o Mungos de cabeça para baixo querendo saber como você estava, ela gritava a plenos pulmões que se alguma coisa acontecesse com você era melhor que Deus tivesse piedade de seu irmão pois ela desceria sobre sua cabeça, acho que você já pode imaginar.- E der repente sua expressão foi de quase divertida a indignada. – O St Mungos não tem um programa para agressões sexuais, eles apenas passam por cima da informação como se não fosse algo importante, mas isso...- ela gesticulou para tudo a sua volta.- Aconteceu com a bruxa nascida trouxa mais famosa do mundo bruxo, eles não poderiam apenas ignorar, então Kingsley mexeu alguns pauzinhos, conversou com a autoridade trouxa e moveu alguns curandeiros para esse hospital, fechou uma ala e selecionou a dedo as profissionais trouxas que cuidaram de você. Esse andar inteiro apenas pessoas autorizadas entram, no seu quarto até você acordar pelo menos, só mulheres...

Sua voz morreu quando a doutora Firth entrava acompanhada da enfermeira de cachos roxos e outra senhora de aproximadamente sessenta anos com os cabelos grisalhos e um olhar gentil.

-- Bom dia Senhorita Granger. – Ela se aproximou pegando a prancheta e conferindo as anotações adicionadas, provavelmente enquanto eu dormia.- Como se sente hoje?

-- Bom dia... Minha cabeça ainda dói terrivelmente ... – Tentei não ser muito dramática, mas eu sentia como se estivesse levando marteladas constantemente nela.

-- Isso é esperado... – ela estendeu a mão para a garota de cabelos roxos que lhe estendeu dois envelopes brancos com o slogan do hospital no meio. – Podemos abrir os resultados dos seus exames se todos estiver de acordo e depois a senhora Bessy enviada pelo senhor Shacklebolt seguirá com alguns procedimentos.

A senhora que me direcionava o olhar gentil, quase carinhoso, se curvou levemente em cumprimento e sorriu ao ser reconhecida.

-- Podemos seguir com a leitura? – A doutora perguntou pacientemente.

-- Er... Sim... Eu... Sim! – Balbuciei.

Como tirar uma Band aid ela abriu o envelope retirando as folhas e correndo seus olhos clínicos pelo conteúdo.

-- Aqui diz que você está limpa, o DNA bate com o do seu agressor...

-- DNA? Mas Ron...

-- Seu amigo nos forneceu, não existe no banco de dados, mas é ele. – Ela continuou falando. – Clinicamente falando você está... bem na medida do possível, mas fisicamente, você teve cortes e arranhões, o cuidado será manter a área sempre limpa e passar uma pomada durante sete dias ou até secar totalmente, mas... – Colocando as folhas novamente dentro do envelope ela me olhou como se conhecesse todos os meus segredos. – Realizando o exame encontramos uma cicatriz e preciso que você seja sincera ao me responder. – Ela continuava me olhando daquele jeito quase perturbador. – Senhorita Granger, essa foi sua primeira agressão sexual?

Ficando tensa, pensei em mentir e dizer que sim, mas eu sabia que continuar mantendo isso atrás das paredes não me faria bem, então tomando a decisão de finalmente admitir isso em voz alta pela primeira vez em dez anos deixei meus ombros caírem.

-- Não... – Sussurrei.

No momento em que a palavra saiu da minha boca, Narcissa petrificou em seu lugar. Ela mal estava respirando, em compensação parecia que eu estava dando o meu primeiro suspiro depois de passar anos sem respirar. E então usando termos técnicos que não estava particularmente interessada em ouvir, doutora Firth começou a derramar sobre nós uma palestra sobre mulheres que passaram pela mesma coisa e que hoje se encontravam bem, que a melhor medida protetiva seria a denúncia, nesse momento Narcissa parecia ter saído do seu torpor e explicou por cima que nosso processo judiciário era um pouco diferenciado, mas que o responsável pagaria. Eu quase não prestava atenção ao que estava sendo falando no quarto, Narcissa estava fortemente abalada pelo que acabou de ouvir, e as outras três mulheres conversavam entre si, enquanto eu só conseguia sentir o alivio de ter compartilhado esse fardo. Deixando meu corpo relaxar em minha cama soltei um suspiro alto chamando a atenção de todas para mim, sentindo meu corpo se desfazer em uma poça pela primeira vez desde a guerra senti que poderia relaxar sem ter que me preocupar soltar alguma coisa que não deveria, pela primeira vez em muitos anos eu era livre da prisão de dor, sofrimento e culpa.

Fiquei em silêncio apenas ouvindo o eco dos meus próprios sentimentos, o sentimento de pelo menos por enquanto não precisar me esconder do mundo e das pessoas, de não precisar me aprisionar com medo e receio de deixar as pessoas se aproximar, eu estava livre para não ser solitária, para não ter que viver sufocada entre o desejo de ser amada e o medo da rejeição. Aquele pequeno sopro foi o impulso que eu procurei por anos, o impulso para seguir em frente e ser quem eu quiser ser e a sombra de um passado traumático não irá me impedir.

-- Não se preocupe doutora, ele irá pagar.... Com juros e correção! – Embora Narcissa ainda estivesse desamparada ela deu um pequeno sorriso com o entendimento das minhas palavras. – Agora... O que podemos fazer para minha recuperação?

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Sexta feira, 19 de setembro.

-- Saia da minha frente Potter ou eu garanto que você irá precisar mais disso do que eu!

Narcissa levantou uma sobrancelha confusa pelos gritos que ouvíamos fora do meu quarto, ou devo dizer, minha prisão. Por Merlin, eu não podia nem mesmo ler um maldito livro e quando eu sugeri que me trouxessem as pilhas de pergaminho que sei que estavam acumulando em minha mesa pensei que seria sedada contra minha vontade, então eu apenas dormia, conversava com Narcissa, Luna, Pansy, Daphne e Katie que liam todos os dias as pilhas de cartas que Ginny, Fleur e Angelina.

Eu recusei veementemente receber Harry, Kingsley e Theo.
Mas respondi a carta de todos, inclusive a de Blasio que me informou gentilmente que me aguardaria para o almoço que adiamos duas vezes.

Charlie Weasley foi o primeiro dos irmãos (tirando Ginny é claro) a me escrever, ele pediu desculpas mais vezes que eu poderia contar em uma única frase, claramente ele estava decepcionado com seu irmão mais novo.

George deixou claro que se um dia Rony saísse de Azkaban ele seria o primeiro a ter o prazer de enfeitiça-lo.

Percy foi como uma continuação de Charlie, suas desculpas não tinham fim e certamente ele guardaria rancor de seu irmão pelo resto da vida, alegando que eles sempre foram educados para ser um cavalheiro com as mulheres e que não sabia onde Ron havia se perdido. Eu tive vontade de responder que ele desviou completamente do caminho, pois Ron nunca fora um cavalheiro.

Bill foi solicito informando que se eu precisasse de qualquer coisa eu poderia liga-lo imediatamente, lamentando profundamente tudo que tinha acontecido.

Ouvir o que a carta do senhor Weasley dizia foi de longe uma das coisas mais difíceis que eu precisei ouvir na minha vida, ele se desculpou e lamentou e cada palavra era carregada de tristeza, nem mesmo Pansy que sempre tinha um comentário ácido para todas as cartas que ela leu pode negar que aquela era uma carta de um homem com uma profunda vergonha do seu filho.

Scorpius também me escrevia todos os dias, eu me sentia leve quando Luna lia suas histórias sobre o seu dia a dia, mas proibi firmemente que o trouxessem para me ver, não queria que ele se lembrasse de mim daquela forma.

Graças aos céus ninguém questionou.

Nos últimos dois dias ouvi Harry e Malfoy se aproximando da porta e verificando tudo ao redor, Malfoy não me escreveu, mas soube por Narcissa que ele recebia relatórios diários dela e de Pansy.

Era ridículo, eu ansiava por seu contato, temia sua presença e me sentia irritada por ele me conferir como se fosse uma criança. Narcissa afirmava que ele estava me dando espaço, isso era bom, muito bom, mas então por que eu sentia um vazio em meu peito que só era preenchido por aquela palpitação rápida e forte quando eu sabia que ele estava por perto?

Seria apenas a ansiedade por estar perdendo algo que um dia poderia vir a ser?

Sendo arrancada do meu devaneio por uma Ginny invadindo furiosa meu quarto sentada em uma cadeira de rodas empurrada por Luna, ao longe conseguimos ouvir o que parecia ser a voz de Harry falando que ela deveria estar de repouso:

-- Nada nesse mundo me impediria de passar esse dia com a minha irmã... muito menos você. – Ela gritou de dentro quarto revirando os olhos deixando eu e Narcissa de boca aberta com a sua gritaria dentro de um hospital.

Sentei-me o mais apoiada possível nos travesseiros que Pansy arrumou e sorri largamente finalmente sentindo um peso saindo das minhas costas. Ginny estava bem, na verdade a julgar por sua carranca ela parecia ótima, a ponto de distribuir feitiços em qualquer um.

-- Feliz aniversário!!! – Ela se levantou pesadamente da cadeira de rodas me puxando meio desengonçada devido ao seu ventre protuberante.

-- Oh! Obrigada! – A abracei com o máximo de força que consegui. -  Ginny... eu fiquei tão preocupada com você... eu...
-- Eu estou bem, na verdade estou furiosa por ter que ficar sentada ou deitada o dia todo sem poder sair. – Definitivamente ela parecia estar muito aborrecida com isso.

Sorrindo me deixei cair sobre os travesseiros novamente após receber as felicitações de Luna e uma pulseira feita de conchas, era tão simples, mas tão especial que não consegui conter minha alegria.

-- Um pedacinho do oceano para você. – Seu sorriso era tão brilhante.

-- Hoje é seu aniversário? – Narcissa me olhava quase magoada por não lhe ter falado nada.

-- Eu... sim... – Respondi timidamente.

Rapidamente ela estava me abraçando e me desejando seus votos de felicidades, quando ela me soltou seus olhos estavam aguados:

-- Nem vamos conseguir comemorar apropriadamente... eu adoraria hospedar um baile ou...

-- Narcissa. – Lhe interrompi. – Eu agradeço de coração a intenção, mas não acho que estaria em no clima para festa, isso aqui... – Apontei para elas ao meu lado. – É muito melhor que qualquer festa.

Sorrindo ternamente ela acariciou meu rosto, e como um gato apenas me inclinei recebendo de bom grado seu carinho.

-- Mas quem disse que não teremos uma festa??? – Pansy irrompeu o quarto segurando algumas taças em uma mão e uma garrafa de sidra na outra, Daphne estava logo atrás com um bolo confeitado nas mãos, Fleur estava logo atrás com Angelina ostentando orgulhosamente uma torta de morangos, Parvati e Cho apareceu com nada menos que balões cor de rosa e branco.

-- Pansy Parkinson! – Narcissa arrulhou. – Espero que não tenha uma gota de álcool nessa garrafa!

-- É sidra sem álcool Cissa. – O olhar de desgosto de Pansy causou algumas risadas.
Todas me deram um abraço caloroso e cauteloso, brincando sobre eu ser novamente a mais velha do grupo. Eu estava me sentindo aquecida e verdadeiramente amada e querida, eu não imaginava que elas se lembrariam do meu aniversário e menos ainda que fariam do quarto de um hospital uma verdadeira reunião das garotas. Entre risadas e algumas visitas da doutora Firth  e alguns curandeiros se realmente não estava rolando nenhum tipo de álcool uma coruja bicou a janela. Luna que estava sentada novamente aos pés da cama pulou rapidamente para recebe-la, mas assim que ela abriu a janela a ave entrou no quarto pousando na cabeceira, deixando um pequeno saquinho preto em minha mão.

Quando o abri um dragão com as asas abertas protetoramente caiu do tecido que estava enrolado, ele era aparentemente de algum metal antigo, platina talvez, suas escamas eram tão realistas, seus olhos eram pequenas pedras azuis, quase cinzentas, sua calda estava enrolada de uma forma a se tornar um oito deitado ou o símbolo do infinito, um palito com runas antigas e uma pedra da cor de mercúrio na ponta, parecia ser hematita, quando eu virei a peça vi que se tratava de um prendedor de cabelo, era tão lindo que por um momento fiquei hipnotizada, era algo belo e representativo, pois os dragões são altamente protetores, as runas eram sobre proteção e poder, assim como a pedra significava força e proteção pessoal.

Em minha cabeça apenas uma pessoa poderia me dar algo tão precioso, então tentando confirmar as minhas suspeitas eu procurei dentro do saquinho de veludo encontrando um pequeno pergaminho rigidamente enrolado, quando o abri descobri ser dois bilhetes brevemente escritos.

“ Feliz aniversário mamãe, Papai falou que você está doente e não poderia responder minhas cartas, mas que eu poderia escrever quantas eu quisesse.
Hoje fomos ao cofre da família, para buscar seu presente. Você sabia que os cofres são guardados por Duendes? Eles são tão estranhos!
Eu queria que você tivesse ido junto, andamos no carrinho com o duende foi o máximo! Ele disse que estávamos indo a um dos cofres mais fundos e bem guardados então tivemos que nos segurar firme, foi tão divertido.
Estou com saudades.
                                                         Scorpius.

Ohhh Meu Deus, como eu sentia falta do meu menino. Eu queria tanto responder suas cartas, mas eu sabia que se o respondesse no momento ele não entenderia e iria querer vir até mim, e se tinha uma coisa que eu não quero que ele me veja nesse estado deplorável e traumático, eu não pretendo mente-lo em uma bolha de ignorância, mas isso é algo que se eu puder esconder dele pelo resto da minha vida eu o farei. Sorrindo pela sua empolgação em sua primeira visita ao gringotes, desenrolei o segundo pergaminho lendo a breve mensagem nele:

“ Parabéns Granger.
                      D.M”

Não tinha explicação, não havia nada de diferente das mensagens que costumávamos trocar, ele era sempre direto, poucas palavras, quase rude, mas eu sabia melhor que isso era apenas quem ele é, sem grosseira, somente um caminho reto sem voltas e rodeios. E mesmo assim aquele Parabéns me deixou com o coração agitado, fazendo os bips daquela maquina idiota se tornarem mais urgentes.

-- Acho que não precisamos perguntar de quem é. – Daphne sorriu de orelha a orelha.

Ainda sentada ao meu lado Narcissa pegou discretamente o pergaminho e leu rapidamente a pequena mensagem deixando um sorriso aliviado brincar em seus lábios.

-- Um Dragão? – Pansy sorria maliciosamente. – Sério mesmo? Ele não é nem um pouco sutil.

-- Se os batimentos cardíacos forem algum indicio, Hermione gostou. – Parvati riu descaradamente.

-- Imagine quando ele der um colar a ela? – Cho falou inocentemente.

-- Ohh! – Ginny bateu palmas. – Mas ele já deu.... Olhe lá! – Ela apontou para o meu pescoço.

Gemi baixinho em constrangimento de ter todas olhando atentamente para meu pescoço e colo sentindo meu rosto pulsar de vergonha.

-- Isso quer dizer que... – Cho começou.

Antes que elas começassem a fazer qualquer suposição sobre o que isso significava, me adiantei rapidamente:

-- É apenas por que sou mãe de Scorpius... – Olhei para cada uma recebendo um olhar cético de volta. – Aparentemente as mães dos Herdeiros Malfoys ganham uma joia, ele disse que eu não seria diferente...

-- Ele falou apenas isso? – Pansy estreitou os olhos.

-- Bem... – Abaixei minha voz. – E uma... intensão.

-- Háaaa – Fleur gritou. – Uma intenson, isso significa...

-- Que ele quer te cortejar! – Luna soltou.

-- Isso é ótimo! – Angelina falou empolgada. – Percy e Bill nos deve dinheiro. – Ela e Fleur bateram palmas no alto.

Indignada por estarem apostando na minha vida pessoal olhei-as com uma carranca esperando que ao menos se sentissem envergonhadas pelo ato, mas ao que parece elas estavam muito orgulhosas de si mesmas.

-- Vamos Granger, desmancha essa cara azeda. – Pansy falou dando um gole na sua sidra. – Todos aqui estavam se perguntando quando isso finalmente começaria a caminhar.

Suspirando alto, deixei meus ombros se curvarem me sentindo desesperançada. Eu realmente tinha imaginado que estávamos avançando a linha frágil que eu tinha auto imposto em minha cabeça da nossa recém amizade, mas ver aquela foto dele e Astória na França me deixou pensando que talvez tudo não tenha passado de uma esperança de alguém que a muito tempo não sabia o que era ter um relacionamento amoroso. É claro houve casos de que um ou outro colega de trabalho mostrar interesse em mim, mas nada que eu não tenha descartado imediatamente por vários motivos, mas o principal era a incapacidade de conseguir me conectar emocional e fisicamente com qualquer homem que demonstrasse algum tipo de atração. Era difícil pensar em quantas coisas eu me privei e o quanto eu perdi apenas deixando minha vida ser governada por um senso de amizade unilateral. E agora aqui estou eu passando pela mesma coisa pela segunda vez com mais agravante, se eu tivesse tido muito mais fibra e amor próprio talvez hoje eu estivesse bem, talvez eu não sentisse tanto medo de ser cortejada, talvez eu pudesse admitir para mim mesma que aquele batimento cardíaco fosse muito além de uma esperança, talvez eu assumisse que depois de anos eu realmente via nele o meu ideal e só talvez ele não ligasse para esse passado tão presente.

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Segunda feira, 22 de setembro.

A voz de Daphne ainda estava fazendo eco em minha cabeça, tudo estava girando enquanto meu corpo convulsionava pelo meu choro desesperado. Narcissa, Daphne e Luna me olhavam preocupadas sem saber o que fazer, elas achavam que eu estava triste, que esse desespero era de culpa, remorso e tristeza.

Todas estavam enganadas.

Pela primeira vez em muito tempo minhas lagrimas eram de alivio, satisfação e liberdade, no ponto em que minha mente processou a palavras que estavam escrito naquele mesmo jornalzinho de merda que me atacou irracionalmente em vários momentos da minha vida, uma torrente de lagrimas com o peso de dez anos se desprenderam dos meus olhos.

Minha mente havia gravado cada miséria palavra que foi lida por uma Daphne nervosa:

“ Caros leitores,
Essa manhã acordamos com a notícia da sentença mais rápida de toda a história britânica bruxa.
Domingo, 21 de setembro de 2008, Ronald Billius Weasley foi sentenciado a prisão perpetua por agressão física e sexual contra Hermione Jean Granger, sua ex-namorada e melhor amiga.
A justiça foi pedida em alto e bom som pelos fãs da heroína nascida trouxa mais famosa de todo o mundo bruxo, e o ministério não nos decepcionou, eles colocaram como uma prioridade máxima desvendar tudo o que havia acontecido naquela noite.
Porém o caso que já aparentava uma terrível história de horror se mostrou ainda pior quando uma investigação foi iniciada.
Ron como é chamado por familiares e amigos íntimos, foi constatado como um assediador consumado, ao ser pego em flagrante por seu melhor amigo que o levou pessoalmente a justiça o caso como o esperado foi vazado e logo quando a investigação iniciou, Susan Bones uma ex-colega do tempo de escola voluntariamente doou suas lembranças de diversas ocasiões que ela foi encurralada em algumas missões pelo mesmo.
Após o ato de coragem da Senhorita Bones, algumas outras se viram encorajadas e se apresentou aos responsáveis da investigação. Nomes como Buchanan, Podmore, Mina e Cattermole foram citados além de Bones. Aparentemente Ronald achava que elas lhe deviam algum tipo de recompensa por ter ajudado a salvar o mundo bruxo e por acha-las atraentes, queria força-las, tendo êxito em alguns casos.
Não se sabe ao certo o que houve no passado, mas segundo laudos médicos de Hermione Granger a agressão já havia sido consumada antes. E segundo fontes internas a garota de ouro confirmou, porém como todos os fatos precisam ser analisados metodicamente o wizengamot solicitou duramente as lembranças da Heroína que as forneceu após pouca resistência a sua curadora de mentes (psicóloga) que a consultou nesse sábado as 09:00h da manhã, sob sigilo entre a profissional e a paciente a senhora Smith não pode nos dizer nada, entretanto afirmou pesarosamente que sua cliente estava muito abalada com tudo que ela foi obrigada a reviver.
Não sabemos o conteúdo das suas memorias, não foi permitido a imprensa cobrir o julgamento, porem alguma coisa foi claramente pavoroso a julgar pelos rostos horrorizados de alguns presentes, entre eles, juris, indizíveis e advogados.
A corte esteve fechada e apenas algumas pessoas puderam circular pela área, o julgamento levou a manhã inteira e após a deliberação a sentença foi inevitável.
Susan Bones e Teressa Mina saíram do ministério abraçadas e apesar de suas lagrimas sorrisos aliviados pode ser visto em seus rostos.
A família Weasley deixou o ministério devastados, Molly Weasley a matriarca estava em prantos perguntando frequentemente onde ela havia errado enquanto era amparada por seus outros 4 filhos.
Houve outros rostos conhecidos e entre eles estavam, Draco Malfoy o declarado inimigo de infância da senhorita Granger e atual (não confirmado) afeto, Theodore Nott, Pansy Parkinson, Dean Thomas, Neville Longbottom, Luna Lovegood e Blasio Zabini, todos aparentavam estar terrivelmente abalados. Senhorita Parkinson vomitou por minutos no primeiro lixo disponível tendo seus cabelos segurados pelo senhor Thomas noivo da sua melhor amiga Daphne Greengrass, Blasio Zabini chorava discretamente segurando a senhorita Lovegood que parecia estar catatônica, os senhores Longbottom e Nott pareciam chocados enquanto o senhor Malfoy deixava vazar por sua costumeira face em branco a fúria do seu homônimo.
Senhorita Parvati Patil compareceu ao lado de sua cética gêmea e esposa de Ronald, que segundo nossos repórteres alegava ser um terrível engano antes de começar o julgamento.
Harry Potter melhor amigo da vítima e o próprio ministro, que para quem o conhece mais de perto sabe que a garota de ouro é como sua própria filha, tiveram que ser escoltados para fora do tribunal.
Soube-se mais tarde que o ministro precisou ser medicado com poções calmantes e senhor Potter levou uma suspensão de três dias.
Uma verdadeira mexida nos ânimos da sociedade bruxa britânica? Ou uma justiça tardia finalmente concretizada onde o herói não é tão herói assim e a heroína também precisava ser salva?

Ronald Weasley foi levado para Azkaban antes mesmo que o tribunal estivesse vazio, libertando aquelas que se mantinham presas no silêncio dos seus atos.
                                                    Denis Creevey”

Foi gratificante saber que eu não precisaria mais ter medo de ficar sozinha no mesmo que eu sei que ele está. Eu ainda tinha aquele complexo dependente da amizade que carreguei nas costas por anos, mas eu esperava conseguir superar isso e seguir em frente, colocar uma pedra em meu passado e enterrar com todos os traumas tóxicos que impregnam minha vida finalmente vivendo por mim.

Quando a doutora Smith apareceu no sábado eu não tinha certeza que estaria pronta para começar a compartilhar os aspectos dos últimos dez anos, já havíamos tido algumas consultas e embora fosse ótimo conversar livremente com ela, apenas dançamos em torno da minha infância e em como eu me senti por ter alterado as memorias dos meus pais.

Ao vê-la se sentar no lugar em que Narcissa estava antes de sair eu soube que ela já sabia onde teria que trabalhar nas nossas próximas consultas. Ela me perguntou calmamente se eu queria falar sobre o assunto, eu neguei já esperando que ela tentasse forçar isso de mim, mas surpreendentemente ela apenas me perguntou como eu me sentia informando que o wizengamot precisaria de algumas informações, rapidamente neguei, não queria jamais que me vissem de forma tão vergonhosamente vulnerável. Foi preciso alguma persuasão da doutora Smith até que pegando dois frascos estrai as duas memorias.

Foi terrível e assustador ter que abaixar todas as barreiras fortemente criadas por mim para me manter longe daquelas lembranças, porem valeu a pena quando soube que o responsável por elas estaria atrás das grades.
Meu único pesar era exclusivamente por Molly, ela não merecia o que estava acontecendo, ela é uma ótima mãe.

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Quarta feira, 24 de setembro.

-- Isso é completamente ridículo! – Ralhei olhando fixamente para as duas mulheres em pé na minha frente.

Pansy está ao lado de Narcissa com as mãos nos quadris com o olhar irritado sobre mim, Narcissa apenas me olhava de forma aborrecida com os lábios levemente curvados em uma linha rígida.

-- Ridículo é você insistir em continuar tentando nos persuadir. – Pansy bateu seu salto da sua bota altíssima no chão irritada, causando um barulho alto e seco. – Pensei que esse assunto já tinha finalizado ontem... – Ela se aproximou da cama pegando a mala com as minhas coisas de forma brusca. – Você não vai ficar sozinha na sua casa, pelo menos nesse momento.

-- Mas...

-- Hermione, você ouviu o que a doutora Firth falou. – Pela primeira vez Narcissa parecia estar perdendo sua paciência, e era comigo. – Você não pode ficar sozinha ainda, você só recebeu a alta com a promessa de que estaria sendo assistida o tempo todo pelos próximos quinze dias...

-- Pense um pouco Granger! – Pansy parecia estar a ponto de gritar. – Imagine se você desmaia ou tem uma convulsão sozinha na sua casa, como você pensa em pedir socorro?

-- Isso é apenas uma hipótese... – Repliquei fragilmente.

-- Sim, no momento apenas uma hipótese! – Narcissa se aproximou com a cadeira de rodas. – Porem ninguém está disposto a correr esse risco, então apenas aceite que nos próximos dias você será hospedada na mansão.

Bufando indignamente me sentei na cadeira me sentindo completamente inútil, aquilo era altamente desnecessário, eu poderia muito bem ir andando sozinha.

-- Eu não quero ser um fardo. – Falei finalmente.
-- Oh! – Narcissa ofegou aparentando ficar ainda mais aborrecida. – De onde você tirou essa ideia? Um fardo? – Seu rosto se tornou uma careta. – Você jamais seria um fardo, ao contrário, me sinto grata por ter uma companhia, e você não mora definitivamente na mansão apenas por que não quer, pois, o convite já foi feito.

Dispensei essa ideia novamente apenas conferi se meus cabelos estavam bem presos na presilha que ganhei dos garotos Malfoys.

Sendo empurrada por Narcissa, sai do quarto pela primeira vez em dias, feliz por estar finalmente indo para casa puxei bastante ar para meus pulmões esperando que eu não voltasse a sentir o cheiro de éter tão cedo. Assim avançamos pelos corredores, Narcissa empurrando a cadeira de rodas e Pansy ao seu lado, percebi que dois seguranças nos seguiam de perto. Quando chegamos no elevador do andar Doutora Firth estava nos esperando ao lado de mais dois seguranças, rolando os olhos para todo aquele exagero.

-- Bem... Senhorita Granger... – A doutora de cabelos acobreados falou com um sorriso gentil. – É aqui que nos despedimos, então cuide-se e qualquer coisa que precise não hesite em nos procurar.

Sorrindo realmente agradecida por ter sido recebido um atendimento digno da realeza, lhe agradeci por tudo:

-- Obrigada Doutora! – Falei emocionada. – Obrigada por tudo.

-- Não há necessidade de agradecer! – Ela dispensou olhando para Pansy e Narcissa. – Senhoras, foi um prazer conhece-las.

Ela saiu da porta do elevador para que pudéssemos embarcar no mesmo, foi uma descida silenciosa.

No momento em que o elevador chegou no hall e a porta se abriu, mais seguranças nos aguardavam, todos eles exibiam vestes semelhantes ao que os aurores usavam, sobretudos pretos, botas pesadas e luvas, eram no mínimo intimidadores e as pessoas ao redor nos olhavam de forma curiosa. Saindo do elevador senti meu rosto queimando pelo constrangimento da atenção que estávamos recebendo, Pansy por outro lado parecia estar em seu elemento, andando orgulhosamente como se estivesse em um desfile ela mantinha as costas retas e queixo erguido. Algumas pessoas sussurravam entre si, perguntando se éramos famosos outras olhavam descaradamente, houve até mesmo um ou dois flashs.

-- Era mesmo necessário tudo isso de seguranças? – Perguntei desconfortável ao contar um total de oito.

-- Você está achando exagerado porque não viu a primeira equipe que foi montada por Draco, Potter e o ministro. – Pansy falou.

-- Merlin! Isso é desnecessário, o que eles acham... – Deixei minha voz morrer quando meus olhos o encontraram parado em meio a entrada.

Ele era uma mistura incompreendida de apolo e hades, uma beleza inabalável e uma aura sombria. Seus olhos eram tempestuosos e seu rosto esculpido em pedra, o sol do meio dia batia em suas costas deixando seus cabelos levemente mais cumpridos ainda mais claros, sua pele de alabastro brilhava sobre a claridade e em contraste com suas vestes escuras, sua postura era a de um guerreiro pronto para batalha, e naquele momento eu me senti minúscula em sua presença era simplesmente astrosamente perfeito.

Sentindo meu coração galopar desgovernado em meu peito, vi quando seus olhos finalmente se prenderam em mim, houve um conflito de emoções, era saudades, alivio, esperança, indecisão e cansaço. Era como olhar para um espelho, eu senti tudo, estava refletido em mim. E então olhando mais atentamente eu soube, ali, bem ali, me esperando em toda sua gloria, estava o meu passado, meu presente e meu futuro. Leve o tempo que precisar, em algum momento eu estaria pronta para ele e quando isso acontecesse eu lhe entregaria meu coração com a liberdade de quem não está presa as dores causadas.

Quando finalmente chegamos até ele, seus olhos deixaram os meus cumprimentando Pansy com um breve aceno.

E então tomando o lugar de Narcissa voltamos a nos mover para a saída do Queen Mary com as pessoas ainda nos olhando atentamente.

Na frente do hospital estava a mesma Porsche SUV que fomos ao parque. Um dos seguranças estava com a porta do carona aberta nos esperando:

-- Senhor! – Seu cumprimento fora sucinto.

Pansy entrou no carro deslizando pelos bancos de couro negros até estar atrás do banco do motorista, então antes que eu pudesse prever Malfoy me pegou em seus braços me fazendo soltar um barulho esganiçado, ele se movia elegantemente de uma forma que nem mesmo parecia que estava segurando algum peso extra, eu já havia o abraçado antes... céus eu estive em seu colo a duas semanas atrás, mas algo em estar em seus braços naquele momento tornava tudo diferente, eu o olhava atentamente gravando cada traço de seu rosto, cada mínimo movimento eu queria captar e guardar em minha memória, então quando seus olhos se encontraram novamente com os meus, mais uma vez me senti em meio ao oceano, era prata liquida, um infinito mercurial.

-- Você está bem? – Ele perguntou me colocando sentada no banco.

Eu apenas acenei debilmente não conseguindo encontrar coragem para falar algo. Era o medo de soltar alguma coisa idiota como, senti sua falta ou não me solte que me fez ficar quieta. Dando um aceno de reconhecimento ele pegou um cacho que se soltou da presilha que ele me deu e a prendeu atrás da minha orelha, ao sair Narcissa tomou o acento ao meu lado, me deixando entre ela e Pansy.

A porta do passageiro foi aberta e Malfoy se acomodou no passageiro, enquanto um dos seguranças estavam no volante.

-- Vamos para casa. – Sua voz imperativa soou no silencio.


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Sexta feira, 09 de outubro.

Passando pela decima vez em frente as pesadas portas do escritório de Malfoy retorci as mãos em nervosismo. Já fazia mais de quinze dias que eu estava na mansão, nos primeiros dias foi como se eu estivesse no hospital, apenas recebendo visitas que agora consistiam em todos os meus amigos, eles vinham e agiam como se eu fosse quebrar a qualquer momento, até mesmo Malfoy agia como se o mínimo movimento pudesse causar danos irreversíveis. Foi preciso que eu praticamente implorasse para me deixarem ler um livro e fazer parte do meu trabalho.

Eu tive duas consultas com a doutora Smith, duas consultas tensas e pesadas, onde caminhamos a passos fundos em tudo que aconteceu e como eu me sentia. Foi terrível e desgastante, mas me fez perceber que eu precisava fazer algo sobre isso. E o primeiro passo seria confrontar tudo de frente. Foram dias pensando sobre o assunto e no fim eu soube que era aquilo que eu precisava. E era aquilo que me levou até ali.

Segurando o ar bati na porta ouvindo a voz grave do outro lado falando que eu poderia entrar. Ao abri a porta fui atingida pelo cheiro mentolado, amadeirado e almiscarado, o típico cheiro do dono do cômodo. Passei pelo curto corredor até chegar na sala espaçosa com a enorme mesa de mogno pesado, Malfoy estava atrás dela escrevendo agilmente pelo pergaminho, as mangas de sua camisa branca estavam dobradas até abaixo do cotovelo, sua gravata preta estava meia desfeita, mas seu colete cor de chumbo estava perfeitamente intacto, seus cabelos estavam bagunçados como se ele tivesse passado as mãos por ele muitas vezes, ele estava lindo e... Deuses eu não estava ali para isso.

Esperei pacientemente que ele terminasse. Quando enfim ele descansou sua caneta e me reconheceu, seus olhos se arregalaram ligeiramente:

-- Granger.... Aconteceu alguma coisa? – Ele se levantou vindo até mim em passos largos, porem parando bruscamente antes de me tocar, me fazendo odiar ainda mais todo esse cuidado.

Será que ele não entendia? Ele não vai quebrar algo que já está quebrado.

-- Não... bem, sim... – Comecei nervosa.

-- O que...? – Ele estava preocupado.

-- Eu quero te pedir algo. – Falei.

-- Claro! – Ele concordou, mas eu tinha a sensação que ele se arrependeria no momento que eu te pedisse.

-- Eu quero que você consiga uma visita em Azkaban. – Falei de uma vez, o vendo contrair a mandíbula e seu olhar tornar-se gélido. – Quero que me leve até Ron...





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