Patience...

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HERMIONE

Sexta-feira 29 de agosto

Minhas mãos tremiam e meu corpo estavam no limbo entre o calor escaldante e o frio congelante.

Seus olhos cinzas pesavam sobre mim como se todo mundo estivesse apoiado neles, sua mandíbula estava tão travada que era possível pensar que se uma única pena tocasse em seu queixo ela se partiria ao meio, sua postura poderia ser considerada ameaçadora e com tudo que eu conhecia desse homem suas palavras poderiam ser mais do que devastadora.

Eu continuava a segurar seu olhar pela força da bravura grifinória, mas se existisse um momento que eu estava terrivelmente tentada a me dobrar, seria esse! O homem me olhava como se estivesse em uma constante batalha interna, era visível que ele procurava pelas palavras certas e sempre que se decidia por elas, voltava atrás. Se eu não fosse quem sou teria apenas jogado minhas desculpas na mesa virado e saído pela porta da frente e procurando refúgio em qualquer que me arrematasse a segurança.

Pela minha visão periférica eu via Theo olhando fixamente para o quadro de Lúcios Malfoy que permanecia golpeando incessantemente o outro lado do retrato em sua ira. Narcissa estava sentada elegantemente com as mãos cruzadas em seu colo, aguardando pacientemente seu filho iniciar o assunto, uma verdadeira lady.

Com um CLACK surdo Mippy apareceu junto de um carrinho com o serviço de chá completo, habilmente ela começou a servir como o esperado pelo o mestre da casa, seus pequenos dedos enrugados despejava o liquido dourado e fumegante com destreza, três colheres de mel e duas gotas de limão. Esse era a forma que Draco Malfoy apreciava seu chá aquecido e reconfortante. Dirigindo um sorriso tenso e porem sincero ele agradeceu a pequena serva que nem ao menos percebeu seu agradecimento, prosseguindo rapidamente em iniciar a preparação da xicara da senhora da casa, Jasmim e duas colheres de mel, dessa vez Mippy ganhou um sorriso carinhoso em troca. Minha xicara foi preparada como ¼ de creme, Earl Gray, uma pitada de canela e três colheres de mel, sorrindo com todos os dentes Mippy me entregou minha bebida, me fazendo dar-lhe um sorriso agradecido igualmente entusiasmado. Por último um Theo foi servido de Earl Gray e quatro gotas de limão, em agradecimento Mippy ganhou uma piscadela divertida fazendo que uma leve coloração rosa se espalhasse por seu rosto pálido.
Deixando a bandeja com os sanduiches frios no carrinho a pequena Elfa estava em meio a uma mesura profunda quando Malfoy cortou o silencio ensurdecedor com sua voz rouca e grave.

-- Mippy, você pode nos dizer o que pensa sobre a senhorita Granger? – Seus olhos estavam sobre a pequena serva.
-- Mippy acha que não entendeu o pedido do mestre. – Sua vozinha estava tremula e os olhos eram uma piscina rasa transbordante.

Pequeno sua xicara calmamente Malfoy levou a porcelana aos lábios sorvendo o liquido dourado, passando sua língua nos lábios para limpar qualquer resquício da sua bebida ele deu sorriso sincero ao pequeno ser magico a sua frente.

-- A quantos anos Mippy está vinculada a casa Malfoy? – Ele perguntou.

-- Duzentos e vinte três anos. – Ela respondeu sem pestanejar.

-- Então é seguro afirmar que sua magia está fortemente ligada à nossa casa, certo? – Malfoy continuou questionando.

-- Mippy é leal a casa Malfoy, assim como a mãe de Mippy é até hoje, e como a avó de Mippy foi antes. – Seus enormes olhos azuis agora estavam firmes. – Mestre Draco duvida do vínculo ancestral de Mippy? – Agora seus olhos estavam desesperados.

Ofegando ao meu lado Narcissa se remexeu em sua cadeira desconfortável com o rumo que a conversa estava levando, assim como eu que não conseguia entender o ponto de Mafoy.

-- Nem por um minuto Mippy, você é um Elfo muito bom. – Ele Sorriu acalmando-a. – Sua lealdade é inestimável e a apreciamos muito, por isso quero saber como você se sente sobre a senhorita Granger.

Os enormes olhos de Mippy dobraram de tamanho enquanto eu pousava meu pires e xicara na mesa com os olhos estreitos para o Malfoy, não estava conseguindo entender onde ele queria chegar com aquelas perguntas ao pequeno ser, mas se de alguma forma ele ousar querer ridicularizar ou expor qualquer que seja seus dons ele estará comprando briga com a pessoa errada.

-- Mestre? – Perguntou Mippy novamente claramente desconfortável.

-- Eu quero que você acesse seu vínculo com a família Malfoy e me fale o que sente, sim? – Ele pediu seguro.

Ao meu lado pude Theo Nott e Narcissa relaxaram em seus acentos como se finalmente tudo fizesse sentindo, por outro lado eu estava mais confusa do que nunca, como assim acesse seu vínculo com a Família? Elfos domésticos tinham um vínculo familiar para com as famílias que prestavam seus serviços? Isso significa que eles eram escravos ou considerados membros interinos da casa em que trabalha? Seria esse o motivo para que muitos não fossem receptivos a lei da libertação? Se for essa a questão o que os leva a não querer ser libertos?

As questões começaram a ser listadas em minha mente, e Malfoy presunçoso descansou suas costas perfeitamente retas no encosto da cadeira, devolvendo meu olhar com a mesma voracidade.

Ouvindo Mippy respirar profundamente voltei minha atenção na pequena criatura que olhava agora para o nada. Depois que se pareceram horas, mas na verdade nem mesmo dez segundos foram gastos nessa espera, a pequena Elfa voltou seus olhos para Malfoy e falou eufórica:

-- Eu pude sentir Mestre, está lá! É firme, quente e acolhedor! – Ela falou dando pulinhos no mesmo lugar fazendo com que seu chapéu floppy se desprendesse de seu crânio causando uma cena cômica.

Recebendo a notícia com um sorriso arrogante no rosto Malfoy voltou a se inclinar em direção a Mippy incitando-a a falar mais:

-- E o que mais Mippy? Nos diga o que você sente sobre isso.

-- Mippy sente a ligação muito forte, é como se fosse... a amante da casa Malfoy... – O que? Como assim amante da casa Malfoy? Certamente Mippy não poderia estar falando de mim, eu me recusaria terminantemente me submeter a tal posição, antes que eu pudesse continuar nessa linha de pensamento sua vozinha voltou a encher a sala. - Mas a ligação que a une a casa não é matrimonial, Mippy não pode dizer com certeza mestre... Mippy pensa que o vínculo foi iniciado pelo pequeno mestre e firmado pelo amor da senhorita Granger, a linha forte e o elo inquebrável da casa Malfoy e a senhorita Granger é o vínculo de maternidade.

Sem compreender exatamente o que Mippy estava querendo dizer olhei para todos na sala e encontrei a mesma expressão de compreensão e satisfação. Narcissa deixando de lado qualquer regra de etiqueta segurava sua xicara com as mãos em volta do copo como se segura-la apenas pela alça não fosse suficiente, um sorriso aberto e um olhar sonhador estava fixado em seu rosto sempre sereno. Theo Nott a muito tinha deixado seu conjunto de chá na mesa ao lado do meu, e estava inclinado em direção a Mippy com as pernas cruzadas e o cotovelo direito sobre sua coxa enquanto seu rosto permanecia apoiado em sua mão pelo queixo, seu indicador batia em seu lábio sorridente como quem estivesse analisando toda a situação com grande interesse e satisfação.

-- Existe algo mais? – Perguntou Malfoy.

-- Mippy sente que há uma ligação entre a senhora e a senhorita da mesma forma que a senhora é ligada ao mestre, as linhas são diferentes, mas não há dúvida que é a mesma ligação e está completa também... a senhorita Granger foi abraçada pela casa Malfoy e acolhida pela Magia dos Malfoy's… e pela mui antiga e nobre casa dos Black's... – Seus olhos expectantes agora estavam em mim e sem que eu esperasse uma mesura profunda e respeitosa foi adicionada enquanto suas ela ainda falava. – É uma honra servi-la senhorita Hermione!

-- Ohh! – Ofeguei surpresa.

Malfoy estava pronto para falar mais alguma coisa, quando Narcissa rapidamente tomou a palavra voltando sua xicara para o pires:

-- E você só pôde sentir a ligação agora? Mediante o pedido de Draco?

Curvando seus pequenos ombros e raspando a ponta dos pés no mármore Mippy ganhou uma coloração avermelhada na face ao falar:

-- Mippy gosta muito da senhorita Hermione, então Mippy não acessou o vínculo quando ele mudou, Mippy pensou que Mestre poderia pensar que Mippy queria ir embora se Mippy informasse que passou a sentir a senhorita. - Ela falou timidamente.- Mippy não sabia se mestre ficaria contente em ter uma nascida trouxa vinculada a casa Malfoy.

Soltando um gemido frustrado Malfoy levou seus dedos ao topo do seu nariz entre as sobrancelhas e falou cauteloso:

-- Mippy, a senhorita Granger poderia ser metade Selkie e ainda assim você deveria ter nos informado sobre a magia vinculativa, nós teríamos tomado as medidas certas para o acesso dela na propriedade, mesmo que sua magia esteja fortemente ligada à da família, ainda precisamos ajustar as enfermarias para recebê-la. - Suspiro de resignação. - Quando nos mudamos para essa propriedade eu fortifiquei as proteções e alterei as enfermarias para que o acesso extremamente restrito, incluído qualquer vínculo Malfoy, uma medida um pouco drástica, mas que achei necessário após os ataques que tivemos no passado. - Malfoy falava calmo, mas um desespero pulsante se instalou no meu peito ao saber que eles haviam sido ameaçados e mais perguntas estavam sendo adicionadas na lista.- Então apenas com a autorização do lorde da casa seria possível a entrada direta na propriedade, como pode ver a senhorita Granger quebrou todas as enfermeiras deixando nossa casa vulnerável.

-- Mippy sente muito… Mippy elfa má… - Enormes lágrimas caíam enquanto ela falava.

-- Está tudo bem Mippy, não precisa se desculpar. - Malfoy se apressou em falar. - Amanhã concertarei as proteções, apenas me prometa que se sentir qualquer mudança no vínculo seremos informados.

-- Mippy promete! - Ela falou firme.

Recebendo a resposta que precisava Malfoy relaxou visivelmente, abrindo espaço para a próxima pergunta de Narcissa:

-- Essas são as únicas linhas existentes Mippy?

Eu poderia jurar que Malfoy empalideceu a um nível fantasmagórico e Theo soltou uma risadinha ao me lado.

-- Mippy viu mais uma linha senhora! – Seus olhos agora eram trêmulos.

-- Poderia nos dizer o que há com essa linha querida? – Narcissa estava com uma expressão astuta e curiosa.

-- Essa linha não está completa senhora.- Mippy falou olhando entre Malfoy e Narcissa.

-- O que você pode nos dizer sobre essa linha? – O sorriso de Narcissa no momento lembrava o gato cheshire.

-- Mãe! – Malfoy chamou-lhe a atenção.

-- Cale-se Draco! – Narcissa mordeu de volta. – Diga-nos Mippy.

Tremendo olhando entre Narcissa e Malfoy a elfa começou a torcer as mãos nervosamente em seu vertido verde de babados:

-- Essa é a linha do Mestre... – Mippy olhou com os olhos ainda maiores. – A foi iniciada e também é muito forte e poderosa, mas a conexão não foi concluída... ela é existente, mas não completa. 

-- Você consegue ver por que? – Agora era Theo quem perguntava recebendo um olhar hostil do Malfoy.

-- Existe uma barreira...

-- Magica? – Theo Voltou a questionar.

-- Em parte sim senhor Theo... – Mippy agora me olhava curiosa com a cabeça levemente inclinada para o lado, me fazendo sentir exposta e completamente vulnerável.

-- Do que se trata essa linha? – Narcissa forçou mais um pouco.

-- Já chega! – Malfoy Bateu o punho na mesa. – Mippy, você pode ir agora.

Com um clack Mippy aparatou mal esperando Malfoy terminar sua frase. Passando a mão desconfortavelmente pelos cabelos agora despenteados, o homem mantinha uma carranca assassina direcionada ao seu amigo que dava soltava uma risada continua a divertida.

Olhei para Narcissa e ela estava com uma postura exultante olhando entre mim e Malfoy, voltando a encher sua xicara ela voltou a falar calmamente:

-- Isso deixou as coisas muito mais claras agora!

Forçando minha mente a trabalhar na conversa que eu acabei de presenciar fiquei calada enquanto os sonserinos conversavam silenciosamente entre si.

Mippy afirmou que eu e Scorpius estamos ligados por um vínculo magico, em vinculo que foi formado naturalmente, sem qualquer ritual. Meu coração ao mesmo tempo que estava cheio um peso desconfortável se instalou no meu estomago, saber dessa ligação é como receber o presente de natal adiantado, é como saber que todas as suas preces foram atendidas nos mínimos detalhes, uma felicidade infinita em um espaço e tempo infinito.

Meu lado racional estava esmaecendo somente pela expectativa de saber que Scorpius era meu filho, independentemente de ter sido concebido em meu ventre ou não. E de repente tudo finalmente passou a se encaixar, todas as peças do quebra cabeça que estava faltando se encaixaram e passaram a fazer todo o sentindo do mundo.

Aquela vontade de querer protege-lo acima de tudo e todos, aquele disparo no coração sempre que ele estava feliz, a dor e a vontade de chorar quando ele chorava, o extinto de cuidar dele e zelar por seu bem-estar, a saudade permanente quando eu estava longe, a alegria em ver que seu próprio pai o ama incondicionalmente, o alivio em saber que sua avó é completamente devotada e carinhosa.

Eu poderia listar incansavelmente cada coisa que me leva a ter a percepção que o vínculo fora fundado, patenteado e perpetuado. Mas lá no finalzinho de todo o meu êxtase me veio a imagem de sua mãe biológica. Aquele deveria ser o laço entre Astoria e Scorpius, por um breve momento me senti uma usurpadora.

Logo esse pensamento se dissipou, Scorpius me escolheu, seu núcleo magico estendeu seus sentimentos através da linha vincular da sua família me reconhecendo como sua mãe... sua mãe... ele é meu filho....

Deuses! Mippy disse que há mais linhas na magia Malfoy vinculada a mim!

Narcissa Malfoy estendeu não apenas sua mão, mas seus sentimentos de mãe a mim? Sua magia me adotou como sua própria filha?

Com o coração aos pulos e os pensamentos aos berros eu me virei bruscamente para a mulher mais velha que agora discutia apaixonadamente com seu próprio filho alguma coisa que eu não conseguia reconhecer com toda aquela informação perfurando meu cérebro.

Percebendo meus olhos sobre si, ela parou no meio da frase em que firmemente apontava seu delicado indicador para um livro velho enquanto Malfoy apenas ouvia tudo com atenção. Seus orbes azuis celestes se fixaram em mim e uma pequena ruga se formou entre suas sobrancelhas, seu corpo ficou rígido e uma expressão preocupada assumiu seu belo rosto.

-- Hermione? – Sua voz era calma, mas no fundo foi possível sentir uma tremulação de nervosismo.

Sentindo minha respiração pesada e minha caixa torácica ser espancada pelo meu coração, meu peito subia e descia em desespero, eu queria perguntar, eu queria saber se o que Mippy falou tão segura era verdade, ela realmente me via como sua filha? A esperança era tão dolorosa, mas o medo da resposta era quase incapacitante.

-- Vo... Você...? – Eu não conseguia formular a pergunta, tudo estava quase demais.

Me levantando bruscamente em meio a minha ansiedade eu assustei a todos na sala, Malfoy se levantou com a postura defensiva, mas eu pouco estava me importando com o que ele poderia fazer nesse momento.

Saindo de onde estávamos sentados passei a andar pelo escritório indo e voltando no mesmo lugar, pressionando minha mão direita no meu pescoço com vontade de tirar a força aquilo que estava entalado. Foram necessárias três voltas antes que Malfoy se colocasse na minha frente bloqueando meu pequeno ciclo vicioso.

-- Granger, respire! – Ele falou com as palmas das mãos levantadas quando eu dei um pequeno passo para trás colocando um pouco mais de distância em nossos corpos.

Olhando diretamente para seu rosto, sendo capturada quase instantaneamente por seus olhos, lá estava todo aquele oceano que sempre me puxavam para si. Colocando toda a minha energia em controlar minha respiração apenas continuei sustentando seu olhar assim como tinha feito com Theo antes e contando. Um... expire... Dois.... Inspire... Três... expire... Quatro.... Inspire.... Cinco... Oceano... seis... Prata...?

-- Sempre que você me puxava desse jeito eu pensava que se parecia com o oceano cinzento, mas eu estava errada! – Falei puxando mais um pouco de ar para meus pulmões.

-- Oceano cinzento? – Seu rosto sério estava confuso.

-- Sim, as vezes você me olha desse jeito e a sensação é sempre de que posso me afogar nesse oceano, algumas vezes parece que eles me puxam... – Minha voz era baixa até mesmo para mim.

-- O que te puxam? – Ele perguntou ainda confuso, mas de alguma forma realmente interessado no que eu estava falando.

-- Seus olhos, sempre pensei neles como um oceano cinzento, eu estive errada o tempo todo... – Mais ar. – Eles são como um oceano inteiro de mercúrio, prata liquida pura, as vezes eles me puxam, mas...

-- Mas? -  ele deu um passo para frente levantando a mão em direção ao meu rosto, mas desistindo de me tocar deixando-a cair ao lado do corpo no momento que eu fui para trás.

-- Às vezes eu só quero me atirar! – Falei em um único folego escutando as batidas do meu coração alta a suficiente para ensurdecer qualquer um.

No momento que minhas palavras pareceram penetrar no seu entendimento, suas pupilas dilataram e uma respiração audível ficou presa em sua garganta. Ele ameaçou em dar mais um passo em minha direção, mas desistiu. Com o rosto em completo choque ele permaneceu me olhando fixamente, Malfoy sempre foi inexpressível, mas naquele momento eu pude presenciar em primeira mão cada pequeno pensamento girando em naquela mente ágil e quando o peso das minhas palavras finalmente me atingiu uma nova onda de desespero ameaçou me dominar.

-- Oh! – Exclamei levando a mão esquerda até minha boca enquanto mantinha a direita ainda em meu pescoço. – Malfoy! Me desculpe, eu não...

-- Não se atreva! – Sua postura mudou, agora seus ombros estavam alinhados e suas costas retas.

-- O... Que? – Perguntei seriamente duvidando de suas palavras.

-- Não se atreva a retirar essas palavras Granger! – Ele praticamente cuspiu a frase.

-- Eu...

-- Você não pode retira-las. – E lentamente sua expressão foi caindo naquele branco imperturbável da oclumencia. – Elas são um pequeno conforto.

O que? Conforto para quem? Para o que?

-- Está mais calma agora? – Seus olhos estavam acima da minha cabeça.

-- Eu... Sim, acho que sim... – Falei ainda confusa com a mudança de assunto.

-- Certo, então venha se sentar novamente conosco. – Ele falou já se virando rigidamente para voltar à mesa. – Creio que há muitas perguntas nesse cérebro brilhante quase pulando fora.

Voltei para a minha cadeira entre Narcissa e Theo sentindo a rigidez em minhas costas pela breve discussão. No momento em que me sentei Narcissa puxou minha mão entre as suas, em pequeno gesto de apoio mais do que bem-vindo.

-- Como você pode ver Granger, os Elfos domésticos são muito mais do que apenas criaturas que foram escravizadas por anos. – Malfoy falava olhando diretamente para mim, mas era mais do que perceptível que ele estava fortemente protegido por suas barreiras. – Não estou dizendo que não houve maus tratos entre os nossos, certamente você conheceu Dobby que assim como outros que sofreram fortes abusos físicos e psicológicos, levando-os a se oporem fortemente ao vinculo de suas casas.

-- Eles podem recusar? – Perguntei realmente curiosa.

-- Claro querida! – Narcissa quem respondeu. – Embora seja muito difícil como você pode perceber, a ligação do Elfo com a sua casa pode ser quebrada da forma que lhe foi ensinado, uma peça de roupa de seu mestre e eles estão livres, mas o “x” da questão é que sua grande maioria não quer essa liberdade. Veja Mippy, quando a guerra finalmente veio ao fim eu dei-lhe a escolha de continuar em nossa casa ou sua liberdade, houve muitas lagrimas e muitos hematomas, a sugestão de liberdades para aqueles que querem permanecer em suas ligações familiares é uma ofensa.

Ouvindo as palavras de Narcissa e sabendo que realmente existe uma ligação de magia entre as casas e a magia dos elfos pude perceber porque tive tantas respostas negativas com a lei da libertação dos Elfos domésticos, eles não queriam ser libertos, pelos menos não todos eles.

-- Dobby...? – Sussurrei.

-- Tenho certeza que você pode ver a enorme diferença entre o tratamento que Dobby recebeu do meu pai e os Elfos que residem em nossa casa atualmente Granger. – Malfoy praticamente rosnou sua resposta.

-- O que Draco está querendo dizer Hermione é que nem todas as casas agem cruelmente com seus Elfos. – Theo tomou a palavra. – Veja bem, quando meu pai foi sentenciado a prisão perpetua eu ofereci a liberdade para todos os Elfos da casa Nott, houve aqueles principalmente os que eram ligados diretamente ao velho que literalmente se jogaram aos meus pés em agradecimento e na primeira oportunidade partiram para Hogwarts, mas houve dois que pertenceram, a que foi a elfa pessoal da minha mãe e o que cuidava das nossas refeições, por algum motivo eles tem uma forte ligação com a Casa Nott, assim como Mippy, sua mãe e mais alguns Elfos se manteiem leias a casa Malfoy.

-- Mas eles estão sendo pagos? Certo? – Perguntei confusa ao me lembrar de quando estive na mansão pela primeira vez.

-- Oh! Sim, merecidamente. – Narcissa afirmou.

Ok, isso era reconfortante. Porem muitas perguntas ainda pairavam em minha cabeça.

-- Bem, agora que entendemos que há um vínculo magico familiar entre Granger e a casa Malfoy... – Suspiro. – Temos a questão de como faremos para que sua presença seja ao mais constante possível na vida de Scor, já que você deixou bem claro que não residira na mansão.

Essa era a preocupação dele? Descobrir como faremos para não me tornar ausente, simples assim? Sem mais questionamento? O homem apenas aceitará que uma bruxa de fora assuma uma das posições mais importantes na vida de seu filho e nem irá lutar contra isso?

-- E você está bem com isso? – Soltei rapidamente e recebendo apenas uma sobrancelha no alto. – Quero dizer, estamos falando de Scorpius, seu filho!

-- Acredite ou não Granger, estou bem ciente disso. – Ele falou abrindo o velho livro que sua mãe apontava anteriormente.

-- E você apenas me deixará assumir essa posição sem questionar se esse é o melhor caminho? Se eu sou o melhor? – Perguntei desesperadamente. – Malfoy! Eu sou praticamente uma estranha!

Perdendo a pouca paciência que ele já possui Malfoy direcionou-me adagas pelos olhos enquanto falava entredentes:

-- Ouça o que você está dizendo bruxa! – Sua voz era baixa, mas era possível sentir a irritação emergindo dela. – Desde o momento que eu comecei a te contar sobre meu filho seus olhos brilhavam e quando os coloquei na mesma sala pareciam que um pertencia ao outro, bastou apenas dois encontros! DOIS encontros e você estava cuidando dele da forma que a própria mãe dele nunca fez, carinho, abraços e beijos trocados entre você e ele se tornou natural, Porra! Você corrige o dever de casa dele, você invadiu a minha casa e tentou me matar por pensar que eu o estava machucando de propósito! – A essa altura seu rosto e seu pescoço estavam vermelhos pela raiva. – Meu filho E minha mãe, minha mãe Granger a mulher que mentiu na face do mal em nome do seu amor por mim, criaram vínculos com você! Você acredita mesmo que se você fosse considerada uma estranha estaríamos nessa conversa? Não seja tola, se eu não puder confiar nisso, em que mais eu poderei confiar? – Ele me olhava agora quase com raiva. – Não existiria a mínima possibilidade de eu colocar a segurança do meu filho em suas mãos se eu não confiasse em você, se eu não soubesse que você o ama. Se você está querendo uma briga da minha parte contra isso que vocês construíram, fique sabendo que não encontrará aqui e nem em mim, então pare de questionar se você é o melhor, pois acreditem em mim, se não fosse Scorpius jamais escolheria você.

O silêncio durou alguns segundos enquanto Malfoy me olhava desafiando a ir contra suas palavras. Em meu íntimo eu desejava contradizê-las apenas pela força do hábito de ir contra e tirá-lo de sua pele, mas ao fazer isso eu estaria me autoproclamando indigna do amor do seu filho e sua mãe.

Amor esse que desejei por anos, a ternura e o carinho de uma mãe, a ligação e os sentimentos incondicionais que somente uma mãe sente para com o seu filho. E aqui estou eu, recebendo os dois de uma forma diferente das minhas idealizações, mas não menos valorizadas.

-- Se você já terminou de analisar logicamente todos os seus sentimentos, podemos pensar em como vamos administrar essa situação.- Malfoy voltou a falar.

Era mais que obvio que eu não estava me mudando para a mansão, completamente fora de cogitação. Mas poderíamos considerar uma partilha do tempo, talvez não fosse o ideal, mas estamos jogando com as cartas que nos faram dadas.

-- Podemos fazer da maneira trouxa! – Sugeri me encolhendo na cadeira quando recebi três pares de olhos descrentes.

-- E... Como funcionária? – Theo perguntou cauteloso.

-- O termo correto é Guarda compartilhada, mas nesse caso não seria exatamente isso. – Continuei bravamente. – Podemos chegar a um acordo em que Scorpius passe os finais de semana comigo ou quinze dias comigo e quinze dias com você e....

-- Granger, a ideia em si é ótima...- Ele falou pouco convivente.- Mas tenho certeza que você vê um furo nisso... Scor só vem para casa no final da tarde e seria uma mudança muito abrupta muda-lo a cada quinze dias. E eu não estou abrindo mão de todos os finais de semana com o meu filho. Seria muito mãos fácil você...

-- Não estou me mudando para a mansão! – Cortei o que seria um monólogo sobre todos os prós.

-- Eu não entendo porque você reluta tanto! - Ele agora estava irritado. – Aqui você teria tudo...

-- Mas eu não seria livre e nem teria a palavra! – Estourei. – Isso aqui é lindo, mas não é meu! Eu não teria escolhas, eu não poderia tomar minhas próprias decisões.... Eu seria para sempre uma hóspede, e eu gosto do que é meu, eu perdi muito para... para abrir mão assim... – Deixei minha voz morrer ao ser inundada por cada perda, por cada coisa que passei, por cada dor sentida.

-- É disso que se trata? – Ele perguntou incrédulo. – Você acha que não poderia opinar? Que não teria liberdade? Granger se você quiser assinamos um contrato mágico, mas não acho necessário em menos de um mês minha mãe estaria te arrastando para cima e para baixo fazendo uma revolução na propriedade, isso pode ser seu se quiser.

Era assustador e enervante a forma como ele depositava tudo em minhas mãos.

-- E quando você voltar a se casar? – Perguntei-lhe mostrando mais um dos pontos falhos nessa ideia.

-- O que? – Ele perguntou assustado.

Bufando grosseiramente o olhei irritada. Homem estupido, ele certamente não poderia estar fazendo planos para passar o resto da sua vida solteiro, Malfoy é jovem, atraente, inteligente e rico, me admiro por ainda estar solteiro, pensei sentindo um bolo se formando em volta da minha garganta em pensar nele se casando novamente. Eu poderia estar em negação no momento, mas claramente eu perderia alguma algo no caminho quando esse dia chegasse.

-- Malfoy, você é jovem, está mais que obvio que em algum momento o casamento será uma opção. – Pontuei engolindo o sentimento de perda.- E quando isso acontecer como será essa batalha? Nenhuma esposa se sentirá confortável em ter sua casa comandada por outra mulher.

Me olhando como se estivesse vendo pela primeira vez um maldito testralio ele, passou a mão por seus cabelos o bagunçando ainda mais.

-- E... Eu nem sei o que dizer...- Seus olhos se voltaram para Theo e Narcissa que o olhavam divertidos.

-- Por que não administramos dois finais de semana para cada e o resto vai se encaixando? – Theo sugeriu.

-- Ohh! Excelente ideia Theo! – Narcissa bateu palmas uma vez.- Tenho certeza que dará certo, e passar o final de semana com um não restringe a presença do outro certo? – Perguntou a mais velha me olhando diretamente nos olhos.

-- Claro que não, vocês podem se hospedar em minha casa sempre que quiserem, na verdade isso seria maravilhoso! – Falei animada com a perspectiva de não mais me sentir tão sozinha. – Estarei abrindo as proteções para vocês e ajustando as enfermarias assim que voltar para casa.

-- Isso é encantador querida, você sabe que você é sempre bem-vinda nessa casa, então espero que se sinta em casa aqui! – Narcissa lançou um olhar astuto em Theo e falou se levantando. – Por falar nisso, estou me retirando para pedir que Mippy arrume seu quarto para essa noite.... Não aceitarei uma recusa. – Ela levantou sua mãozinha delicada me silenciando quando comecei a protestar.

Saindo elegantemente da sala ela se foi me deixando na companhia dos sonserinos.

-- Eu adoraria continuar assistindo a luta de vocês...- falou Theo se levantando e fechando seu terno. – Mas hoje eu tenho um encontro, então tenham uma boa noite e por favor... Não se matem!

Com a saída de Theo a sala voltou a cair no silencio tenso, Malfoy tinha voltado a mexer no velho livro que ele largou assim que iniciamos nossa... conversa acalorada? Me deixando cair sobre o encosto da cadeira fiquei pensando em cada palavra dita essa noite.

Tudo parecia muito surreal e bom demais para ser verdade, eu ainda não conseguia entender como a magia de uma casa antiga se abriu para mim, a casa que tinha o lema da pureza se sangue, a casa que lutou com tudo o que tinha para tentar livrar o mundo bruxo de pessoas como eu, que fez o possível e o impossível para levar todos a acreditar que nascidos trouxas não eram merecedores de sua magia. E segundo o Elfo da Família a Magia dessa casa me abraçou.

-- Malfoy? – Chamei baixinho.

Ele apenas levantou os olhos do livro por alguns segundos indicando que estava me ouvindo.

-- Você não está chateado com o rumo que as coisas estão tomando? – Ele já deixou claro que não estava ok com a minha relação e Scorpius e Narcissa, mas como ele estava se sentindo ao saber que a magia da sua casa está em ligação com uma nascida trouxa?

Suspirando ruidosamente ele voltou a me encarar, seu rosto estava em branco, mas eu sabia que algo o estava incomodando.

-- Eu estou frustrado Granger. – Finalmente ele soltou.

-- Oh! – Falei sentindo meu estomago se afundando, em saber de seu desapontamento com toda essa situação.

-- Tire sua mente desse caminho Granger. – Mais uma vez ele me estudava com curiosidade para enfim voltar a falar. -  A verdade Granger é que eu me frustro com cada passo que damos nessa relação... – Ele gesticulou entre nós dois. – Eu venho tentando ser paciente, mas alguns velhos hábitos nunca morrem, eu nunca fui uma pessoa muito paciente e esse... é o primeiro desafio que estou tendo em relação a essa pratica. Às vezes eu penso que você está bem o suficiente para me deixar entrar, mas então basta alguns dias e é como se voltássemos diretamente para o pátio da escola e isso que estou falando não se trata do fato de você ter tentado me matar hoje.

Sentindo como se eu estivesse caindo em um abismo respirei fundo e pensei em cada palavra que eu poderia colocar na mesa para ele. Eu não quero que ele se sinta dessa forma, eu não quero que iniciemos uma amizade insegura quando ele é uma das pessoas que mais me passam segurança, eu não quero que ele pense que eu não quero que ele não entre, na verdade eu estou lutando para dar esse passo. Eu o quero na minha vida, eu quero sua amizade, eu quero...

-- Eu quero que você entre. Eu quero deixar você entrar... – Falei insegura.

-- Mas... você não consegue deixar. – Ele continuava me analisando.

-- Existem...- Respirei fundo e o encarei de volta tomando coragem. – Existem barreiras que precisei colocar entre mim e as outras pessoas, acredite em mim Malfoy quando eu digo que eu quero deixa-lo entrar, eu caminhei pelo inferno e tive o desprazer de encontrar alguns demônios, eu até poderia dizer que um deles era você... – Seus olhos se abriram um pouco mais. – Mas isso seria mentira. Alguns demônios usam máscara e eu não os reconheceria, quando os descobri era tarde demais, alguns danos já haviam sido feitos na minha vida... – As lagrimas estavam escorrendo e eu não tinha nem mesmo força para limpa-las.

Me olhando assustado o homem na minha frente estava parado como se ao se mover o teto poderia cair sobre sua cabeça, cada musculo do seu rosto estava congelado, seus lábios estavam entre abertos e seus sobrancelhas levemente arqueadas, eu quis rir quando vi que ele não respirava, mas pensei que o momento seria completamente inapropriado.

-- O que aconteceu com você Granger? – Ele Perguntou baixo.

Ainda estudando seu rosto eu pude ver quando sua mandíbula travou e seu olhar se tornou pedra, seu rosto assumiu uma expressão dura fazendo com que a cicatriz que ele ostentava desde o pós-guerra no meio da sobrancelha direita que cortava fina até o canto do olho se tornasse mais ameaçadora.

-- Você não vai querer saber e eu não estou pronta para compartilhar. – Falei suavemente. – Basta saber que eu não caminho mais sobre os pisos do inferno, mas invés disso eu corro pelo purgatório topando com cada escolha que eu fiz ao longo da minha vida, cada maldita escolha ruim que me fizeram ser o que eu sou. Nos últimos dias eu pensei que talvez elas não fossem tão ruim assim já que elas me trouxeram para onde eu estou hoje, Scorpius é o que me dá forças para enfrentar isso e Narcissa é o impulso, o empurrão que eu precisava, o amor de uma mãe e um filho para amar, então quando eu digo que eu quero deixa-lo entrar eu estou sendo sincera, mas não posso ainda, não agora, não hoje, talvez não amanhã, mas eu espero com todo o meu coração que em breve.

-- O que eu posso fazer? Como posso ajuda-la? – Ele perguntou ofegante.

Ficando de pé e arrumando minhas vestes para sair e finalizar esse dia cansativo eu falei calmamente:

-- Amanhã será minha primeira consulta com a Psicóloga. – Disse sorrindo fracamente. – Um pequeno passo para fora dessa coisa toxica, você faz mais do que pode imaginar sendo apenas quem é, mas peço-lhe exatamente o que você tem mais dificuldade, paciência.

-- Você precisa de companhia amanhã para a consulta? – Ele estava de pé apoiado na mesa como se precisasse ser sustentado para não ir ao chão.

Eu ponderei por alguns segundos e cheguei a conclusão que talvez ter uma pessoa em quem me apoiar seja menos difícil de vencer essa luta.

-- Sim, verei se Narcissa terá disponibilidade de me acompanhar. – Por fim resolvi.

-- Claro! – Por um segundo ele pareceu desapontado, mas logo seu rosto estava em branco novamente, saindo de trás de sua mesa ele veio até mim.- Boa noite Granger. – Desejou ele me dando o seu beijo em minha bochecha.

Ao deixar sua sala desejei com todas as minhas forças que eu conseguisse atravessar essa Ponte.


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Quarta-feira, 03 de setembro

Isso era ridículo, não!

Isso era o cúmulo do ridículo, eu não conseguia acreditar que eu estava no elevador do ministério olhando para uma maçã como se ela fosse o meu pior inimigo e isso nem era o pior, o que era ridículo mesmo é eu estar tentando manter o chá preto e o pãozinho de canela que eu comi no café da manhã em meu estômago por causa de uma suposta lei do casamento que velhos loucos e desesperados estavam tentando colocar em vigor.

Céus, quando eu penso que o mundo pelo qual lutei com unhas e dentes estava em regresso, me fazia ficar doente.

O que eu esperava de um bando de bruxos sangues puros preconceituosos e decrépitos afinal?

Bem, se fosse para colocar em uma única palavra: Sensatez!

Mas como sempre eu estava elevando minhas expectativas. Ao acordar hoje eu fiz o exercício que minha psicóloga me passou como uma tarefa diária, sentei-me no chão de frente para o meu jardim e meditei por 30 minutos inteiros, limpando minha mente de tudo a minha volta e deixando-a vagar por coisas boas e bonitas. Construindo um futuro imaginário quente e brilhante.

Após o exercício me levantei escrevi duas cartas, a primeira para Scorpius que durante o final de semana que passamos juntos matando a saudade, colocando as tarefas escolares em dia e brincadeiras ele me fez prometer que escreveria todas as manhãs me prometendo que me escreveria todas as noites depois de fazer o dever de casa. Finalizando a carta com um eu te amo entreguei a mesma sorrindo para a coruja que ele ganhou do seu pai. A segunda carta foi para Ginny que mesmo com dois filhos e na reta final da sua terceira gestação, ainda arrumava tempo para me manter informada das fofocas. Embora eu ache que esse é só o jeito dela de verificar se eu ainda estou viva.

Depois da minha muito recém adquirida rotina matinal, segui para o ministério com o pensamento positivo de que seria um bom dia. Positividade essa que veio por terra no momento em que o wizengamot jogou a lei para aprovação.

O nascimento de crianças mágicas vem diminuindo alarmantemente desde a primeira guerra bruxa e após as baixas da segunda guerra, a população bruxa da Grã Bretanha caio assustadoramente, era uma preocupação real e válida.

Mas daí a criar uma lei onde obrigam bruxas e bruxos se casarem apenas com a intenção de procriar? Por Merlin, isso é no mínimo bárbaro.

Tremendo descontroladamente, desisti de tentar comer aquela maçã e a bani para minha sala me desculpando mentalmente com Sali por não estar seguindo a risca seu plano alimentar para mim.

-- Se acalme Hermione! – A voz de Katie me tirou das minha lamentações. – Talvez essa lei não seja aprovada, não sofra por antecipação.

-- Como você pode estar tão calma? – Perguntei. – Se essa lei entra em vigor, assim como eu, você também estará a mercê dela.

Ela estava me olhando séria, mas era apenas isso.

-- Eu também não estou me sentindo nas nuvens com a possibilidade de ter que me casar com alguém que não tenha sido escolha minha.- Falou ela calma. – Mas de que adianta eu me estressar antes do tempo? – Ela perguntou imperturbável – No momento eu só posso esperar que a deliberação dessa lei seja negativa enquanto eu me preparo para a comitiva que estamos indo recepcionar nesse momento.

Não concordando e nem descordando de seus pontos, apenas acenei com a cabeça indicando que ela estava certa.

-- Kingsley está animado com a comitiva, acho que são conhecidos. – Comentei.

-- Sim, o peguei cantarolando uma música enquanto assinava seus odiosos documentos. – Ela soltou uma risadinha me fazendo acompanhá-la.- Eu descobri que a música era bossa nova.

Isso era novidade, eu não sabia que Kingsley era tão eclético em seus gostos musicais, sempre o imaginei como uma pessoa com gosto para músicas clássicas que era sempre o que víamos ele se aventurando nas pistas de dança dos bailes.

Quando o elevador apitou abrindo as portas para o átrio ofeguei.

O átrio estava parecendo uma zona de Guerra, aurores em suas vestes cinzas e botas de pele de dragão pesadas estavam em posicionamentos táticos. Robards estava no meio disparando ordens a torto e a direito.

Kingsley estava ao lado da fonte em suas vestes sociais roxo profundo com Harry em seu uniforme de Auror chefe, rodeados por Percy Wesley, Bill Wesley, Terry Boot, Cormac Mclaggen, Blasio Zabini e... Espere aquele chegando era Draco Malfoy?

Ele atravessou o átrio em passos largos e seguros enquanto suas vestes azul marinho esvoaçava a sua volta dando-lhe um efeito tão dramático que o professor Snap sentiria inveja, seus cabelos estavam mais cumpridos e jogados desleixadamente para trás. Ele estava tão bonito que finalmente agradeci por Pansy ter me feito comprar novas roupas. Com uma saia lápis cintura alta preta e uma camisa branca, scapins clássicos negros, finalizei com um manto preto com estampas florais prateados, prático e elegante, dessa forma não estaria em desvantagem ao lado de alguém como Malfoy, pensei fazendo uma nota mental para mandar uma coruja em agradecimento pelas dicas a Pansy.

-- Caramba! – Katie soltou. – Perdemos alguma coisa?

Olhando em volta novamente, pensei que realmente deixamos alguma coisa passar. A passos rápidos eu me coloquei ao lado de Harry e peguei o fim das suas instruções para Boot e Mclaggen, os dispensando logo em seguida. No momento em que ficou sozinho eu o encarei e ele sorriu de forma simples porém bastante alegre para mim:

-- Ei, Mione! Katie! – Ele ainda estava sendo cauteloso comigo, e isso era um alívio, finalmente ele estava me levando a sério, ontem tivemos um almoço rápido juntos, ele chegou na minha sala  com uma embalagem de comida para viagem e um olhar esperançoso, quando o convidei para entrar foi como presenciar uma criança em uma loja de brinquedos, não falamos sobre o elefante na sala, porém em muito tempo éramos só eu e ele, dois irmãos compartilhando um almoço e conversando sobre amenidades, depois que ele saiu da minha sala lamentei que tivéssemos que nos despedir tão rápido, ele estaria conduzindo um treinamento para novatos e eu teria que pegar uma chave de portal para o consolado francês.

-- Harry! – Katie devolveu.

-- Harry, por favor não me diga que estamos em guerra? – Perguntei temerosa.

-- Não estamos, - sua risada foi tensa, o pensamento de uma nova guerra certamente é algo amargo para todos. - é apenas as boas vindas para o Ministro ou Sheik... – Falou ele confuso coçando a nuca.- Eu não sei bem ao certo.

-- E é preciso um pequeno exército para isso? – Katie perguntou alarmada.

Erguendo os ombros de forma impotente Harry deixou claro que alguma coisa estava importante foi deixado de lado, e isso não me agradou.

-- Ordens do Kim.- Foi sua resposta final.

Nos juntando aos demais me coloquei ao lado direito de Kingsley cumprimentando os que estavam presente, recebendo dois tapinhas no ombro do ministro, um beijo nos nós dos dedos de Bill e Percy, um abraço esmagador de Blasio e um aceno rígido de Malfoy que se colocou ao meu outro lado enquanto olhava ameaçadoramente para Blas, que por sua vez lhe sorria com todos os dentes de uma forma divertida e provocativa.

Enquanto Katie recebia atenção em sua chegada, pude sentir Malfoy me olhando de cima, me perguntando se havia algo de errado o olhei de volta pensando que ele desviaria, mas não foi o que aconteceu, ele permaneceu me olhando, ele estava com o rosto em branco, sem qualquer emoção a mostra, facilmente reconhecível as suas paredes da obstrução:

-- Malfoy? – Perguntei der repente me perguntou o que ele estava fazendo ali.

-- Sexta é aniversário de Scor. – Ele soltou.

-- Oh, sim eu sei. – Confirmei, estranhando essa conversa nesse momento, Malfoy é um homem focado e conversas pessoais no meio do trabalho ouso dizer que jamais fará parte de quem ele é.- Eu preciso ir a diagon para comprar-lhe um presente, estive pensando em fazer uma festinha para ele na minha casa e... chamar as crianças, você... Você acha que ele gostaria? – Perguntei-lhe.

Eu estive pensando nisso desde que voltei da mansão no domingo, pensei em mandar uma carta para Narcissa, mas sempre que pegava a pena e o papel algo acontecia e a coisa acabava me escapando.

Ainda me olhando de forma fixa, ele ponderava minha pergunta.

-- Acho que Scor amará qualquer coisa que venha se você. – Ele falou por fim. – Irei levá-lo para...

--- 30 Segundos! – A voz potente de Robards se fez ouvir cortando o que Malfoy estava falando.- Formação!

Após isso um pequeno estrondo foi ouvido quando todos se moveram ao mesmo tempo, Harry estava se colocou ao lado esquerdo de Kingsley com um passo raso a frente, eu estava a seu lado direito em uma linha reta, Malfoy ao meu lado direito se colocou na mesma posição que Harry, Blasio se colocou a seu lado, atrás de mim em meu ombro direito estava Katie em postura defensiva, Bill estava atrás do ombro esquerdo de Kin, enquanto Percy se colocou ao direito e a nossa volta cerca de 20 aurores espalhados. Estávamos em uma formação de defesa! Merlin, precisaríamos nos defender?

No momento em que a pergunta ecoou em minha cabeça um alto clack foi ouvido e alguns membros em roupas negras foram pousando em meio ao átrio, um... dois... três... ..... Onze... Doze... Membros pousaram no átrio em forma de meia lua, todos com lenços em enrolados na cabeça e no rosto, deixando a mostra apenas os olhos negros e afiados, suas mãos eram ocupadas, uma com a varinha e a outra com...

-- Merlin! – Katie sussurrou atrás de mim. – Aquelas coisas são armas?

Sim! Todos seguravam espadas grossas e afiadas, e era possível ver foices penduradas em suas... túnicas?

Me sentindo repentinamente ameaçada deixei minha varinha escorregar do coldre em meu braço para a minha mão, percebi que a minha volta todos já estavam com suas varinhas empunhadas. Tudo estava em completo silêncio e estão outro clack foi ouvido e mais um grupo de pessoas pousaram no átrio atrás da barreira humana dos homens armados.

Três homens de estatura mediana pousaram um pouco a frente e mais quatro pessoas atrás, não poderia afirmar com certeza, mas pareciam ser mulheres, e todas estavam cobertas da cabeça aos pés, não dava para ver absolutamente nada sob as vestes escuras. Dos três homens a frete dois estavam de vestes negras de duas peças, calças e túnicas até um pouco acima dos joelhos, em suas cabeças os lenços  eram enrolados mais elaborada e seus rostos estavam a mostra, seus olhos eram negros e se tornavam mais escuros devido aos contornos escuros em volta deles, seus narizes cumpridos e barbas longas, o primeiro parecia mais velhos com a barba grisalha e um pouco maior, o segundo tinha a pele um pouco mais escura com uma cicatriz cortando seu lado esquerdo da maçã do rosto até o queixo em uma linha curva e desforme prejudicando o crescimento perfeito de sua barba cheia e bem cuidada.

O terceiro homem estava olhando a tudo e a todos assim como eu fazia, ele estava com vestes também negras de duas peças, porém com bordados em dourado nas costuras, seu lenço branco e dourado ostentava um enrolado semelhante ao dos homens ao seu lado, mas o dele cobria-lhe o rosto também, deixando apenas os olhos cor de avelã delineados a mostra.

Saindo do seu lugar em meio aos dois homens ele passou pela linha de frente dos seus homens e puxou o lenço de seu rosto, revelando uma pele azeitonada, um nariz também cumprido e fino, barba bem aparada e de cortes simétricos rente ao rosto. Um sorriso largo mostravam dentes alinhados e brancos, era sim belo homem saindo da casa dos trinta ou talvez entrando na casa dos quarenta.

Se aproximando cada vez mais ele levantou os braços causando em mim a necessidade de apartar a varinha em minhas mãos me preparando para o ataque, mas surpreendendo a todos Kingsley saiu do seu lugar de encontro com o desconhecido falando:

-- Emir! – Seu sorriso estava radiante.- Saalam aleikum! – Sua voz soou clara enquanto sua mão direita pousou em seu coração em algum tipo de cumprimento.

Imitando o gesto de Kingsley sorriu mais amplamente respondendo alto.

-- Aleikum Essalam!

E então os dois se abraçaram dando beijos em seus rostos enquanto tapas altos eram ouvidos em suas costas, olhei em volta para ver se mais alguém achava tudo isso muito estranho e lá estava no rosto de quase todos a expressão de confusão, enquanto Malfoy e Blasio permaneciam com seus rostos em branco como se tivessem sido moldados em mármore, o prêmio para as melhores ou piores depende do ponto de vista, expressões foram para Harry Potter e Cormac Mclaggen. Cormac estava petrificado em sei lugar com o rosto recuado em seu pescoço com as sobrancelhas juntas e uma contração no lábio superior, Harry por outro lado estava com as sobrancelhas no alto quase juntas ao coro cabelo e a boca escancarada com os olhos frenéticos acompanhando cada movimento dos líderes a nossa frente, definitivamente Harry precisa adquirir a arte da sutileza, talvez mais tarde eu convença-o a ter algumas notas com Malfoy ou Blasio.

Deixando meu olhar voltar para os homens a nossa frente conversando, os percebi se aproximando de onde estávamos com os outros dois homens logo atrás.

Parando a nossa frente Kingsley voltou a falar:

-- Emir, esses são os homens que estarão em contato com você durante sua estadia na Grã-Bretanha.- Falou indicando a nós com as mãos.

-- Vejo que Harry Potter está conosco hoje.- Falou ele com os olhos brilhando para Harry que acenou com a cabeça de volta. Ele olhou de novo encontrando esquadrinhando a todos nós.

-- Oh! Sim, o Sr. Potter hoje é nosso capitão da nossa equipe de Aurores. – Gesticulando para os demais ele foi nos apresentando.- William Wesley o quebrador de Maldições, Percy Wesley chefe da nossa cooperação internacional de magia, Blasio Zabini nosso administrar contábil, Dracco Malfoy nosso advogado e especialista em negociações internacionais. – Os olhos do Senhor Shafiq dobrou de tamanho ao reconhecer um membro Malfoy.

-- O filho de Lúcios Malfoy.- Ele falou ainda sorrindo, mas agora não parecia sincero. – Um comensal da morte.

De onde eu estava era possível ver os ombros de Malfoy ficarem tensos e sua postura se tornou hostil, travei minha mandíbula e apertei ainda mais a varinha em minha mão ao ouvir aquelas palavras, como ele ousa dizer aquilo, como ousa a fazê-lo sofrer com suas palavras vis.

– Por fim, mas não menos importante.- Voltou a falar Kingsley tentando dispersar o silêncio que caiu sobre nós.- Meus braços esquerdo e direito, Katie Bell minha assistente júnior e Hermione Granger minha imediata o segundo membro do Trio de ouro.

Ele olhou rapidamente para Katie e depois se manteve em mim, foi um momento mais do que desconfortável, ele continuava a olhar para mim dos pés a cabeça, seu olhar era intenso, por um momento me senti nua.

-- A bruxa mais brilhante da geração! – Falou com fascínio. – Uma verdadeira Jóia inglesa, eu tenho esposas que foram criadas como princesas, eu tenho esposas que são princesas e todas são tratadas como rainhas, mas uma heroína como uma esposa subiria ao trono e me faria seu imperador. – Falando isso ele se aproximou de mim bruscamente me fazendo ir para trás esbarrando em Katie.

Em apenas um segundo houve uma comoção em que Harry, Malfoy e Blasio estavam na minha frente com as varinhas levantadas e olhares ameaçadores eram lançados a Emir Shafiq.

Recuando para onde seus homens estavam parados com as varinhas apontadas para os três a minha frente, olhei além deles e todos os doce homens agora estavam em posição de ataque, sentindo meu coração saindo pela boca senti Katie ficar ao meu lado esquerdo enquanto Kingsley falava calmamente:

-- Emir, peço que seja cauteloso ao se aproximar de qualquer um de nós, principalmente da senhorita Granger, como pode ver todos aqui nesse salão estão prontos para protege-la. – Seus olhos agora estavam sobre os três com as varinhas apontadas aos visitantes.

-- Magnífico, simplesmente magnífico! Heróis de guerra e comensais da morte trabalhando juntos para proteger a jóia inglesa. – Emir continuava me olhando fixamente. – A disputa sempre deixa a conquista mais doce.

Um rosnado alto e sonoro foi ouvido por todos na linha de frente, pelo rápido olhar de Harry posso apostar que Malfoy foi o causador.

-- Abaixem essas varinhas! – Kingsley falou olhando para todos.- Hermione é perfeitamente capaz de se defender.

Aos poucos todos foram baixando suas varinhas, Harry voltou para seu posto e um Blasio relutante se colocou de lado perto de Mclaggen mantendo-se em alerta, Malfoy com um único passo longe se projetou ao meu lado, direito perto, muito perto, se eu movesse qualquer parte do meu corpo estaríamos nos tocando.

Emir Shafiq agora voltou a se aproximar pegando minha mão esquerda na sua e a levando a seus lábios, da mesma forma que Bill e Parcy tinham feito anteriormente.

-- Encantado em conhecê-la senhorita Granger! – Ele falou plantando um beijo em meus dedos e me olhando com intensidade.

Uma sensação indescritível se apossou do meu corpo ao sentir sua pele contra a minha, me sentindo tensa apenas sorri com os lábios fechado e Precisando me sentir  segura, com a mão livre agarrei o pulso de Malfoy sentindo o alívio percorrer por mim.

E um raio me atingiu com a compreensão: Eu me sentia segura com Draco Malfoy!


















Ocean Eyes - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora