Hope...

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Estávamos todas sentadas na areia enroladas em mantas observando o céu tornar-se claro e o sol nascer. Apoiadas umas nas outras deixamos o silencio nos envolver sentindo a harmonia entre nós. Ginny estava deitada no meu ombro direito enquanto eu fazia breves carinhos em seus cabelos vermelhos, Luna estava deitada esparramada na areia apenas de calcinha e sutiã enquanto Cho estava sentada ao seu lado com os dedos entrelaçados aos seus e Parvati descansava a cabeça em suas pernas, Daphne e Astória estavam abraçadas enquanto a mais nova permanecia pensativa, Fleur e Angelina estavam sentadas apoiadas uma a outra, enquanto Pansy estava do meu lado esquerdo com o rosto descansando no meu colo com a mão entrelaçada a minha. 

Era tão estranho pensar na ex sonserina sendo amigável daquela forma. Tínhamos deixado o passado para trás isso era indiscutível, todos somos adultos o suficiente para seguir em frente sem ressentimentos, mas o que eu fiz para merecer tanto afeto? Como consegui o carinho que mesmo da sua forma ela vem me mostrando? Daphne tem uma personalidade amável e dócil, é dela ser carinhosa e gentil com as pessoas, mesmo em Hogwarts quando os Sonserinos tinham como hobby me atormentar era possível ver seus olhos gentis sobre mim e seus lábios pressionados em uma linha de descontentamento. Pansy Parkinson era diferente, assim como Malfoy seu único objetivo era apenas ferir, ser cruel e maldosa. Era possível ver a diversão em seu olhar ao me deixar mal com suas palavras ferinas e preconceituosas. O que mudou? O que está diferente? Nos últimos dois dias ela vem se mostrando ser uma pessoa completamente diferente do que foi no passado, uma mulher madura e forte que mesmo com sua personalidade espinhosa ainda assim é capaz de mostrar carinho e compaixão com um coração acolhedor e quente.

-- Pansy? – Chamei Baixinho.

-- Humm? – Ela respondeu se aconchegando ainda mais ao meu corpo.

Era estranhamente familiar a forma em que todas nos mantínhamos umas a outras, como se o toque não fosse nada mais que uma demonstração de companheirismo e cumplicidade. Pessoas de fora poderiam confundir nossos contatos com algo malicioso e inapropriado, mas estávamos tão confortáveis que simplesmente se tornava o certo.

-- Por que está fazendo isso? – Perguntei insegura.

-- Fazendo o que? – Sua voz deixava claro sua confusão.

-- Por que está me ajudando? – Reformulei a pergunta ainda mais insegura.

Ela ficou por alguns minutos em silencio me deixando ainda mais tensa sobre o momento bom que todas nós compartilhávamos não ser o ideal. Mas quando sua voz voltou a ecoar nos meus ouvidos era quase impossível de ignorar os sentimentos que ela transparecia, Pansy Parkinson estava se abrindo para mim:

-- Quando vi Narcissa te arrastando escada acima eu soube que algo não estava certo. – Suspiro. – Eu não tinha ideia do que poderia ser, mas não estava certo. E quando eu te vi naquele chão frio pedindo por socorro tão silenciosa eu percebi o que estava errado.- Sua voz estava tremida. – Era eu ali. Era eu, era Daphne, era Gina, era Lovegood, era Narcissa, era todas nós ali se afogando em sofrimento. – Sua voz falhou.- Todas em algum momento tiveram alguém que lhe estendeu a mão, quando eu estava prestes a subir no altar com um velho que tinha sessenta anos a mais que eu apenas porque minha família queria preservar o sangue e aumentar nossos cofres eu me vi no meio de um desespero semelhante. Faltando uma semana para o maldito casamento eu fugi da Irlanda apareci na mansão dos Malfoys em igual desespero, Draco foi quem me estendeu sua mão, ele moveu mundos e fundos mais de alguma forma conseguiu anular aquele casamento asqueroso, hoje em dia meu pai não olha na minha cara e minha mãe sempre arruma uma forma de dizer que eu sou a vergonha da família. – Risadinha nervosa. – Se esse é preço para me ver livre daquela vida eu não me importo. – Sua voz agora era suave e calma. – E te olhando naquele chão era claro que você precisava dessa pessoa que te estendesse a mão. Na hora eu não pensei muito, mas eu tinha uma pergunta rondando na minha cabeça: ela me aceitaria como essa pessoa? Foram tantos anos lhe cuspindo intolerância e preconceito, será que ela pode acreditar que eu não compartilho mais aqueles mesmos pensamentos? – Suas perguntas eram validas e eu queria muito saber qual foi sua própria resposta. – Mas então eu me lembrei de quando voltamos a Hogwarts, todos nos olhavam como se fossemos o próprio Voldemort, todos nos viraram as costas, todos queriam nos ver pagando de alguma forma, mas não você. A que mais concentrávamos o nosso preconceito, a que aguentou por anos nossas ofensas. Você não nos olhou diferente, não nos xingou e nem nos humilhou. Você apenas era você, quando as meninas da do oitavo ano da Sonserina imploraram a Minerva para não ficar nas masmorras por causa do que o Carrow fez... – Senti um gelo subindo pela minha espinha ao lembrar dos relatos sobre os abusos dos Carrow em Hogwarts. – Foi você quem espantosamente veio ao nosso socorro sugerindo que fosse feito dormitórios de casas mistas. Eu ainda era apegada aos costumes puro sangue, mas já estava com um pé atrás com os conceitos e aquele seu ato de sensibilidade com a nossa casa foi o ponta pé inicial para todos os meus questionamentos. Quando fomos divididas entre as casas fui relutante para a Griffinória achando que seria hostilizada, mas surpreendentemente vocês foram educadas apesar de frias, mais tarde soube do seu monologo sobre segundas chances e essas merdas afins, mas não tínhamos do que reclamar. O ano foi passando e minha percepção sobre vocês, sobre você, ia mudando gradativamente. Você continuava a mesma sabe-tudo irritante, mas era apenas isso, sem nada terrivelmente ruim, quando a NOMs e NIEMs chegou os todos estavam apavorados e você como sempre apareceu com uma solução, um clube de estudos! – Falou ela dando risada e um sorriso pintou nos meus lábios. – Os Sonserinos estavam relutantes e eram orgulhosos demais para aceitar essa ajuda, mas um a um foram aparecendo no seu clube, estávamos envergonhados e cansados, mas você pacientemente ajudou a todos novamente. Então aquela foi minha resposta, você me aceitaria como essa pessoa, você me aceitou, você acredita na evolução das pessoas.

Ocean Eyes - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora