Já se passaram cinco dias desde que eu acordei sem minhas memórias. Depois de me recuperar do meu "episódio emocional" eu constatei rapidamente que, caso eu quisesse mesmo sobreviver, eu precisaria de mais informações sobre tudo. Que lugar é esse? Por que eu estou aqui? O que eu posso fazer pra sair? Eu devo sair?
Eis o que eu descobri até agora:
Primeiro, conforme eu recobrava meus sentidos depois de comer, eu percebi que essa caixa de metal na qual eu me encontro está lenta e constantemente se movendo. Não simplesmente me prenderam, como também estão me levando para algum lugar;
Segundo, no outro dia, me trouxeram mais um prato de comida e um pouco de água. Isso me intrigou. Por que eu estava morrendo de fome e sede então? Após sair apalpando o chão, eu descobri um canto repleto de pratos de comida não aproveitados e alguns cantis de água. Parece que "eu" antes de perder a memória propositalmente não comia há dias. Ainda não sei o porquê disso, mas pelo menos descobrir isso me rendeu um pouco mais de água (mas comida estava podre);
Terceiro, eu recebo uma pequena quantidade de comida e água uma vez por dia. Não é o suficiente pra me saciar totalmente, mas vai me manter com vida. Parece que o objetivo é me manter nesse estado de fraqueza, talvez pra que eu não consiga resistir ou algo assim;
Quarto, depois que eu recobrei grande parte dos meus sentidos, eu consegui ouvir algumas vozes do lado de fora. Embora eu não consiga escutar o conteúdo de suas conversas, eu sei que tem pelo menos quatro pessoas me acompanhando na minha "viagem" e elas revezam quem vêm pra me trazer comida;
Quinto, eu venho percebendo alguma agitação recentemente, então eu acho que estou chegando aonde eles querem me levar.
Essas são as informações que eu tenho até o momento. A conclusão de tudo isso é que eu ainda não sei nada... mas "conhecimento é poder" e saber as coisas vai me ajudar a ter mais opções no futuro. Ou pelo menos vai me ajudar a entender melhor a minha situação mesmo que a maior parte dessas informações só tenham levantado mais perguntas. No momento, eu preciso esperar pra saber para onde eu estou indo.
Passaram mais dois dias.
Descobri que sou uma pessoa muito paciente e com bastante autocontrole. Cheguei nessa conclusão considerando o fato de não ter surtado nenhuma vez depois de sete dias numa caixa fria e fedorenta. Tá... quase nenhuma vez. O primeiro dia não conta já que meu descontrole veio de um momento importante de epifania e transformação pessoal... ou qualquer coisa desse tipo.
De repente a grande caixa de metal para de se mover e eu ouço alguma agitação do lado de fora.
Será que finalmente chegamos seja lá onde for?
A porta se abre e a luz ofusca a minha visão. Eu vejo com pouca nitidez quatro figuras humanoides na porta escancarada e três delas vêm se aproximando de mim. Um deles põe um saco de pano envolta da minha cabeça enquanto os outros dois me jogam no chão e me seguram com a cara no chão sujo. O mesmo que colocou o saco amarra firmemente minhas mãos para trás fazendo doer meus pulsos.
— Que coisa mais nojenta. Essa é a cela mais asquerosa na qual eu já entrei! – um deles reclama como se não fosse culpa deles.
— Cala a boca e faz seu trabalho, assim a gente termina mais rápido. – esse outro falou.
Ele parecia ser o chefe dos outros, já que tudo que ele fez foi abrir a porta enquanto ficava lá parado olhando e mandando. Pela voz, esse parece ser o mesmo que cuspiu na minha água aquele dia. Eu o ouço se aproximando.
Eu começo a tentar me levantar e de repente, eu sinto um chute no estômago. Eu mal consigo terminar o primeiro gemido de dor e o segundo chute me atinge no mesmo lugar, me tirando o fôlego.
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Aço Carmesim - As Paredes de Ferro Negro
FantasiaSe a esperança é o combustível da vida, o desespero seria o combustível de que? Pior do que ter memórias que te assombram, talvez seja não lembrar de nada enquanto um passado desconhecido te persegue. Quanto sangue ainda precisa ser derramado? Todo...