Pessoas como o Don estão acostumadas a conseguir o que elas querem sem muita demora justamente pelo fato de que elas não têm pressa pra conseguir as coisas, mas ao mesmo tempo não medem esforços pra tal. Não importa o quanto eu resista, ele não vai parar até eu dizer a verdade.
Sem tempo pra pensar em qualquer coisa, não me resta alternativa.
Eu tenho que falar!
— Espera! – Eu grito e por um instante, Donovan para de contar. – O Brutus veio atrás de mim três dias atrás. Ele nos rendeu, matou uma das pessoas que estavam comigo e nós brigamos feio. De alguma forma eu consegui dar um jeito nos subordinados dele, mas ele acabou fugindo. Antes que eu pudesse ir atrás dele, eu acabei desmaiando de exaustão e só acordei hoje. Isso é tudo que eu sei!
— Humm... – Donovan para pra ponderar. – E como eu vou saber se você está falando a verdade?
— Ele matou um dos meus. Com a raiva que eu senti dele, se eu soubesse onde ele está, eu teria pendurado ele na frente do meu túnel como exemplo para os outros! E não foi você mesmo quem disse que é bom em dizer quando as pessoas estão mentindo ou não? – Eu tento sorrir, mesmo com o rosto amassado no chão.
— Hahahaha, me provocando até nessa situação. Pelo menos ninguém pode dizer que você não tem coragem, Zet. Com quantos subordinados ele foi atrás de você?
— Cinco.
Quando eu acabo de responder, Don faz um sinal com a mão e todos os que estavam me segurando, me soltam. Dois deles me levantam e numa velocidade impressionante, todos em volta de nós simplesmente voltam aos seus postos de trabalho como se nada tivesse acontecido.
— Viu! – Ele põe a mão no meu ombro e dá duas batidinhas leves. – Não foi tão difícil, foi?
Dá pra perceber claramente a mistura de alívio, confusão e um pouco de raiva no meu rosto, mas antes que eu termine de organizar meus pensamentos sobre o que aconteceu aqui pra dizer alguma coisa, Don começa a falar:
— Espero não ter te assustado muito. Eu não ia realmente fazer nada com você, mas depois que nós conversamos e eu entendi o tipo de pessoa que você é, eu achei que esse era o jeito mais rápido de você me falar a verdade.
Não ia fazer nada comigo? E se eu não tivesse falado nada? Sou eu quem não acredito muito na história dele agora. Bem que me avisaram que ele é perigoso.
Pelo menos eu não tive que falar nada demais. Talvez eu tenha sorte dele ter ficado satisfeito só com essa meia verdade.
Com tudo isso que aconteceu, ele me mostrou uma coisa bem importante... Todas essas pessoas que estão aqui e quem sabe quantas mais entre prisioneiros e guardas obedecem cegamente ao que ele diz. Se ele mandasse elas me matarem, por exemplo, eu já não estaria mais aqui.
Eu posso ter o poder que for, mas ele e o poder que ele tem sobre as pessoas não é algo que possa ser subestimado.
De qualquer forma, não vai adiantar eu ficar com raiva agora e recuar por medo só vai servir pra mostrar uma fraqueza que eu não posso ter na frente de gente como o Don. Meu objetivo agora é tentar terminar logo essa conversa com ele e sair daqui o mais rápido possível.
— É, você tinha razão. Parece que funcionou direitinho, inclusive. – Eu digo, arrumando meu uniforme amarrotado.
— Os jovens de hoje em dia têm esse costume de levar qualquer coisinha pro lado pessoal. – Ele começa a falar e volta a andar entre os grupos de pessoas trabalhando. Eu o sigo. – Mas você precisa entender que são só negócios. Até com essas pessoas aqui... É incrível como duas ou três refeições por dia e um pouco de conforto podem comprar a lealdade da maioria das pessoas em Avgrun. Elas passam até a matar por você, se você pedir.
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Aço Carmesim - As Paredes de Ferro Negro
FantasySe a esperança é o combustível da vida, o desespero seria o combustível de que? Pior do que ter memórias que te assombram, talvez seja não lembrar de nada enquanto um passado desconhecido te persegue. Quanto sangue ainda precisa ser derramado? Todo...