5 - A Proposta

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A porta se abre e eu mal posso acreditar na minha visão. Mesmo depois de tudo que eu passei por aqui, se não tivesse visto com meus próprios olhos, eu talvez não acreditasse.

Através da porta, nós chegamos em uma imensa caverna na qual do chão ao teto, caberiam mais de dez pessoas em pé umas em cima das outras. As paredes são bem brancas, mas possuem alguns padrões escuros aqui e ali. Essa grande parte principal se estende bastante e vários cristais grandes foram colocados ao longo dessa caverna com o intuito de iluminá-la por completo.

Por toda a sua extensão eu consigo ver tuneis menores cavados em diferentes alturas ao longo da parede de onde entram e saem pessoas carregando sacos e carriolas repletos de pedras e cristais. Os carregamentos que vêm dos tuneis mais altos vem sempre em sacos e as pessoas fazem o que podem pra descer por escadas de corda carregando os pesados montes de minérios.

No centro de tudo isso está uma torre de metal negro. Na verdade, está mais pra um pilar do que uma torre. Ele se estende do chão ao teto e é repleto de janelas pelas quais vários guardas vigiam os prisioneiros trabalhando.

É uma visão surpreendente, com certeza, mas nada disso foi o motivo do meu espanto inicial.

Ao longo de toda a parte principal das minas, existem pequenos montes de corpos de prisioneiros. Os mortos mais embaixo, em um estado mais avançado de decomposição, repletos de vermes comendo a carne pútrida, enquanto na parte de cima repousam os corpos daqueles que morreram há pouco tempo.

O que mais me enoja, no entanto, é que não são só mortos que compõe os montes. Eu consigo ver algumas pessoas ainda se mexendo entre os corpos. Os mais velhos clamam por socorro enquanto as crianças têm força apenas para chorar. E se eles tentam se arrastar para fora da pilha de corpos, os guardas ativam a marca em suas nucas, fazendo questão de só causar dor o suficiente para que eles parem de se mover e continuem vivos em meio ao monte pestilento de cadáveres.

— O... o que é isso? – Eu mal consigo falar algo. – Por que tem... pessoas vivas ali?

— Existe todo tipo de pessoa trabalhando por aqui. – Arthion responde. - E muitas vezes alguém acaba se ferindo, principalmente crianças e idosos que não tem força e resistência suficientes para o trabalho pesado. Nós não temos um lugar para tratar os feridos na prisão, então se você morre ou se machuca demais pra poder trabalhar, você é jogado em uma dessas pilhas. Ao completar de dez ciclos, os corpos são levados pra fora pra servir de comida para as criaturas da Toca.

Servir de comida para o que? Não importa! É horrível de qualquer forma.

Minha raiva não me deixa parar pra refletir por muito tempo e assim que Arthion termina de falar, sem pensar muito, eu sinto o impulso de ir até a pilha de corpos mais próxima e tirar as pessoas vivas de lá, mas assim que eu começo a andar, sinto ele me segurando pelo braço.

— Não vale a pena. Você viu o que eles fazem com quem tenta sair de lá. Se você for lá, só vai conseguir uma punição pra você também. – Arthion diz isso com seriedade e eu sei que ele tem razão.

Não sei o porquê, mas desde que o tenente me eletrocutou, Arthion vem agindo mais amigavelmente comigo e me dando não só informações, mas também alguns conselhos. Parece que eu fiz a escolha certa em segui-lo pra cá. Isso também me permitiu ver como esse lugar é pior do que eu imaginava.

Ninguém deveria ser tratado como eles tratam as pessoas por aqui.

Já seria assustador o suficiente se fosse só o trabalho em si já que, sem distinguir gênero, idade ou gravidade do crime, eles usam o medo e a violência pra fazer todos trabalharem até o que parece ser o limite entre a exaustão e a morte.

Aço Carmesim - As Paredes de Ferro NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora