10 - Olhos de Anjo

16 5 1
                                    


Brutus torce e aperta o punhal o mais fundo que consegue antes de retirá-lo de Nina.

Enquanto as gotas de sangue escorrem pela mão do assassino, os olhos dela perdem o brilho e suas pálpebras se fecham enquanto seu corpo cai ao chão.

— Aaah... Isso foi bom. Eu já comecei a me sentir bem melhor... – Ele limpa o sangue no próprio uniforme e sorrindo, começa a andar na direção do Arthion.

TODOS ELES ESTÃO SORRINDO.

Meus olhos ainda estão fixados no corpo da Nina jogado no chão e eu sequer consigo chorar enquanto meu corpo tensiona e meus movimentos travam por um instante. Será que a culpa é minha?

ELES CONTINUAM A SORRIR.

Eu não devia ter envolvido ela nisso... Se eu tivesse tomado mais cuidado, ela ainda estaria aqui. Se eu tivesse deixado o Arthion cuidar dela desde o começo, isso não estaria acontecendo.

ELES PARECEM ORGULHOSOS DO QUE ESTÃO FAZENDO.

Mas se eu não tivesse ido até a clínica, talvez eu me sentisse pior por nunca ter tentado. Eu precisava tentar por ela... ou eu fiz tudo isso por mim? Não sei se importa agora...

ELES NÃO VÃO PARAR POR AÍ...

Não muda o fato de que eu deixei ela morrer na minha frente. Eu não consegui fazer nada. Eu não consegui manter minha promessa. De que adianta tentar viver uma vida miserável se eu não consigo proteger quem é próximo de mim?

ELES MERECEM TODOS MORRER!

Minha mente está repleta de sentimentos que se misturam e se sobrepujam continua e violentamente enquanto eu não consigo organizar meus pensamentos até que, com uma força incontrolável, o ódio e a raiva começam a consumir todos os outros sentimentos.

Sem espaço pra culpa, medo ou tristeza, eu sinto meu corpo queimar por dentro e é como se tivesse algo preso na minha garganta, querendo desesperadamente sair. Minha respiração fica cada vez mais intensa e eu cerro meus dentes com tanta força que eu sinto que eles podem quebrar a qualquer momento.

Eu sinto cada batida do meu coração esquentar meu corpo enquanto meu sangue parece feito de agulhas que me perfuram por dentro. Essa dor intensa chega ao pico e eu finalmente sinto as lágrimas que eu não havia soltado até agora, escorrendo pelo meu rosto.

Mas quando eu olho pra elas, diferente do que poderia se esperar, elas não são lágrimas comuns. Como se meus sentimentos transbordassem pelos meus olhos, espessas gotas vermelhas rapidamente escorrem e pingam no chão branco. São as lágrimas que carregam tudo o que eu estou sentindo.

Minhas lágrimas de sangue.

E enquanto elas caem, como eu não achava que seria possível, minha dor aumenta em uma explosão, me fazendo sentir como se estivesse em chamas.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHH!!! – Eu urro com toda a minha força enquanto um clarão azul preenche todo o túnel, me impedindo de enxergar por alguns instantes.

Quando o clarão se vai, com ele some a dor intensa que eu sentia e eu volto a ver. Eu sinto meu corpo encharcado de suor e um pico de energia dentro de mim.

Com meu grito e o clarão repentino, todos estão surpresos olhando pra mim. O sorriso no rosto de Brutus começa a desmontar lentamente e o punhal que ele acabou de usar quase cai de sua mão enquanto ele olha paralisado para os meus olhos.

Olhando em volta, minha visão não é mais a mesma de antes. Em cada uma das pessoas que eu vejo, eu enxergo uma espécie de aura de cor preta que dança em volta de seus corpos. É uma energia densa e selvagem que se comporta como uma fumaça espessa que é atingida de vários lados por ventos fortes.

Aço Carmesim - As Paredes de Ferro NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora