11 - Medo

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Eu caio de joelhos olhando para o meu reflexo na porta de espelhos, ainda em choque pelo que acabou de acontecer. Eu não estou chorando, mas eu sinto um aperto no coração e uma forte indignação enquanto lembro de tudo, detalhe por detalhe. Foi tudo muito rápido e é difícil digerir tudo de uma vez. Uma série de sentimentos me preenche e eu os sinto intensamente enquanto as cenas passam pela minha cabeça.

É como se nesse lugar que eu não conseguisse suprimir o que eu sinto. Como se tudo estivesse constantemente à flor da pele. Cada emoção vem com força, me obrigando a lidar com ela e eu grito, bato no chão, puxo meus cabelos, cerro os dentes com força ou só fico em silêncio encarando o nada enquanto elas me atingem, todas ao mesmo tempo.

Eu não sei quanto tempo se passa enquanto isso se repete e lentamente eu começo a me acalmar.

Quando tudo se acalma e eu consigo pensar melhor, só um sentimento continua lá agulhando meu coração, me tirando o ar e me impedindo de me levantar.

Frustração.

Frustração por não ter planejado melhor antes de fazer as coisas, por não ter me prevenido para o que podia acontecer e por ter sido incapaz de fazer algo enquanto machucavam quem é importante pra mim.

Tudo começou a dar errado quando eu comecei a me apegar demais às pessoas, talvez por medo da solidão, mas meu erro não foi ter me aproximado dos outros, foi ter parado de pensar e ter começado a agir por impulso me baseando nas minhas emoções.

Se eu tivesse pensado um pouco mais antes de tomar minhas decisões, as coisas poderiam ter sido bem diferentes.

Eu não posso deixar algo assim acontecer de novo!

Eu preciso me planejar antes de agir e pensar antes de falar. Eu percebi que algumas pessoas e situações são muito mais complexas de se lidar do que eu gostaria, mas eu não vou deixar que isso me impeça de estar um passo à frente pra impedir que aqueles que são importantes pra mim se machuquem.

Nesse momento eu sinto um calor no meu peito como se tudo que eu estivesse sentindo agora fosse, de alguma forma, familiar. É como se eu tivesse encontrado uma parte de mim.

A partir de agora eu não quero só viver, mas também criar um lugar onde eu possa sorrir, como eu fiz com a Nina.

Meus erros se transformam em frustração e arrependimento e eu vou usar isso pra alimentar minha determinação, mas uma coisa é certa... pra atingir meu objetivo, eu preciso ficar mais forte como eu puder.

Eu preciso mudar!

É lógico que eu não me recuperei do choque da morte da Nina, mas eu quero lutar pra que algo assim não aconteça de novo. E assim que eu tenho isso certo no meu coração, é como se uma nova esperança se acendesse dentro de mim.

De repente, um barulho me tira dos meus pensamentos. É o barulho da porta se destrancando e abrindo.

Ela só se abriu o suficiente para que um feixe fraco de luz azul invadisse a sala onde eu estou. Eu me levanto, ando até a porta e coloco a mão na maçaneta. O problema é que eu não sei onde eu estou ou aonde essa porta vai me levar. Talvez seja mais seguro fechar a porta e esperar que eu acorde, como da última vez.

Só que eu também não sei se eu vou ter outra oportunidade de vir pra cá.

E se do outro lado tiver algo que possa me ajudar?

Eu respiro fundo, tomo coragem e passo pela porta. A primeira coisa que eu vejo e sinto é o chão escuro de terra macia e úmida. Uma brisa leve e fria bate no meu rosto e eu ouço um farfalhar que parece vir de toda a minha volta, mas ele vem de tão longe que eu sequer consigo ver as árvores em meio a escuridão.

Aço Carmesim - As Paredes de Ferro NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora