9 - Vidas em Jogo

17 6 1
                                    


Um dos meus o que???

Depois do que Brutus falou, eu entendi instantaneamente a má fama que ele tem, mas eu não acho que é questão de ser bom ou mau. Ele é louco! Que tipo de médico pede o olho de alguém como forma de pagamento?

Eu não consigo esconder minha surpresa e meu instinto inicial é negar a proposta dele, mas antes que eu fizesse isso, meu corpo hesita.

E se eu negar e não tiver outro jeito?

Se ele é a única pessoa que pode ajudar a Nina, então infelizmente ele pode cobrar o que quiser e não precisa aceitar negociações, mas um dos meus olhos...

Não. Eu não posso pensar assim.

O que é um só olho comparado com a vida dela?

— Você ficou maluco??? – Arthion grita, indo pra cima de Brutus. – Um olho? Você acha mesmo que...

Antes que Arthion fale mais alguma coisa, eu coloco o braço na frente dele e olho bem nos olhos dele. Ele entende, se acalma e para. Todos ficam em silêncio, se encarando por um instante e Nina parece amedrontada com essa situação.

— Brutus, não tem outra coisa que eu possa te dar ao invés disso? – Eu digo, quebrando o silêncio.

— Deixa eu ver... – Ele para pra pensar enquanto volta a passar a mão em sua barba. – Uma coisa de valor igual seria uma das orelhas do seu amigo aí atrás, mas sem as pontas eu não tenho interesse nisso.

Eu olho para o Arthion e a expressão de raiva que ele estava segurando dá lugar à uma de profunda tristeza. Eu já tinha reparado nas cicatrizes que ele tinha em cima das orelhas, mas eu não sabia que era algo que o afetava dessa forma. "Sem as pontas" foi o que o Brutus disse. Eu não sei muito bem o que ele quis dizer, mas isso é algo que talvez eu possa perguntar diretamente ao Arthion quando nós terminarmos de lidar com isso aqui...

— Então... – Eu dou sinal pra Brutus continuar falando.

— Então ou você me arranja 35 refeições em cristais até o final do dia, ou o único pagamento que eu vou aceitar vai ser um dos seus olhos mesmo. E eu quero o pagamento adiantado. Ou isso ou vocês podem sair daqui, porque eu tenho mais o que fazer. – Brutos termina de falar e está novamente com um sorriso largo estampado no rosto.

Era exatamente isso que eu não queria que ele fizesse... Ou atende as demandas dele, ou ele não faz o que a gente quer. Nós nunca teríamos como arranjar essa quantidade de cristais, então ele só deu uma opção de verdade. Eu não tenho outra escolha.

— Brutus, você disse que se ela for pra clínica hoje é possível que você ainda consiga ajudar... Isso significa que existe a chance de que você não consiga? – Arthion pergunta.

— É isso mesmo. – Brutus diz. – No estado em que está o braço dela, pode ser nem eu consiga fazer alguma coisa. Vocês demoraram muito pra vir até mim.

— E mesmo com essa chance você ainda quer cobrar um preço desses? – Arthion parece estar ficando irritado de novo.

— Vocês reclamam muito! Um olho nem é um valor tão alto comparado com uma vida! Vocês não querem salvar a garotinha? – Brutus sorri.

Arthion parece estar perto de perder a paciência novamente, mas quando Brutus termina de falar, eu tenho uma ideia. Pode não ser ideal, mas é melhor do que o que nós temos agora e eu estou suspeitando dele há algum tempo.

— Então tá, eu aceito sua proposta. – Eu digo e o sorriso de Brutus se abre ainda mais. – Mas eu tenho uma condição. Você vai primeiro tratar ela. Se você conseguir e a Nina viver, eu deixo você ficar com meu olho, você tem minha palavra... mas se você falhar, aí eu pessoalmente arranco um dos seus olhos com uma colher, feito?

Aço Carmesim - As Paredes de Ferro NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora