6 - Aberração

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Eu deduzi que por estar em uma prisão, vários tipos de perigo ameaçam a minha vida. Mesmo que não sejam todos os presos que cometeram crimes graves, o mundo é repleto de pessoas sem caráter e cedo ou tarde eu sabia que alguém viria atrás de mim, principalmente dada a atenção que minha numeração e meus olhos (que depois de tudo isso, eu assumo que sejam mesmo da cor que eu vi no meu sonho) trazem pra mim.

Mesmo assim eu não achei que em menos de dois dias alguém tentaria me matar.

Eu tento com todas as minhas forças me livrar das mãos que estão me segurando, mas ele aperta com tanta força que eu sinto que a qualquer momento meu pescoço pode acabar quebrando.

Minha consciência se esvai aos poucos e mesmo batendo, chutando e socando, nada parece abalar Pedro, que sorri enquanto eu perco minhas forças.

Eu não quero morrer...

Eu não posso morrer...

Eu não...

Eu não vou morrer!!!

Eu tive uma ideia pra me livrar daqui. Eu posso acabar me prejudicando um pouco com isso, mas pelo menos eu vou viver. Por mais que eu tente, eu não consigo fazer nada com ele pra que ele me solte, então o jeito é fazer comigo.

Com isso em mente e usando o que me resta de força antes de desmaiar, eu procuro rapidamente o Sigilo na minha nuca e cravo minhas unhas nele. Nesse momento, um forte choque elétrico é enviado por todo o meu corpo, me queimando por dentro e contraindo todos os meus músculos.

Mas o choque não me atingiu sozinho.

Se antes, quando o guarda ativou o Sigilo, as pessoas em volta sofreram junto comigo, agora o efeito parece ter sido dez vezes pior. Enquanto o choque me atinge, o sorriso deixa o rosto de Pedro e dá espaço a uma sincera expressão de dor.

O choque o atinge junto comigo e ele grunhe. Depois de poucos instantes enquanto ele tentava continuar me segurando, ele me solta, dando três passos pra trás com as mãos trêmulas.

Eu caio com as costas no chão e respiro o mais fundo que eu consigo antes de começar a tossir desesperadamente, ainda com o corpo doendo pelo choque. Aos poucos minha visão vai clareando e eu vou voltando a mim, mas eu não tenho muito tempo pra me recuperar.

Pedro foi atingido, mas rapidamente se recupera. Ziggy e Mia ameaçam vir pra cima de mim, mas ele faz um sinal para que eles não venham e os dois param. Nesse momento Pedro começa a vir andando na minha direção e eu, ainda tossindo e no chão, começo a me arrastar pra longe sem tirar os olhos dele por um instante que seja.

As pessoas que estavam por perto se afastam, correndo pra direções aleatórias e eu acabo entrando no túnel enquanto me arrasto. Eu quase me recuperei por completo e estou prestes a me levantar pra correr pra uma parte mais profunda do túnel, mas um arrepio corre pela minha espinha quando eu encontro a parede com as minhas costas.

Ele me alcança.

Seu rosto indica raiva e ele prepara um soco. Eu estou sem forças pra me levantar e sem condições pra desviar. Minha cabeça trabalha rapidamente pensando em como eu poderia sair dessa situação, mas não tem jeito. Ele é enorme, muito mais forte e mais rápido.

Eu começo a virar o rosto para me preparar.

Não.

Não vou desistir sem lutar.

Mesmo que que não aconteça nada de mais com ele, eu vou fazer qualquer coisa que não seja desistir. Eu posiciono minha mão perto do Sigilo novamente (parece que as marcas que eu deixei nele agora pouco já não estão mais lá), me preparando pra cravar minhas unhas assim que o soco me atingir. Eu não vou cair sem que ele sinta nada.

Aço Carmesim - As Paredes de Ferro NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora