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"Não há maior bênção do que uma mão familiar que te levanta de uma queda; mas não há nenhuma praga maior do que uma mão família que empurra quando você para baixo"
- Wes Fessler

Alfonso

Eu limpei o meu rifle umas quinze vezes, enquanto esperava o sol nascer. Eu não seria capaz de dormir até que isso acabasse. Todas as noites desde o colegial, eu acordava suando frio, e toda noite eu acreditava que era apenas um sonho até que eu via a tatuagem no meu braço. Isso não era nada especial ou fantasia. Era apenas o número 224. O armário que encontrei Christopher. Isso ficaria pra sempre gravado na minha pele e na minha mente. Toda noite eu lembrava do pequeno garoto com o cabelo castanho bagunçado e os óculos num armário. Ele estava quebrado. E eu estava momentaneamente congelado em estado de choque. Eu gritei por ajuda uma e outra vez, mesmo quando o treinador já estava lá tentando ajudá-lo. Eu apenas continuei gritando até que minha voz ficou não saia mais. Ele entrou em cena e fez o que eu tinha que ter feito. Naquele momento, eu percebi que eu era um idiota. Eu tinha ciúmes de Christopher.

Nosso pai tinha dado amor para ele desde o dia que ele nasceu. O sol e a lua giravam em torno de Christopher. Ele estava bem? Ele tomou suas pílulas? Até que ponto ele andou hoje? Quer ver o quão rápido ele leu esse livro? Você sabia que ele entende o seu dever de casa, Alfonso? Christopher aqui. Christopher ali. Sempre que eu precisava falar com o nosso pai, ele estava no quarto de Christopher. Sempre que eu precisava de ajuda, ele estava ocupado com Christopher. Sempre Christopher.

Eu estava com ciúmes. Ele perdeu o irmão gêmeo, quebrou o ombro, seus pés aleijados e os pequenos pulmões fracos, tudo dentro de horas depois que nasceu e eu estava com ciúmes dele. Não fazia mais sentido, mas naquela época com a cabeça de uma criança, isso é o que eu pensava. Sempre que nossa mãe o via, ela quebrava. Ela chorava e soluçava e então se fechava por meses. Eu culpava Christopher por isso. O que tornou pior foi que eu sinceramente me odiava. Eu me odiava por não proteger a nossa mãe. Eu era jovem, eu não podia fazer nada, mas isso não ajuda. Era apenas mais fácil culpar Christopher por tudo porque começou quando ele veio. Então, quando ele estava sendo intimidado, zoado, ou envergonhado, eu desviava o olhar. Eu sempre olhei para longe até o dia que eu o vi tremendo no armário, e então eu não consegui mais desviar o olhar.

Declan entrou, jogando uma cerveja.

— Esse plano é tão estúpido.

— É minha única chance, Declan — eu disse com um suspiro, limpando o cano mais uma vez. Eu não queria que a bala se alojasse.

— Tem que ter outro jeito. Isso vai se voltar contra você.

— Não tem outro jeito! Ele é meu irmão. Eu quero o meu irmão de volta, Declan. Vocês dois estão sempre juntos, você não tem ideia de como é. Eu quero poder sentar com ele, beber, brincar e rir como você faz. Eu quero ir a viagens de caça, em clubes de combate. Porra, eu quero ser parte da família novamente. Eu quero um lugar na maldita mesa, porque se eu não conseguir um em breve, Christopher vai me cortar permanentemente. Você sabe o que acontece com as pessoas que Christian corta fora? — eu disse, jogando a arma sobre a mesa quando eu respirei fundo.

— Poncho-

— Ou ele os mata ou ele os deixa morrer, familiares ou não familiares. A única coisa que o impede disso é a nossa mãe, e quanto mais tempo você acha que vai durar? Eu não posso deixar isso acontecer.

— Você está fazendo isso porque você tem medo de que ele descontará em você ou porque você realmente quer o amor dele — disse Declan, quando ele colocou sua cerveja na mesa e pegou a arma. — Ele tem sido um irmão ruim também. Você estragou tudo, mas você era jovem. Éramos todos jovens.

— Você não vê o que eu vejo à noite, Declan — eu respondi, pegando a arma dele. — Você não entende como eu me sinto enojado comigo mesmo quando eu acordo de manhã.

— Estou começando a fica assim também.

— Por que? porque você está desejando Dulce?

— Como voc-

— Porque todo homem com um pau funcionando está desejando ela. É difícil não fazer isso quando ela atira em pessoas em um vestido apertado, saltos e adora isso. Todos nós queremos isso de nossas mulheres, e Christopher conseguiu. Mas, eu tenho o suficiente de sangue ruim para me durar uma vida. A última coisa que eu preciso é Dulce adicionada à mistura.

— Você vai atirar no marido dela, ela já está adicionada à mistura.

Ele tinha um ponto.

— Sim, bom, eu preciso ir. — eu levantei a bala clara.

— O que é isso? — Declan agarrou um.

— Eu fiz para Christopher. Eles vão doer como um inferno e podem causar sangramento, mas não vai matá-lo. Eu peguei isso dos paintballs.

— Quando você for para o inferno, se lembre de dizer a Dulce que eu não tive nada haver com isso.

Isso não pode dar errado. Declan não entendia. Olivia não entendia. Ninguém entendia o que eu sentia. Qual a profundidade da culpa que eu sinto? Meu pai tinha me dito repetidamente que a família era tudo. Que vivia e morreria para a família, mas então Christopher aconteceu e eu juro que Lorenzo sabia o que eu tinha feito. Ele me olhou bem nos olhos e esperou que eu confessasse, mas eu não conseguia falar. Durante os últimos 12 anos eu não consegui falar. Qual é a graça de ser forte por fora quando você é fraco por dentro?

Era por isso que eu precisava fazer isso. Não apenas por Christopher, mas por mim... Para Olivia. Então, eu finalmente poderia ser o homem que ela precisava. Ela queria ter filhos, mas ela não era o problema. Eu era. Aparentemente, o meu próprio corpo tinha começado a me trair. Os médicos chamaram isso de "estresse" era à maneira do meu corpo me dizer que eu não estava pronto para ser pai.

Suspirando, eu deixei cair a minha cabeça contra o meu rifle.

Caminhando em direção a minha janela, eu esperei. Eu iria esperar o dia todo se eu tivesse que fazer. Até que ele saiu das árvores.

— Me perdoe — eu sussurrei quando puxei o gatilho.

Ruthless People - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora