C de Correspondência

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Sinopse: Ace manda uma correspondência para seu namorado morto, o que ele não esperava era receber uma resposta .

"Meu amado Marco,

Por onde deveria começar esta carta? Ainda não sei muito bem como fazê-la, você sabe que nunca fui tão bom com as palavras como você.

Faz três anos que você se foi e ainda sinto tanto a sua falta, sua ausência me corrói, sinto como se ainda faltasse uma parte de mim tão grande que nunca será preenchida novamente.

Disseram-me que cada pessoa tem seu período de luto, mas o meu não parece ter um fim, nunca superarei o dia em que você partiu.

Nunca superarei o dia em que te vi entre as madeiras do caixão, o som da terra batendo contra a tampa, as flores que levei em seu leito final.

Quando você se foi tudo perdeu o sentido, perdeu a cor, o mundo se tornou tão cinza e sem graça como era antes de você chegar em minha vida.

Nunca superarei nossas juras de amor que foram soterradas junto a você, muito menos os dias e as horas que passamos juntos desfrutando de nossas companhias, mesmo que não fizessemos nada além de deitar na cama e conversar bobagens por horas e horas a fio.

Por que teve que me deixar tão abruptamente? Por que teve que partir? Você me prometera que viveriamos para sempre juntos e felizes, nos amando cada vez mais.

Nunca superarei nossos planos de uma vida de casal, o filho que adotariamos, a casa que teriamos, o futuro belo e colorido que tanto ansiamos juntos, iriamos construir tantas coisas.

Mas você se foi em uma ruptura dolorosa e repentina, levando consigo parte de minha alma aflita. Cavei ao lado de sua cova minha própria sepultura para que meu espírito descanse ao seu lado quando o peso de viver sem você for grande demais para suportar em vida.

Se eu soubesse que aquele dia seria o fim de nosso futuro, teria insistido mais para que você ficasse, teria dito o quanto te amo e o quanto você me é precioso, teria assistido mil vezes o seu filme favorito, mesmo que eu o deteste e o ache sem graça, teria colocado aquela música horrível que você tanto gostava de escutar, aquele ritmo melancólico ao qual me tirava para dançar, teria lhe contado mais piadas só para ouvir sua risada que tanto me alegra.

Agora nessa solidão fria não a escuto mais, faz tanto tempo que não a ouço que é difícil retomá-la em minha memória. Sua imagem em minha mente é uma neblina difusa, talvez pelas lágrimas que derramo todas as noites por sua ausência ou talvez pelo poder que nossa mente tem de esquecer aos poucos o que nos é doloroso até não sobrar mais nada.

Mas eu não quero te esquecer. Tento me agarrar as memórias que ainda tenho de você, revivê-las em minha mente, mantê-las vivas dentro de mim, como se dessa forma ainda pudesse te sentir vivo entre meus braços.

Escrevo essa carta para lhe dizer que sinto saudades e numa vã tentativa de colocar um ponto final em meu luto.

Sei que essa carta nunca chegará a você, afinal, mortos não lêem, mas espero que meus sentimentos possam te alcançar onde quer que você esteja.

Com todo amor e devoção,
Para sempre seu Ace."

Os dedos finos e trêmulos fecharam o envelope, selando por fim a carta, suas orbes tristes e desoladas passaram pelo nome e endereço do destinatário, os quais jamais esqueceria, pois estavam gravados em sua alma e em seu coração.

Uma lágrima teimosa escorreu pelas bochechas avermelhadas de tanto chorar, caindo contra o papel e borrando o nome alheio, um soluço dolorido deixou sua garganta e suas mãos esfregaram suas pálpebras inchadas pelo choro.

- Eu ainda te amo tanto - murmurou o moreno em um tom dolorido e quebrado, sentindo seu coração partido e desolado martelar ruidosamente dentro de seu peito a cada palavra - nunca vou deixar de te amar.

A carta por fim fora enviada, levando consigo cada palavra de amor e dor, de solidão e luto, para um destino ao qual nunca chegaria.

[...]

Poucos dias depois a carta retornou como era de se esperar, mas além dela havia outra, assim como a que Ace escrevera estava selada, sem nenhum sinal de que alguém a abrira para ler seu conteúdo.

Na segunda carta o sardento sentiu suas mãos tremularem ao ler seu nome naquela caligrafia tão simples e bonita que tanto conhecia, o A de seu nome manchado assim como o M borrado em sua própria correspondência.

Com cuidado abriu o envelope, tirando o papel dobrado dali, o desdobrando e lendo as palavras que quase saltavam em direção aos seus olhos úmidos pelas lágrimas quentes e sentidas.

"Meu querido e amado Ace,

Perdoe-me por deixá-lo tão breve, nunca fora minha intenção partir e te deixar só, mas há coisas na vida que são irrefreáveis e inevitáveis, a morte é uma delas.

Também te amo de todo o meu coração e nunca deixarei de te amar um segundo sequer. Quero que saiba que cada batida de meu coração foi para você, vivi todos os dias só para um dia te encontrar e te fazer a pessoa mais feliz do mundo.

Sinto muito que não pude lhe dar a felicidade eterna que tanto jurei, mas espero que todos os momentos bons que passamos lhe mantenha alegre ao se lembrar deles.

Penso em você em cada instante, sinto saudades a cada segundo que passo longe de você. Sei que é doloroso a hora da despedida, contudo, é a hora mais necessária.

Escrevo para que saiba que ainda te amo e que para sempre irei te amar, todavia, essa é uma carta de despedida, não quero mais lhe fazer chorar.

Sinta-se livre para me esquecer e seguir a diante, para se permitir amar novamente e recolorir sua vida com outro alguém, não quero ser a causa de seu sofrimento e dor, não quero ser aquele a lhe podar sua liberdade.

Quero que viva com toda a intensidade, que volte a iluminar a vida daqueles ao seu redor como você fazia com a minha, siga para o seu futuro feliz, você o merece mais do que qualquer um.

Por favor, não se prenda ao passado e as memórias tristes, permita-as partir e renascer em total alegria.

Eu te juro, Ace, os dias ao seu lado foram os melhores da minha vida e não me arrependo de nenhum.

Espero que essa carta possa ser o ponto final que tanto procura.

Com amor,
Para sempre seu Marco."

Marace - alphabet projectOnde histórias criam vida. Descubra agora