O Trovão

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"Mas os tigres vêm a noite,
Com suas vozes suaves como trovão,
Enquanto eles despedaçam sua esperança
Enquanto eles tornam seus sonhos em vergonha"
(I Dreamed a Dream – Os Miseráveis: O Musical)

Seher guardou a rosa na gaveta, não falaria com seu irmão Firat sobre o ocorrido, poderia ser algo mais simples do que imagina. Primeiramente ia conversar com o Nedim para olhar as câmeras com a equipe de segurança. Quando obtivesse as imagens, entregaria ao irmão. Pensava isso enquanto descia as escadas. Adalet terminava de colocar a mochila nas costas de Yusuf.

Estava tão dispersa com aquelas dúvidas que rondavam a sua mente, que só percebeu que estava atrasada, quando Cenger entrou no seu quarto e perguntou se ia tomar café ainda, oferecendo como alternativa o motorista levar Yusuf para a escola. Mas Seher sempre fazia questão de levar o garoto, preferiu comer algo no escritório.

Seus pensamentos estavam longe, ela tentando formular teorias, porque Ele não poderia ser, estava morto, aquilo era uma brincadeira de péssimo gosto, que causava um frio na espinha. Será que tinham descoberto que ela havia atirado?

Mas tudo havia sido acobertado, um escanda-lo como aquele a colocaria em uma posição delicada diante dos parceiros de negócio da família. Se ela era capaz de matar o marido, imagina eles. Então tudo foi feito para preservar Seher e mantê-la bem para cuidar de Yusuf e Ziya.

O menino se despediu com um beijo e ela seguiu rumo ao escritório. Assim que se sentou na mesa que um dia pertenceu a Ele, que agora era sua, solicitou a vinda de Nedim até a sua sala, mas o homem estava resolvendo assuntos externos, então deu ordens de que a procurasse o mais rápido possível.

Sendo assim, partiu para a sua rotina, analisando documentos, projetos e contratos. A sala estava do jeito que seu dono havia deixado, ela preferiu assim em sinal de respeito ao fundador da empresa e passar uma mensagem aos parceiros de negócio que nada mudou.

Um pequeno alvoroço chamou sua atenção, assim que ergueu o rosto, viu a morena, infelizmente, bastante familiar invadir a sua sala. Parou diante da sua mesa com aquela postura arrogante.

- Ora...Ora...Bem que eu suspeitei que sempre quisesse herdar tudo, mas jamais imaginei que quisesse essa cadeira.

- Eu cuido dela. – Seher falou de forma breve, fazendo com que o segurança e a secretaria saíssem da sala. – O que você quer, Zuhal?

A morena lentamente sentou-se na cadeira diante da mesa da jovem, com movimentos bem cuidados, quase teatral.

- Vim fazer uma visita a uma velha amiga. – Falou com a voz carregada de ironia.

- Visita. – Seher falou em tom de divertimento.

- Sabe, Seher. Eu sempre imaginei que fosse capaz de tudo para conseguir herdar a fortuna da família. Mas matar Yaman Kırımlı para comandar o império, é um pouco demais. Não acha?

- Você não sabe o que está dizendo. – A moça tenta manter-se calma, não caindo na provocação da morena.

- Eu sei...Acredite...Eu tenho fontes ótimas. Um presente especial da minha irmã. – Ela fez uma pausa bem performática, dando continuidade ao seu pequeno teatro. – Você uniu o útil ao agradável, fez justiça, matou o ASSASSINO – enfatizou bem a palavra – da sua POBRE irmã e ainda herdou uma grande fortuna...Depois ainda dizem que a justiça não compensa. – Complementou com um sorriso zombeteiro e venenoso.

Seher se mantem calada, encarando Zuhal, só esperando para ver até onde a cobra iria, esperando o bote.

- Você sabia que eu odeio minha irmã até hoje por ela ter me colocado na cadeia? Ela me deixou sozinha pagar por aquele maldito dossiê. Só eu sei o que passei naquele lugar imundo. Então quando eu vejo uma irmã que ainda pode desejar do fundo do coração vingar a sua irmã por amor, eu invejo. Porque a minha, eu só quero destrui-la.

- Por isso tenho pena de você. – A Sra. Kırımlı fala com a sua conhecida doçura e piedade.

- Por isso eu também a odeio...Essa bondade excessiva...Argh!...Isso me dá...Nojo. Sempre tão correta, tão justa, - a palavra justa escorre como zombaria no discurso de Zuhal - se sacrificando em nome da família, por todos que ama. Então vai ser muito bom destruir vocês duas, as duas pessoas que mais sinto raiva, em uma única cartada. Se bem que em você vai doer bem mais que na minha irmã. Já que ela está morta demais para ver seu nome na lama, mas você está bem viva para carregar a dor de não poder fazer justiça. – Um sorriso perigoso surgiu no rosto da mulher, como veneno. – E a culpa por matar o homem que ama, um pobre inocente.

Zuhal colocou a caixinha de presente sobre a mesa com uma satisfação imensa no rosto.

- Espero que desfrute do presente, Seher querida.

Ela se levanta, tendo uma Seher sem reação a encarando, joga então um beijo no ar e sai da sala com aquele ar vitorioso que causa um frio na espinha. A Jovem pegou a caixa de forma vacilante, retirou a tampa, e ali, em meio a seda vermelha, repousava um pen drive, cravejado de pedras, bem exagerado como Zuhal pretendia, quase uma joia.

Rapidamente Seher levou ao computador, as mãos trêmulas, fizeram toda a operação, logo o áudio que continha no pen drive, encheu a sala, a voz de Ikbal preencheu todo o ambiente de forma furiosa:

- Eu sou Ikbal Kırımlı! Fiz tudo para não ser esquecida! Sai da lama e me tornei a dona de uma casa grande! Já engoli todos os medos que você têm agora! Eu alimentei as cobras dentro de mim com eles! Eu os desintoxiquei com as mãos nuas! Eu cuspi tudo isso! Quem entrou no meu caminho, eu os envenenei lentamente! Você entende?...Eu trouxe Yaman Kırımlı até o topo. Eu sou o coração daquela Mansão! Enterrei Kevser... – Seher leva as mãos cobrindo a boca, os olhos ficando enormes e cheios d'água - ...então sua pequena patife...e aquela camponesa Seher! Sou invencível! Eu não morro!

Silêncio enche a sala, Seher olhava chocada para a tela do computador, tremendo, com fúria incontida. Processando cada palavra.

- Como conseguiu isso? – A voz de Nedim cortou o silêncio como uma faca.

- Zuhal. – A voz fraca de Seher falou com dificuldade.

- Como? – A voz dele era de pura surpresa.

Ela retirou o pen drive do computador, como se estivesse contaminado por uma peste ou queimando em suas mãos, entregou para Nedim. Ainda em choque, deixando claro que tinha escutado boa parte do áudio.

- Vou verificar se isso é verdadeiro. – Fala Nedim determinado.

- Firat. – A voz dela parecia um fiapo.

- Sim, enviarei uma cópia agora mesmo para ele. Vá para casa, não se preocupe. Cuidarei de tudo.

Seher levantou-se, diante do olhar preocupado de Nedim, pegou a bolsa e caminhou no piloto automático para fora da sala. Ela estava andando na borda do precipício que se tornou a sua vida, a sua mente, balançando entre a sanidade e o desespero. Ela focava apenas na voz de Ikbal, de novo e de novo. Temia abrir a porta que aquele fato colocava diante dela, sabia que ao atravessar aquela porta....Força...Precisava chegar em casa. Precisava estar segura para abrir aquela porta.

Ele.

Se pensar agora.

Desmorona.

Não era seguro.

Não ali.

Os trovões ressoam ao longe anunciando a tempestade.

***

NOTA DA AUTORA:

Tudo que posso dizer a essa altura: Apertem os cintos!

#Partiu #Escrever #Capitulo9

Eu criei uma playlist com músicas que me inspiraram e estão me inspirando a escrever os capítulos, parte da letra ou a letra toda da música me trás ideias para colocar no papel. Ao longo dessa história mais músicas vão entrando, assim você pode acompanhando essa viagem comigo no Spotify, tem a playlist Herança - #Emanet #Fanfic - Original Soundtrack.

https://open.spotify.com/playlist/6l8JouqD3IiikTJ0fSSNzU?si=e09b2048d32c48eb

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