Voltando pra Casa

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Yaman conduzia o carro com a confiança de sempre, volta e meia arriscava um olhar de relance para Seher, que também aproveitava quando ele não estava olhando para olhá-lo também. Mesmo com o passar do tempo, as reviravoltas, certas coisas não mudavam e os olhares furtivos eram uma delas. Para ela ainda era muito estranho tê-lo ali, novamente. Por isso não resistia olha-lo.

***

- Tem certeza do que está fazendo, Seher? – Firat me pergunta olhando para mim com preocupação. – É muita coisa acontecendo, você acabou de descobrir tanta coisa, tem certeza de que não precisa organizar isso dentro de você?

- Firat, se for um problema para você, eu entendo. Mas para mim já está totalmente decidido. Assim que terminar o café da manhã, eu vou resolver isso. – Seher fala determinada, tomando seu café da manhã calmamente, seu apetite tinha até voltado.

- Não. Não tenho problema algum. Ao contrário, eu tenho que ser grato por tudo que ele fez por você e pelo Yusuf. Afinal, o homem levou um tiro para não arriscar o irmão e manter você e o Yusuf em segurança. Ao contrário, eu quem tenho que pedir desculpas a ele. – O rapaz fala um pouco sem jeito.

- Eu o conheço, ele sabe por que você agiu daquela forma, ele certamente já se colocou em seu lugar e já o perdoou. Se ele foi capaz perdoar a mim. – Ela suspira.

- Mas você ainda não se perdoou. – Aponta preocupado.

- Por isso vou trazê-lo de volta para essa casa, que no final das contas também é dele. O Yusuf precisa ficar com o tio e é uma forma de fazer as pazes comigo mesma. E tenho que ir. – Falou se levantando da mesa. - Segundo o Nedim, ele está chegando do mar em breve. Já deixei isso passar tempo demais. Ontem organizei tudo com a Senhora Adalet, está tudo pronto para recebê-lo.

***

Seher olhou para o homem e então deu uma risadinha ao lembrar de um fato e então perguntou para ele bem curiosa:

- Por que os pescadores chamavam você de Yalçin?

- Foi o nome que dei para eles enquanto estive no mar. – O homem falou como se apontasse o óbvio.

- E por que estavam comentando que estavam certos...Certos sobre o que? – Continuou tentando satisfazer a curiosidade.

- Ficaram imaginando o fato de ter cortado o cabelo e a barba. – Ele respondeu totalmente sem jeito.

- Eu não entendo. – Responde ela confusa.

- Digamos que desde aquele dia...Você entende...Eu não me cuidei muito, então fiquei com as barbas e cabelos bem grandes. Mas eu tomei o cuidado de voltar a ser o que era para encontrá-la...Digo, par encontrar você e o Yusuf...Então eles disseram que eu mudei por causa de uma mulher. – Yaman focou no trânsito com uma atenção acima do normal.

- Entendo. – Ela responde. Mas sua compreensão ia além do que ele podia imaginar.

***

Enquanto o homem tomava banho, ela olhava as coisas a sua volta, as poucas roupas penduradas em um cabide que fazia as vezes de um guarda-roupa improvisado. O único luxo que encontrou foi um perfume importado, reconheceu como sendo da mesma marca que sempre viu na bancada do banheiro que dividiam. Mas a julgar pela quantidade, havia sido comprado a pouquíssimo tempo, mal havia sido usado. Talvez tenha a mesma idade da roupa com a qual ele havia aparecido no aniversário de Yusuf.

Viu os títulos de alguns livros na estante. Para quem não lia antes de conhecê-la, ele acabou se tornando um leitor voraz. Certamente encontrou nos livros sua companhia. Assim como ela. Que por sua vez aos poucos estava passando o mesmo prazer da leitura para Yusuf.

Quando ele saiu do banheiro, usava as roupas simples e velhas. Olhou para ela sem jeito:

- Acho que vamos ter que comprar roupas novas.

- Percebi isso também. Faremos isso no caminho para casa. – Ela fala com um sorrisinho.

- Mas...

- Tenho uma surpresa preparada e acredito que suas roupas não combinam com a ocasião. – Ela fala determinada, não deixando espaço para qualquer debate.

***

Agora ela admirava o trabalho que havia feito. Na verdade, sua colaboração foi relativamente discreta, só deu opinião quando ele perguntava, mas pode perceber uma mudança no jeito dele de vestir. Havia escolhido menos peças formais e mais peças informais, também separado mais peças em tons claros. Sempre que vestia algo, olhava para ela em busca de aprovação. Então de forma tímida e com poucos gestos, ela foi ajudando Yaman a montar seu novo guarda-roupa.

Isso deu a confiança necessária que eles precisavam para o que iam fazer agora.

Ele estacionou o carro com habilidade, logo os dois saíram do veículo, Yaman estendeu a mão e Seher aceitou prontamente segurando a mão do marido. Então de mão dadas ficaram em pé e não precisaram esperar muito. Logo as crianças começaram a sair da escola cheia de empolgação, felizes pelo reencontro com os pais.

Até que Yusuf surgiu no portão, os viu juntos ali, abriu um sorriso que não parecia caber no pequeno rostinho, correu na direção deles. O tio se abaixou e ele se jogou nos braços com toda a sua empolgação infantil. Era um sonho realizado vê-los ali. As outras crianças sempre tinham seus papais e mamães para buscá-los. Mas agora ele também tinha.

Yaman ficou de pé, pegou a mochila do menino em uma mão e com a outra segurou a mãozinha dele, Seher pegou a outra mão livre do garoto. E ele saiu andando de peito estufado, com um sorriso enorme, olhando de um para a outro enquanto iam em direção ao carro.

- Tio, o Senhor não vai mais embora?

- Não, não vou pequeno Pasha! – O tio responde divertido com a empolgação do menino.

- Vai ficar morando comigo e a minha tia como era antes? – Ele continua a perguntar todo empolgado.

Yaman olha para Seher, na dúvida sobre como responder, pois, alguns detalhes sobre como essa configuração se daria, ainda não havia sido debatido, e logo ela vem em seu socorro:

- Sim, querido da tia! – Fala Seher enquanto abria a porta do carro para o pequeno.

- Eba! – O menino comemora enquanto praticamente se joga para dentro do veículo.

Logo todos estavam acomodados no carro, rumo ao novo lar deles, na verdade o novo lar de Yaman.

***

Assim que o carro parou, Yusuf desceu do carro e já correu para dentro da casa com toda a sua empolgação. Ele irradiava felicidade e aquilo reconfortava o coração dos tios. Só a alegria do menino já fazia tudo valer muito a pena.

Ambos desceram do carro, Yaman parou e ficou olhando para a entrada da casa nova, tentando absorver aquela novidade. Porque nunca nos seus sonhos mais loucos, quando vinha na calada da noite vê-la dormir, imaginou que moraria ali. Estava conformado com a sua situação, com o espaço que tinha para ocupar na vida dela.

Mas agora estava ali, pronto para ver sua vida mudar novamente. Ela segurou a mão do homem e olhou com confiança, ele com respondeu com um olhar de gratidão. Ambos começaram a andar em direção a casa. Em direção a sua nova vida.

***

NOTA DA AUTORA:

Sei que está virando rotina. Mas desculpa a demora com esse capítulo, mas a vida corrida, a renite, tornava meio difícil escrever. Como pensar com a cabeça latejando?

Eu recebi todo o carinho de vocês, o desejo por mais capítulos, os recados. Fico grata pela paciência. Sou leitora também e sei como ficamos curiosas por um novo capítulo.

Mas a renite tira e a renite dá. Hoje não consegui dormir por causa dela o que resultou em mais um capítulo escrito.

Lembra da música que falei no último capítulo para vocês. Aquela que imaginei toda para o capítulo anterior, pois bem, ela veio para esse que é uma continuação do capítulo anterior.

Agradeço pelo apoio e carinho, calma que logo vem mais!

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 17, 2021 ⏰

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