Justiça

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"Eu estarei lá assim que eu puder
Mas estou ocupado
Consertando
Pedaços da vida que eu tinha antes"
(Unintended – Muse)

Seher estava parada diante do espelho da bancada do banheiro, olhando nos próprios olhos, reunindo toda a força e coragem que precisava naquele momento. Precisava fazer isso pelo seu sobrinho, precisava fazer isso por Yusuf. Ela era a única coisa que lhe restou. Os dias que se passaram, ajudaram a lidar com sua culpa, ela pode viver o luto, questionar a si mesma sobre o fato de Yaman não ter contado a verdade, de não ter confiado no seu poder de julgamento.

Mas ao olhar para trás, ao longo das madrugadas e dias que ela atravessou remoendo tudo que soube, o entendeu. Ela foi capaz de matá-lo. Imagina do que seria capaz se suspeitasse de Ziya como ele acreditava, como toda a situação o havia empurrado a acreditar.

Respirou mais uma vez, arrumou o rabo de cavalo, pegou o véu preto o levando na mão e se aventurou para fora do quarto pela primeira vez em dias. Caminhou calmamente até a sala de jantar. Pelo adiantado da hora, todos já deveriam estar lá. Se bem que devido ao horário, Yusuf deveria estar na escola.

Ao se aproximar da mesa, recebeu um olhar surpreso acompanhado da expressão de alívio do irmão. Um sorriso despontou dos seus lábios, assim como de Neslihan e Adalet. A mais jovem ia se levantar da mesa, mas Seher falou calmamente.

- Pode ficar, não se preocupe. – Sorriu amável para a moça.

- Ficamos felizes em vê-la assim. – Adalet falou empolgada. – Vou pegar chá para você.

Era visível que algum assunto havia sido interrompido com a chegada dela. Era sobre algo que aconteceu na delegacia.

- Como está, irmã? – Firat perguntou preocupado.

- Estou bem e você? – Perguntou enquanto servia-se, ia tentar comer algo. Precisava.

- Estou bem. – O rapaz segurou a mão da moça que estava sentada ao seu lado. – Neslihan tem ajudado bastante.

Seher percebeu a intenção do comentário e logo respondeu.

- Fico feliz por isso, que bom. – Ela deu sua anuência. Então resolveu tocar no assunto que mais a incomodava naquele momento, não adiantaria ficar negando ou fugindo. – Como tem estado as investigações?

- Eu estava falando sobre isso com Neslihan e a Senhora Adalet. – Firat se mexeu desconfortável em sua própria cadeira, chamando a atenção de Seher. – Algo muito estranho está acontecendo, a alguns dias, denuncias anônimas levam a polícia a certos lugares da cidade, quando chegam lá, encontram sempre um homem ferido com uma pasta, nessa pasta sempre estão evidências e provas de crimes realizados por ele anteriormente e o mais estranho de tudo... – O homem respira fundo, como se escolhesse a melhor forma de contar aquilo.

- Firat? – Seher olhava para ele, dando toda atenção e sendo consumida pela curiosidade.

- É que eles de alguma forma tinham uma ligação com a Ikbal. Segundo tudo que conseguimos reunir com essas pastas, ela era ligada com vários negócios ilícitos. Podemos dizer que ela era uma verdadeira mafiosa.

***

O corpo do homem cai no chão, ele não estava morto, apenas desacordado. Yaman sabia disso, porque fazia o suficiente para apagar a sua "vítima" e então deixá-la no local da entrega.

Pegou o homem pela perna e o saiu arrastando para próximo do carro preto, o rosto do comparsa de sua falecida inimiga estava irreconhecível devido a força da surra que havia levado. O rosto de Yaman, por sua vez, estava todo respingado de sangue e o cabelo grande, mais desgrenhado ainda.

Carregou o homem jogando no porta-malas, Nedim parou ao seu lado, falando calmamente:

- Ainda faltam uns 7, se o próximo já não estiver pronto para "conversar" com você. – O companheiro daquela maratona em busca de justiça deixa bem claro as aspas presentes em sua colocação através do tom de voz.

- Procure tudo que ele disse, coloque na pasta e entregue mais esse. O que seu pessoal disse?

- Estão recebendo todos eles, um por um. Já estão ligando os pontos. – Um ruído de mensagem chega no celular do braço direito de Yaman – Já estão com mais um.

- Então vamos. – Yaman fecha o porta-malas com um baque e anda até o lado do passageiro, enquanto Nedim assume a posição de motorista.

Enquanto o carro cortava as ruas de Istambul, Kırımlı olhava sua mão, estava com os nós estourados de tanto que havia batido em seus inimigos nos últimos dias, ele cuidava, mas apenas para socar mais alguém no outro dia. Nedim já tinha desistido de falar sobre o estado que a mão do homem estava ficando, por justamente não adiantar. Yaman tinha se transformado em uma máquina de vingança.

***

Seher olhou para o rapaz chocada com aquela informação.

- Quem pode estar entregando tudo isso? – A moça pergunta confusa.

- Seher...Se eu não tivesse visto...Eu poderia jurar que era Ele. Mas com toda certeza não deve ser. Então diante do que a irmã dela, a Zuhal disse para você, talvez seja uma obra dela para expor a irmã.

- Mas isso não tem lógica, se ela expuser a irmã, ela perde o poder, se tudo isso for investigado, ela perderá dinheiro também. – Falou Seher pensativa. Até que pegou o celular e fez uma ligação. – Alô Senhor Nedim!

***

- Senhora Seher, em que posso ajudá-la? – Falou com a voz solicita, enquanto Yaman olhava a paisagem além da janela, se entregando ao calor provocado pela voz dela que enchia o carro vinda do viva voz.

- Gostaria de saber se tem alguma novidade sobre as investigações que pedi para fazer? – Perguntou educadamente, na forma calma de sempre. Aquele era um sinal claro de que ela havia saído do quarto, o que fez Yaman sorrir, ela estava lutando.

Nedim sempre dava um jeito de ligar para a mansão para obter informações, e o fato dela estar trancada no quarto, deixava o esposo preocupado, pelo menos ela se esforçou para comer, mas o estado dela não era nada bom. Até que felizmente ela resolveu reagir.

- Eu estou investigando ainda. – Nedim tentou dizer o mais próximo do que estava fazendo.

- Eu vou resolver algumas coisas, não devo demorar muito, quando voltar para casa, quero encontrá-lo, quero saber o andamento com mais detalhes. – Ela informa, sendo um pouco mais firme desta vez, deixando bem claro que não havia brecha para negociações.

- Sim, Senhora. Até mais. – Ele fala calmamente.

- Até mais. – Ela desliga o telefone.

- Veja com nosso homem da equipe de segurança para onde ela vai, eu vou para lá e você vai reunir aquele dossiê que fizemos para que leve na reunião. – Yaman fala determinado.

- Mas, Yaman, e o homem que... – Nedim tenta argumentar.

- Ele espera mais um pouco. - Yaman o interrompe. - Você precisa mostrar que está fazendo a sua parte e eu preciso vê-la. Já faz dias que não a vejo. Preciso saber como ela está, seu estado de espírito.

- Tudo bem. Que assim seja! – Nedim entrega os pontos, ele sabia melhor do que ninguém que não adiantaria discutir.

***

NOTA DA AUTORA:

Estivemos fora do ar por causa de problemas técnicos. Voltamos agora com a nossa programação normal.

E o carrinho da Montanha Russa está subindo de novo. *Risada maléfica*

Eu criei uma playlist com músicas que me inspiraram e estão me inspirando a escrever os capítulos, parte da letra ou a letra toda da música me trás ideias para colocar no papel. Ao longo dessa história mais músicas vão entrando, assim você pode acompanhando essa viagem comigo no Spotify, tem a playlist Herança - #Emanet #Fanfic - Original Soundtrack.

https://open.spotify.com/playlist/6l8JouqD3IiikTJ0fSSNzU?si=e09b2048d32c48eb

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