A luz de toda a casa se apagou, a morena olhou em volta assustada, os clarões, fruto dos relâmpagos que enchiam o céu lá fora, eram a única fonte de iluminação. Ela foi dando passos para longe das grandes janelas, assustada com a tempestade.
Até que esbarrou em uma massa humana, uma pessoa que estava em pé atrás dela. A taça de vinho caiu no chão, espalhando todo o líquido rubro no tapete branco, manchando como sangue.
A voz gutural tomou seu ouvido, trazendo um arrepio até a alma:
- Zuhal!
Ela se virou, encarando a figura alta e sombria, olhos arregalados.
- Não pode ser. – A voz dela era tomada pela descrença.
Mãos firmes seguraram seus braços, deixando claro que era real, não mais uma alucinação da sua mente. E o clarão de um novo raio iluminou a figura, era Yaman, mesmo com a aparência maltratada, o cabelo maior e barba espessa, ela podia reconhecer aquele olhar, aqueles traços. Pânico tomou seu ser.
- Achou que poderia fazer o que fez com a esposa de Yaman Kırımlı e escapar impune.
Um estrondo tomou conta da sala, ele havia arremessado uma mesa de canto ao longe, depois a mesa de centro, avançando como um furacão de ódio na direção dela. Até que esbarrou em duas pessoas que seguraram o braço dela.
- Vamos. – Yaman falou enquanto dava meia volta.
Ele avançava enquanto ela era arrastada atrás dele, se debatendo, tentando se livrar das mãos que a seguravam, mas logo levaram um pano no rosto dela e ela apagou.
***
Os pulsos estavam presos, por correntes, deixando seus braços para o alto, olhava em volta e a única fonte de iluminação naquele momento, era a luz que entrava por uma janela, iluminando apenas ela no que parecia ser um grande deposito. Quando ela estava começando a racionalizar, começando a lembrar do que aconteceu, o pânico tomou seu corpo, água fria em uma torrente, caiu do alto, era forte, em grande quantidade, quase a afogando, ela tossia, lutava por ar, a roupa enxarcada, frio, muito frio.
- Temos muitas contas para acertar. – A voz fria de Yaman tomou todo o ambiente - Os planos da sua irmã que você ajudou.
O estrondo de um baque de metal contra metal encheu o ambiente, fazendo ela dar um salto de medo.
- Meu sobrinho. Como pode ajudar a sua irmã a fazer mal ao meu sobrinho. – Outro baque. – Ele foi parar em um orfanato por sua causa. – Mais um baque.
Cada vez parecia mais próximo, então o ruído de uma cadeira sendo arrastada, Zuhal já não sabia se o tremor do seu corpo era de frio ou medo.
- Eu juro...
Outro estrondo metálico, muito, muito próximo.
- NÃO PROMETA NADA. – Ele urrou como uma fera no ouvido dela, a plenos pulmões. – Detetives acharam as provas.
Cadeira sendo arrastada de novo, até que para, então alguém se senta, um ponto de luz se acende, iluminando só Yaman, apenas ele, uma luz que vinha de cima, em uma luminária posicionada bem em cima dele, como em uma sala se interrogatório, dando contornos de um anjo da morte para o homem.
- Comece a confessar seus crimes, eu tenho todo o tempo do mundo para torturar você. Sua cobra!
- Eu não sei nada, eu não fiz nada.
- NÃO MINTA! CONTE! – Urra de forma selvagem, gutural, então fala mais baixo, de forma perigosa e macia. – Ou vai ser bem pior.
Ele aperta o botão do controle e água cai novamente sobre o corpo da mulher, uma torrente, que a fazia tossir com a água engolida de surpresa.
- Eu conto...Eu conto tudo. – Zuhal se apressa em dizer, quando pensou que Yaman ia apertar o maldito botão novamente. – Tudo começou quando Kevser morreu...
Assim Zuhal contou cada passo, cada plano da irmã, e Yaman tentando controlar o gênio, para não matar aquela mulher, já que Ikbal não podia mais sofrer o peso da sua ira. O cômico é que a morena não sabia o que estava ou não no relatório entregue pelo detetive, julgando os contatos de Yaman, ela pensava que ele soubesse tudo, então ela acabou contando coisas que ele nem fazia ideia, o que deixava tudo mais interessante.
- Você mandou sequestrar sua própria irmã e assim conseguiu aquela declaração, aquela gravação para chantageá-la?
- Eu precisava ter um trunfo para ela me tirar daquele inferno. – Zuhal tentou defender sua atitude.
- E acabou conseguindo o que queria e mesmo assim se vingou dela. – Yaman levantou o pen drive, balançando no ar.
- Mas juro, juro que tudo que aconteceu foi um acidente. – Ela se apressou em dizer.
- Acidente? – Ele olhou confuso.
Percebendo o que havia feito, Zuhal baixou a cabeça. Yaman percebendo que havia algo ali, apertou o botão. Água desceu novamente sobre a mulher.
- Acho que seria melhor contar. – Yaman falou entredentes.
- Ela se desequilibrou.
E o que o homem jamais poderia imaginar, foi narrado para ele, narrado de tal forma, com tamanha riqueza de detalhes, que ele era capaz de ver toda a cena se desenrolando diante dos seus olhos, virando o rosto quando o corpo de Ikbal se chocou contra o chão.
- Irônico, ela morreu da mesma forma que matou a Kevser.
O homem estava chocado, ela era pior do que ele poderia imaginar.
- Nedim. – A voz de Yaman ecoou pelo galpão.
Logo ele se encheu de luz, ferindo os olhos da mulher, que os fechou. O homem se aproximou a passos seguros de Yaman.
- Agora você decide se quer ser entregue para a polícia viva ou morta... – O homem blefou. – Me entregue os nomes de todos os comparsas da sua irmã e garanta a sua vida.
- Yaman... – falou Zuhal em pânico.
- Você decide. – Ele falou com uma frieza assustadora.
Ao se levantar, a cadeira caiu com um baque que encheu o ambiente. Ele se aproximou do fiel escudeiro e falou baixinho para ela não ouvir.
- Pegue todos os nomes. Já quero começar a caçar hoje.
O homem caminha até a saída do galpão de forma decidida. Assim que passou pelo limiar da porta, o homem mais velho olhou para ele preocupado, até com um pouco de repulsa.
- Você sabe que não concordo com nada disso.
- Você a ouviu baba Arif. Ela é um monstro, assim como era a irmã.
- Só tome cuidado para não virar um monstro como ela.
Arif se afastou com a expressão de poucos amigos. Yaman tinha trazido o homem para ouvir aquele longo relato, porque certamente não teria coragem de repetir tudo que ouviu ali, nunca mais na vida teria coragem de contar todas as monstruosidades que ouviu, e tudo aconteceu como ele desconfiou que poderia ter acontecido, os áudios, tudo que o detetive investigou, parecia ser muito pouco perto de tamanha ambição. No final das contas, o homem achava triste ter estado certo sobre o fato do buraco ser mais fundo, mesmo assim, se assustou com a profundidade dele.
***
NOTA DA AUTORA:
Como esse capítulo foi muito tenso, o Yaman me surtou de ontem pra hoje. Acho que hoje vai ser só esse capítulo mesmo.
Eu criei uma playlist com músicas que me inspiraram e estão me inspirando a escrever os capítulos, parte da letra ou a letra toda da música me trás ideias para colocar no papel. Ao longo dessa história mais músicas vão entrando, assim você pode acompanhando essa viagem comigo no Spotify, tem a playlist Herança - #Emanet #Fanfic - Original Soundtrack.
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Herança
FanfictionUm ato pode mudar toda uma história, gerar novos rumos. Uma bala pode abrir um universo de possibilidades. Uma decisão pode abrir as portas para uma nova vida.