A Razão

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As pessoas foram indo embora, se despedindo educadamente, o primeiro foi o Nedim que seguiu para a delegacia com o objetivo de acompanhar pessoalmente todo o desenrolar da investigação. Em seguida Baba Arif, que conversou um tempo a sós com Seher antes de ir embora. E por último Cenger, que não deixou de oferecer um chá antes de sair.

Até ficarem apenas os dois, Seher estava em pé, próximo de sofá, onde Arif havia a deixado, enquanto Yaman se encontrava em pé no mesmo lugar, na entrada da sala. A olhava atentamente, com uma expressão em branco, mas seu olhar era carregado de um velho sentimento que ele sentia profundamente por ela.

- Eu nem sei por onde começar. – Ela quebra o silêncio.

- Parece que você não realizou meu último pedido. – Ele comenta com a voz seca, mas com aquele fundo de tristeza. Os olhos ficando escuros e desapontados.

- Como queria que eu não me culpasse? – Ela estala para ele.

- Porque eu a coloquei naquela situação. – O homem responde com uma calma irritante.

- Sim...Você me colocou naquela situação..., mas não era para ter cedido, não era da minha natureza fazer o que fiz. – A moça fala cheia de raiva.

- Só que eu a levei até aquele ponto. A culpa era minha, só minha. Eu precisava ganhar tempo, fazer o tempo e torcer que a verdade aparecesse caso não estivesse aqui para mostrar. – Argumenta.

- Você tem ideia tudo que tive que lidar dentro de mim por causa da sua mentira? – Seher dispara. – Como me senti enganada em pensar que a pessoa que tanto confiei, me deixou ir por esse caminho mesmo sabendo que tinha feito algo tão cruel contra a minha irmã?

- Acredite. Doeu mais em mim, assistir seu sofrimento sabendo que eu o estava provocando. Me torturava por dentro, mas estava disposto a fazer isso em nome de um bem maior.

- Por que não confiou em mim? Por que não me contou a verdade?

- Para que matasse meu irmão?

- Sabe que não atiraria no Senhor Ziya! – Seher se defende.

- Mas o jogaria em uma Instituição, o que é a mesma coisa! Meu irmão morreria em um lugar como aquele. Você teve uma pequena amostra durante estes meses, que fiquei longe, o estado que ele ficou, imagina ele em uma instituição. Longe de Yusuf, de mim, de todos. Ele se jogou por uma janela, ele tentou se matar, ele ainda estava sob efeito das drogas que aquela cobra administrou, imagina como ficaria em uma instituição.

Seher se calou, considerando o que ele disse.

- Doeu em mim, doeu muito fazer tudo que fiz, não foi fácil. Principalmente quando pensei que estava morrendo e nunca mais a veria.

- Imagina como eu fiquei, ao ficar de luto por um homem que eu não deveria ficar, porque ele foi responsável pela morte da minha irmã, ou melhor, eu acreditava que era, mas eu me importava o suficiente com ele para sofrer por sua ausência, até que descobri que ele era inocente, mas não podia sofrer pelo luto, não era justo, já que eu tinha causado aquilo. Entende o peso de tudo isso?

- Seher, me desculpa.

O fato dele falar o nome dela, a fez olhar surpresa para ele. E não tinha apenas o nome ali, mas o pedido de desculpas, que era algo muito significativo vindo daquele homem, que no passado confessara a importância que um pedido de desculpas pode ter. Ela sabia o quanto dizer aquilo valia para ele.

- Eu sei que errei. Mas não espere que me arrependa. Faria tudo de novo para proteger tudo que eu amo. Incluindo você. - Ele foi caminhando em direção a ela, que estava completamente sem fala. – Por você, por Yusuf, pelo meu irmão, pela minha família, sou capaz de matar, mas principalmente, acima de tudo, sou capaz de morrer.

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