Capítulo 17

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Jordana Testa

Eduardo nos levou para o seu carro, me colocou para dentro e estava tão nervoso e eufórico que eu não consegui reagir. E jamais iria. Imagine eu, a convidada da filha do homem causar um mal estar na festa dele, envolvendo seu filho mais velho?

Ele deu a volta no carro e entrou também. Veio, colocou o cinto de segurança em mim, mas não teve a decência de dizer nada. Fiquei o encarando a espera, não iria me derreter por ele e dizer que entendia seus traumas ou sei lá o que, que iria adorar ser usada por ele até ele decidir me descartar, já que um relacionamento decente nunca esteve nos seus planos.

— Podemos conversar em meu apartamento? — ele perguntou, parecia cansado, a respiração estava acelerada. Olhei para mim, presa no carro dele que já estava em movimento, como se ele tivesse me dado alguma escolha.

— Me desculpa. Eu não deveria ter agido feito um louco — ele falava, dirigia rápido e estava focado nisso, olhava para frente — mas aquele cara... Ele não merece alguém como você.

— E você merece? — eu perguntei, ficando irritada.

— Eu te garanto que ele é muito pior do que eu — ele falou convicto. Fechei os olhos por um momento e neguei com a cabeça.

— Eu não quero ir conversar com você! — falei mais alto e com força. Ele diminuiu a velocidade do carro e olhou para mim rapidamente.

— Eu só queria... Eu só quero me explicar, me desculpar e...

— Eduardo, não tem o que explicar! — eu falei incisiva — você não pode, não consegue e nem quer ter algo mais comigo. E nem com ninguém, pelo que diz por aí. E tudo bem, sério. Eu não posso obrigar você a se abrir, se deixar levar e pelo menos não deixar escancarado que é só isso, que em algum momento vamos parar! E você também não pode — enfatizei — me obrigar a querer ser mais uma que você come, não é o que você diz por aí? Que me come e apenas isso?

— Eu não quis dizer nada disso... As pessoas ficaram me pressionando e...

— E você resolveu me rebaixar pra validar seu desapego! — meu tom se elevou tanto que cheguei a gritar, mas me recompus e respirei fundo. Corri as mãos no rosto e suspirei outra vez — você já deu o seu showzinho, já acabou com a minha noite, agora, por favor, me leva pra casa.

Ele tencionou o maxilar e me olhou irritado, tanto que os olhos pareciam avermelhados refletindo a sua raiva. Eu queria continuar nossa briga, mas para que? Não mudaria nada. Ele seguiu para o meu endereço, ficamos em silêncio até lá. O olhei por um momento, antes de descer. Ele deveria ser muito louco, mesmo, para estar aí lutando contra o que queria. Não estava sendo presunçosa ou convencida, mas eu sabia que estávamos nos apegando, ele poderia deixar levar e ver até onde iria. Não precisava prometer nada para mim, não precisava de ilusões ou mentiras. Mas ele preferia vetar, desfazer e me humilhar. Dizer por aí que apenas me comia era insultante. Ultrajante e nojento.

Antes que eu descesse do carro, ele me segurou pelo braço e foi chegando mais perto, mas desviei o rosto e me afastei. Não era me seduzindo que ele iria me fazer mudar de ideia. Era um beijo perfeito, o sexo delicioso, tudo com ele era incrível, mas eu deveria pensar no que ele fazia e dizia quando estava sem mim. Ele poderia sentir, e eu acreditava que estava pelo menos apegado como eu, mas jamais iria dar o braço a torcer e consertar a nossa história.

Nos encaramos por um momento e eu neguei com a cabeça. Desci do carro e corri para entrar.

Ao entrar em casa, mamãe estava na sala com um balde de pipoca e via um filme. Estranhou que eu já estivesse em casa tão cedo, já que ultimamente eu nem costumava voltar. Avisei que nem deveria ter ido, não deveria mesmo. Mas aceitei para que? Para ver Eduardo, porque obviamente, eu sabia que ele estaria lá? Suspirei, sufocada com essa agonia. Nos meus planos, quando eu quisesse voltar a me relacionar, tudo seria um mar de rosas. Mas me deparei logo com esse cara cheio de confusões.

Mari enviou uma mensagem perguntando se estava tudo bem, contou que todo mundo ficou comentando sobre a cena em que eu fui sequestrada pelo filho do anfitrião. Me senti envergonhada, mas eu poderia fazer o que? Eduardo achava que poderia fazer tudo que quisesse.

"Sr. Danilo se irritou muito. Logo depois Fred e a ex-esposa brigaram, ela ficou rodeando ele e soltando piadas sobre mim."

"Sinto muito, amiga" — eu respondi.

"Ele disse que Eduardo e Fred sempre foram problemáticos, sempre..." — ela continuou digitando:

"O Theo pediu seu número... Posso passar?"

"Pode. E, por favor, não deixa o Fred ficar contando tudo ao Eduardo. Cansada de confusões."

"Fred é muito fofoqueiro, não consigo controlá-lo. A mãe dele disse que ele sempre foi assim, na casa deles, ele é conhecido como Maria-fifi." — comecei a rir incrédula.

Fui tirar a roupa, a maquiagem, tomei um banho e fui deitar. Como estava sem sono, procurei algum livro no Kindle para ler e assim fiz, até conseguir dormir.

Na manhã seguinte, acordei e logo vi a mensagem do Teo, irmão do noivo da Chiara. Eu não queria dor de cabeça com homens nem tão cedo, mas ele parecia descomplicado, não iria me arrancar um pedaço ser ao menos educada. Embora eu não esperasse que depois do show de ontem, ele se mantivesse a fim.

Me troquei e fui tomar café com minha mãe, depois segui com ela para o restaurante. Eu não trabalhava aos sábados, na verdade, era o meu dia de folga, mas como estava sem nada para fazer, decidi ir, para me ocupar um pouco.

Para meu completo azar, Fred e Edu decidiram almoçar no estabelecimento de vovó Márcia. Como estava cheio, eu fui pegar os pedidos deles dois. Fred me lançou um olhar culpado e apertou os lábios, Eduardo era mesmo um louco sem noção.

Entrei para almoçar na cozinha do restaurante e fugir dos dois lá fora, mas quando acabei, para acabar de piorar tudo, Teo e seu irmão estavam aqui também. E Eduardo já havia dito que detestava o cunhado, por que estavam na mesma mesa?

Contei para Mari o que estava acontecendo e ela enviava emojis rindo.

"Fred já me pediu socorro aqui, do jeito que Edu anda doido, capaz de querer brigar..."

"Sério, eu devo ter jogado pedra na cruz" — respondi. Queria ficar escondida na cozinha até que eles fossem embora, mas vovó logo me chamou para ajudar. Fiquei no caixa, me recusei a sair dali. Teo quem tomou a liberdade de vir até mim, ficou puxando conversa enquanto o prato dele não chegava. Eu conseguia notar o olhar de Edu em nós dois, o que era bizarro. Eu era o que para ele? O brinquedo que ele iria querer brincar até decidir não querer mais brincar e ainda assim, me deixar guardada para ser dele e apenas dele? Eu não iria fazer mais esforços para entendê-lo. Ele tinha algo a oferecer do jeito que eu não queria.

Gabriel o chamou e ele voltou para a mesa. Dessa vez, Eduardo veio pagar a conta aqui, mas Fred o alcançou e tomou a frente. Ele me deu um sorriso nervoso e ele mesmo pagou a conta dos dois. Eduardo tentou vir até mim outra vez, mas o Fred não deixou, acenou para mim e o empurrou para fora.

Quando o movimento diminuiu, vovó me deixou ir embora. E pela tarde, Chiara quem me convidou para um programa de casais. Não estava animada, mas não havia motivos para não ir.


Doce Tentação - volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora