Capítulo 26

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Eduardo Toledo

Fred voltou à rotina de trabalho, mas andava amargurado. Incorporou uma versão de mim, uma versão mais suave, mas ainda assim era desastroso.

— Quando eu estava amargurado desse jeito, você me incentivou a procurar Jordana... Nos resolver. Por que não faz o mesmo? — perguntei, mas ele tinha um olhar vago, apoiando o rosto na mão. Joguei uma bolinha de papel amassado dele, que sacudiu a cabeça, como se despertasse.

— O que?

— Você assim sofrendo... Não acha melhor tentar se acertar com a Marina?

— O que ela fez não tem perdão — ele resmungou — e não quero falar disso. Não vou morrer de desgosto, não.

— Certo, Fred — eu falei, não querendo forçá-lo.

Focamos no trabalho durante todo o dia. Não deixei nada trabalhoso para ele, para não correr o risco de acontecer algum erro. Desse modo, pela tarde, o mandei para casa. O homem estava derrotado. Seja lá o que tenha sido, só poderia ser algo grave.

Pensei que houvesse traição, que ela tivesse outro, mas nada do que eu pudesse ter imaginado se aproximava da realidade.

Encontrei Jordana à noite. Ela desceu junto com a avó e as duas pareciam estar discutindo. Minha garota entrou no carro e eu me aproximei para beijá-la.

— Deus, vovó ainda não te supera — ela falou indignada.

— Estavam brigando?

— Não... Não é pra tanto. Estávamos discordando — ela falou, me fazendo sorrir. Liguei o carro e fomos para meu apartamento. Lá, pedimos comida japonesa, a deixei escolhendo enquanto fui para o banho.

Quando desci, abri um vinho para nós dois e servi nas taças. Ficamos agarrados no tapete da sala, bebendo um vinho bom e conversando. Ela adorava saber sobre o meu dia na empresa, por isso, sempre que dava, eu a incentivava a voltar para a faculdade.

— Estive com a Mari hoje — ela comentou, colocando a taça sobre a mesa de centro e se virou para mim.

— Descobriu o motivo do término? — perguntei, bebendo um pouco mais do vinho e coloquei minha taça ao lado da dela. Jordana assentiu, suspirando.

— Fred não contou nada?

— Não. Não quer falar sobre. Disse apenas que não vai morrer de desgosto.

— Ela também está sofrendo. Se ele fosse um pouco mais maleável, teria entendido os motivos dela.

— E o que houve? — perguntei — não sei se você sabe, mas eu sou primo carnal de Fred. O sangue fofoqueiro corre nas minhas veias — tentei brincar, mas ela parecia séria. Jordana deu um sorriso doce e acariciou meu rosto.

— Começou com uma desconfiança de gravidez e terminou em um aborto — a informação veio como uma bomba, eu sequer soube o que dizer. Pisquei algumas vezes, tentando absorver o que havia descoberto, mas não conseguia elaborar uma frase coerente sequer.

— Como ele descobriu?

— Ele pegou um exame na bolsa dela — ela contou, devolvendo a taça para a mesa de centro — sim, ele bisbilhotou. E logo depois encontrou o segundo exame, o negativo — ela contou cautelosa, mas eu estava embasbacado. Consegui me colocar no lugar de Fred, mas eu teria ficado frustrado ou aliviado?

— Por que ela abortou? Como ela fez isso? Ele teria apoiado, você sabe disso? Ela sabia disso?

— Ela tem uma péssima relação familiar, sofre muito com os pais, sabe? Não iria querer um filho não planejado, estando desempregada e com um namoro tão recente, de um cara que ainda sofre pressão da ex. Na verdade, Mari nunca foi inclinada a querer filhos.

— Deus, ele está devastado...

— Está agindo como se ela tivesse matado o filho deles — Jordana resmungou — ela está sofrendo, é um baque muito grande, eu acho, passar por isso. E ela não teve apoio de ninguém. Só do primo médico que fez uma receita, pra ela conseguir comprar os medicamentos.

— Coitada... — sussurrei, completamente sem reação.

— Eu espero que ela fique bem logo. Nunca a vi tão mal... — ela suspirou e negou com a cabeça — disse que não me contou, senão eu jamais teria permitido que ela fizesse.

— Ela se arrependeu?

— Não sei, Edu. Ela provavelmente deve pensar no e se não tivesse feito, né? Já que agora Fred demonstra que teria querido. Mas ela está nova, tem a vida toda pela frente pra tentar de novo.

— É. — falei, não sabendo como reagir.

Fiquei angustiado com as descobertas, mas logo tratei de nos tirar desse assunto. Fiquei com a frase dela impregnada, dizendo que jamais teria permitido a amiga abortar. Ela jamais faria um aborto, deveríamos tomar mais cuidado.

A comida chegou e eu fui pegar. Jordana serviu mais vinho para nós dois e jantamos. Tentamos não focar sobre Fred e Marina, era de se abalar, mas já estava feito, os dois teriam que encontrar um jeito de superar. Eu e Jordana terminamos o jantar e fomos procurar um filme para ver. Não opinei na escolha, não tinha a menor intenção de realmente ver o filme.


Doce Tentação - volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora